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O que a extrema-direita vai fazer depois das eleições nos EUA?

Wikipedia/Wiki Commons

Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

A derrota de Donald Trump no voto popular é incontestável. Mesmo sem carisma, Joe Biden foi o candidato mais votado da história dos EUA em função da rejeição ao atual presidente. Resta a Trump tentar ganhar no que aqui chamamos de “tapetão”: o bizarro sistema do Colégio Eleitoral, manobras jurídicas, entre outras coisas. Nunca o Brasil prestou tanta atenção em uma eleição estrangeira. Isto acontece porque ela afeta os ânimos por aqui. O clima político em nosso país vai mudar, em especial entre os militantes de direita e de esquerda.

O que pode acontecer por lá?

Se engana quem pensa que a direita militante vai moderar o discurso para reverter a perda de popularidade. Não é assim que ela funciona. É princípio do neofascismo jamais reconhecer derrotas. A sensação permanente de superioridade e de ser infalível é um dos principais motivadores do militante neofascista. Essa excitação eufórica é um dos fatores que faz o militante acreditar nas teorias da conspiração e no discurso supremacista. O neofascista atua politicamente como se estivesse sob o efeito de cocaína.

A narrativa da extrema-direita será de que Trump ganhou politicamente e moralmente, teve a maioria dos votos e se perder o cargo será um sacrifício em nome dos Estados Unidos. Um verdadeiro patriota. E este discurso pode fazer com que a extrema-direita se radicalize ainda mais. Afinal, se os “comunistas” são capazes de fraudar as eleições no EUA, isso confirma a teoria de que eles têm uma rede diabólica de controle do Poder. Vale tudo contra os “comunistas”. Tudo.

Um sinal disso é a ascensão do grupo QAnon, que tem como plataforma uma teoria conspiratória que afirma sem provas a existência uma elite satânica e pedófila com planos de dominação mundial. Parece ridículo, mas muita gente nos Estados Unidos acredita nisso. Inclusive os apoiadores do QAnon elegeram uma deputada para a Câmara dos Representantes dos EUA nestas eleições. Este pode ser o tom de como a extrema-direita de lá pode tentar sobreviver.

Ainda não dá para cravar o que vai acontecer com a direita trumpista caso a derrota do atual presidente seja confirmada. É improvável que desapareça. Mas é quase certo que ela diminua em números. E é bem possível que ela se radicalize, se arme e parta para um jogo cada vez mais sujo. Se Donald Trump decidir encerrar sua carreira política e passar o resto de seus dias jogando golfe na Flórida, a direção desta extrema-direita pode cair nas mãos de gente bem maluca.

E no Brasil?

Os bolsonaristas aqui no Brasil têm um vínculo muito estreito com os trumpistas nos Estados Unidos. Qualquer mudança na extrema-direita de lá vai se refletir na extrema-direita daqui.

Talvez o aumento dos delírios conspiratórios faça a militância bolsonarista se reduzir em números. Alguns apoiadores do presidente do Brasil ainda não são tão fanatizados e conseguem ter vínculo com a realidade. Além disso, a capacidade da direita militante em dialogar com o conjunto da população tende a diminuir. Mas se eles perderem em quantidade, vão ganhar em “qualidade”.

É possível que a pregação da violência seja mais frequente. Nosso cuidado com a possibilidade de ataques físicos deve ser redobrado. Eles são mais perigosos quando não têm paciência de discutir com a maioria da população. Quando sentem que estão perdendo poder. Esse neofascismo sem amarras pode querer chamar atenção e voltar para o centro do debate político de todas as formas. O terrorismo pode ser uma delas.

Temos que prestar muita atenção na possibilidade de radicalização desse campo político. Por um lado muita gente que dava ouvidos a eles pode perceber os absurdos e passar a prestar atenção no que diz a esquerda. Por outro lado, o núcleo radicalizado do bolsonarismo pode se sentir estimulado a aumentar o tom da agressividade. Fiquemos atentos. Nossas vidas estão literalmente em jogo.