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Especiais

Leia o programa da Bancada Feminista de SP para uma Cidade Educadora

Reprodução / Facebook

Inspiradas nas lutas e nos grandes debates em torno da educação que marcaram a história do país e da cidade de São Paulo, propomos aqui a concepção de Cidade Educadora, categoria utilizada pelos movimentos de educação para pensar que o momento educativo não ocorre apenas nos limites dos muros da escola, mas em todos os âmbitos do cotidiano vivido e percebido nos bairros, comunidades e na cidade.

Para nós, o olhar dos territórios como pedagógicos coloca um grande desafio: passar a produzir experiências educativas em lugares que, frequentemente, são violentos e excludentes. Considerar que todos os cantos da cidade podem nos educar coletivamente não significa diminuir o enorme peso do espaço escolar, que, nessa concepção, se torna o elemento de mobilização dos outros espaços, onde podem ser criadas propostas, vivências e encontros que se ampliem.

Inspiradas em Paulo Freire, um dos maiores pensadores e militantes da pedagogia do mundo, tendo sido secretário municipal de educação no governo de Luiza Erundina (1989-1992), defendemos uma política de educação libertadora, realizada como ato ético e político orientado pelos interesses dos explorados e oprimidos, transformando a relação dialética entre educandos e educadores, e identificando, a partir do que a vida na escola expressa, quais são os problemas e dilemas sociais cotidianos a serem superados.

A pedagogia libertadora freireana também consiste em combater uma visão colonizadora sobre o processo educativo, trazendo à tona as referências históricas e culturais populares, que apontem perspectiva futura para emancipação coletiva das trabalhadoras e dos trabalhadores em toda a sua diversidade, valorizando justamente o passado de resistências dos profissionais da educação e de suas organizações sindicais, assim como as capacidades operadas na luta pela sobrevivência que nos fizeram chegar até aqui.

A educação pública é um aspecto fundamental da reprodução social da classe trabalhadora – seja pelo fato de ser meio de consumo coletivo de massas (único, junto com o SUS, universalizado, mesmo que precariamente), seja por ser fonte de assalariamento de centenas de milhares de trabalhadores. Foi expressão das maiores ondas de mobilização nos últimos cinco anos na cidade de São Paulo: a ocupação das escolas pelos secundaristas em 2015-2016; as greves dos professores estaduais e municipais – que desaguaram no maior 8M da cidade em anos em 2017, aquecendo assim a greve geral nacional contra a reforma da previdência e trabalhista em abril daquele ano -; a luta contra a reforma da previdência municipal (Sampaprev) no ano passado, entre outros processos.

As escolas representam o emprego de mais de cem mil profissionais e abarcam cerca de 960 mil alunos, entre a educação infantil e básica. A greve do Sampaprev exemplifica que é possível criar experiências comuns de mobilização entre as famílias que precisam da rede municipal para o acolhimento e suporte de seus bebês, crianças, jovens e adultos, e as e os profissionais que trabalham nas escolas. Este é o tipo de solidariedade de classe que a escola possibilita, considerando seu papel nos bairros, comunidades, famílias e sua representação importante na força de trabalho na cidade.

A pandemia de covid-19 escancara como esse serviço essencial torna-se palco também de laboratórios do governo do PSDB, em conjunto com as instituições empresariais que o sustentam. O modelo de ensino à distância, por exemplo, repercutiu como mais uma carga na exploração do trabalho de professoras – ampla maioria da categoria de educadores -, que, em âmbito doméstico, passaram a trabalhar numa jornada maior, entre preparação e realização de aulas, reuniões, atendimento aos alunos etc., sobrepostos às tarefas de manutenção doméstica e familiar.

Também apontou a exclusão digital, sobretudo da desigualdade no acesso à internet, como uma questão social contemporânea, agora associada ao direito à educação. A concessão privada a empresas e fundos bilionários estrangeiros para a gestão da conexão das redes e a insuficiência da política municipal de criação de espaços com wi-fi gratuito são parte importante do problema.

Por fim, não esquecemos da batalha atual da categoria de profissionais da educação, tendo os sindicatos da categoria à frente, para que as aulas presenciais não retornem sem que haja uma vacina distribuída efetivamente para a população. Em todos os exemplos concretos no Brasil e em outros países onde as escolas foram reabertas, a contaminação por covid-19 aumentou significativamente, obrigando os governos a voltar atrás da abertura.

A previsão de aumento das contaminações e mortes pelo vírus como parte da contabilidade apresentada pela gestão Covas na proposta de reabertura nada mais é do que expressão da necropolítica de Estado, que quer impor à população da cidade uma forma de vida que lide banalmente com a morte dos negros, pobres, trabalhadores e moradores de periferias.

A recusa do espaço escolar como espaço de exclusão, violência e morte ganha mais sentido do que nunca. Para subvertermos a lógica de desvalorização social das vidas negras e periféricas, é urgente atentar para as potências das escolas, os processos de luta, as experiências de solidariedade comunitária e entre categorias de trabalho que são possíveis no ambiente escolar, assim como a capacidade já demonstrada de uma geração de jovens que afirmam sua identidade através da cultura e rebelam-se contra um espaço público repressor e vazio de futuro, dentro e fora dos muros da escola.

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