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MUNDO

Trump é derrotado nas eleições dos EUA

Não ao Golpe! Trump não pode roubar a eleição!

Nenhuma ilusão no governo Biden / Harris. Seguir e aprofundar a luta anti-imperialista e contra as opressões nos EUA e em todo o mundo

Marcio Musse, de Londres, Reino Unido
Foto do Trump, com um cortina. Ele usa terno e gravata. Ao lado, o título e o subtítulo deste texto

Hoje é um dia de festa em todo o mundo. Não apenas nos EUA, mas em todo o planeta, trabalhadores, jovens, negros, mulheres, imigrantes, defensores do meio ambiente, explorados e oprimidos festejam a derrota do famigerado Donald Trump, em sua tentativa de buscar a reeleição na maior potência imperialista do globo. O governo Trump, além de aplicar uma política de perseguição e ódio a trabalhadores e minorias oprimidas dentro dos EUA, é o principal expoente dessa agenda imperialista de extrema-direita em escala global.

A derrota de Trump não surge do acaso. Não se deve apenas à aglutinação de parte importante do establishment imperialista estadunidense para buscar uma nova forma de intervir na ordem mundial e disputar terreno com a China. É principalmente fruto das mobilizações de massas no país, que tiveram seu ápice no levante antirracista iniciado na metade de 2020, mas também de lutas das mulheres, das LGBTQI+, da juventude, de trabalhadores da educação e outras categorias, imigrantes, da mobilização social em torno a uma agenda anti austeridade materializada na campanha de Bernie Sanders – dentre outras. Isso possibilitou algo que não é comum naquele país: um presidente perder a disputa de reeleição, tendo apenas um mandato. Comemoremos a derrota de Trump!

Trump quer virar a mesa

Mas, coerente com sua cartilha antidemocrática e autoritária, Trump dá claros sinais que não aceitará a derrota nas urnas. Como já vinha ameaçando desde semanas antes do pleito, não reconhece sua derrota e acusa o processo de inúmeras fraudes e irregularidades, sem apresentar qualquer evidência para tal. Trump aponta como irregularidades e “fraudes” os votos que chegam pelo correio, que tiveram uma quantidade maior que nas eleições anteriores devido à pandemia de Covid, e foram majoritariamente para o candidato Democrata – o que não se sustenta legal ou tecnicamente. Incentiva grupos de direita e milícias supremacistas a gerar conflitos e ameaças nas ruas. Pretende levar o processo a uma judicialização interminável para que, com o caos nas ruas e sua maioria na Suprema Corte, virar a mesa e continuar no cargo por mais quatro anos mesmo tendo perdido a eleição.

O establishment estadunidense, em especial o Partido Democrata, já mostraram que não oferecem qualquer garantia de impedir que isso aconteça se a situação chegar a um limite. Trump sabe disso, o que faz com que possa de fato estar disposto a, por mais absurdo e injustificável que pareça, levar esse golpe até o fim. A mobilização dos trabalhadores e jovens, negros e mulheres, oprimidos e explorados dos EUA (e em todo o mundo) é fundamental e pode ser o fiel da balança para impedir que Trump roube as eleições.

Nenhuma ilusão em Biden, é preciso continuar e multiplicar as lutas sociais e anti-imperialistas nos EUA e no mundo

Se comemoramos a derrota de Trump por um lado, não temos razão para depositar qualquer ilusão ou confiança no governo de Joe Biden e Kamala Harris. Biden representa a linha central do imperialismo norte-americano, e pretende reunificar e realinhar a grande burguesia ocidental para aplicar seu projeto econômico pós-pandemia e enfrentar o crescimento da China. Ou seja, mesmo sem o discurso ultrarreacionário, machista e supremacista de Trump, fazer os trabalhadores e os povos pagarem a conta da grave crise econômica, e mais tensões geopolíticas contra Pequim.

O governo Biden vai tentar fazer, com um discurso e estética diferentes, o que Trump não conseguiu. Desmontar os processos de lutas que se acumulam em várias partes do mundo, lutas democráticas, ambientais, antirracistas, feministas – e que tem grande potencial de se transformarem em lutas anticapitalistas. Derrotar governos não diretamente alinhados com a política ditada por Washington, como a Venezuela, Irã e, mais recentemente, a Bolívia. Canalizar as lutas pelo clima e medidas de proteção do meio ambiente, como o New Deal Verde – que mesmo limitado e não endereçando várias necessidades importantes já aponta alguns avanços – para pequenos ajustes que não ameacem as taxas de lucros das principais multinacionais, e que não resolverão sequer parcialmente este problema.

Os ativistas e as organizações de esquerda têm de ter claro que o governo Biden precisará ser combatido, e somente a unidade internacional de todas essas lutas – democráticas, de imigrantes, antirracistas, ambientais, feministas, LGBTQI+, dos trabalhadores e da juventude – pode cumprir essa tarefa. 

É hora de celebrar, mas também, e principalmente, usarmos esse impulso para fortalecer as lutas que estão por vir.