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Todos os homens do presidente: Guedes

Marcos Correa / PR

(Brasilia – DF, 29/08/2019) Palavras do Ministro de Estado da Economia, Paulo Roberto Nunes Guedes. Foto: Marcos Correa/PR ((Brasilia – DF, 29/08/2019) Palavras do Ministro de Estado da Economia, Paulo Roberto Nunes Guedes. Foto: Marcos Correa/P

Carlos Zacarias

Carlos Zacarias é doutor em História e pesquisador do Centro de Estudos e Pesquisas em Humanidades (CRH) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde leciona desde 2010. Entre 1994 e 2010 foi professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), onde dirigiu a Associação Docente (ADUNEB) entre 2000 e 2002 e entre 2007 e 2009. Colunista do jornal A Tarde de Salvador, para o qual escreve artigos desde 2006, escreve às quintas-feiras, quinzenalmente, sobre temas de história e política para o Esquerda OnLine. É autor de Os impasses da estratégia: os comunistas, o antifascismo e a revolução burguesa no Brasil (1936-1948) (São Paulo, Annablume, 2009) e no ano passado publicou De tédio não morreremos: escritos pela esquerda (Salvador, Quarteto, 2016) e ainda organizou Capítulos de história dos comunistas no Brasil (Salvador, Edufba, 2016). É membro da Secretaria de Redação da Revista Outubro e do Conselho Editorial das revistas Crítica Marxista, História & Luta de Classes, Germinal, entre outras.

“O fiador” foi o título que a jornalista Malu Gaspar deu ao perfil que traçou do economista Paulo Guedes para a Revista Piauí em 2018. Bolsonaro iniciava sua escalada até a presidência, mas todos sabiam que seria difícil obter sucesso sem que tivesse um avalista junto às classes dominantes. E foi assim que Paulo Guedes, um conhecido homem de mercado, com passagem pelo Chile de Pinochet, surgiu na vida do deputado e ex-capitão do exército conhecido por sua retórica histriônica de agitador fascista e quase nenhuma capacidade política.

Por ser capaz de dar resposta para quase tudo que o candidato Bolsonaro assumia abertamente ser ignorante, Guedes passou a ser chamado de “Posto Ipiranga”, jactando-se com a deferência do clã e imaginando que agiria com independência. Na altura da matéria na Piauí, por exemplo, Flávio escreveu que num eventual governo do seu pai, Paulo Guedes teria “total autonomia na sua área”. Foi do próprio “Posto Ipiranga”, contudo, que ofereceu a Malu Gaspar a melhor definição da relação que imaginava que travaria com o líder autoritário: “Eu poderia lavar as mãos, mas esse cara pode ganhar a eleição. (…) Porque nós estamos na bolha. Tem um troço acontecendo aos milhões aí fora. (…) Ah, mas ele xinga isso, xinga aquilo… Amansa o cara!”, e a repórter pergunta se é possível amansar Bolsonaro, ao que Guedes responde: “Acho que sim, já é outro animal.”

Nessa altura, não é difícil entender que já estamos diante de um outro animal. Mas o animal amansado não é Bolsonaro, que continua o mesmo demagogo e autoritário, mas o próprio Guedes. Foi este que foi domesticado e nem parece o arrogante economista que abriu as portas dos grandes salões para a figura tosca a quem hoje serve e para quem abana o rabo, não importando se Bolsonaro lhe afaga ou lhe dá safanões. O fato é que Guedes teme ser enxotado do governo e entrar para a história em notas de rodapé, como sucedeu com os responsáveis pelas economias da Itália e da Alemanha de Mussolini e Hitler, os igualmente liberais, Alberto de Stefani e Hjalmar Schacht.

Sobre o economista que serviu a Hitler nos anos 1930, o historiador Richard Evans escreveu “Schacht achou que o radicalismo de Hitler poderia ser domado com a associação do nazista a outras figuras mais conservadoras e mais experientes, como ele mesmo”. Impressionante como a história permite analogias!

Adolph Hitler e Hjalmar Schacht

Guedes não é apenas dispensável como economista, como o foram Stefani e Schacht, mas como fiador. Neste terreno, ninguém faz melhor trabalho do que Maia e Alcolumbre, responsáveis por parte da devastação dos direitos dos trabalhadores que eram aguardados pelos endinheirados que apoiaram a aventura bolsonarista. E enquanto Guedes tosta na frigideira dos sabujos que serviram de escada para o bolsonarismo, os brasileiros mal sabem se a carne fede mais por estar queimada ou podre.

*Artigo publicado originalmente no jornal A Tarde, de Salvador (BA).