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Especiais

Eduardo Paes entre a aparência e a essência

Igor Dantas, Rio de Janeiro (RJ)
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O Esquerda Online inicia hoje uma série de textos sobre as principais alternativas da burguesia para a prefeitura do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella e Eduardo Paes. Faremos uma análise mais aprofundada sobre suas candidaturas. Acompanharemos a campanha e suas propostas para educação, segurança pública, saúde entre outros. A ideia é desvendar as incoerências e os problemas desses projetos para os e as trabalhadoras do Rio. Nesse primeiro texto para iniciar a discussão vamos relembrar um pouco da história de Paes e como foi sua infame gestão.

Mas quem é, de fato, Eduardo Paes? Muito provavelmente haverá diferentes opiniões sobre a figura e o que foi seu governo. No entanto, com a péssima gestão Crivella e o aprofundamento da crise política, econômica e social, está em curso um apagamento dos problemas do governo Paes em uma tentativa de renovar sua imagem em ano de eleições.

Como o título sugere, nossa intenção é de, partindo de sua aparência simpática e preocupada com a cidade, chegar à essência do programa burguês que Paes pretende colocar em prática.

Seu período na prefeitura, de 2009 a 2016 foi marcado por uma inicial euforia com os grandes eventos como a Copa do mundo e as Olimpíadas. A questão é que mesmo antes de ocorrerem eles trouxeram mais problemas do que pontos positivos para a maioria da população, e o que era euforia se tornou desilusão.

É bem verdade que Paes não estava sozinho nessa. Era parte de um processo político bastante hegemônico,  que envolvia grande apoio de partidos e setores burgueses, estreita parceria com o governo do Estado de Sérgio Cabral e a nível federal contava com apoio dos governos do PT. Enquanto a economia ia bem e a esperança dos grandes eventos permitia um nível de popularidade razoável essa parceria era pouco questionada.

Para as classes dominantes foi um momento de glória. Alta especulação imobiliária, lucros gigantescos das empreiteiras e empresas de ônibus, turismo com alta demanda.

Enquanto isso na mesma cidade, por trás das perfumarias o que havia eram remoções, denúncias de corrupção e governos que colocavam o lucro acima de tudo. A classe trabalhadora era obrigada a conviver com uma educação pública sem grandes investimentos, um verdadeiro leilão da saúde com terceirizações e parcerias público-privadas e um projeto de segurança pública violento e ineficaz, que em nome de uma guerra às drogas perpetuava uma política de genocídio da população negra nas periferias e favelas.

Os supostos avanços econômicos após os grandes eventos se mostraram pouco duradouros, o que vemos na cidade foi um legado negativo, com avanços frágeis. Já os problemas se acumulam: Desemprego crescente, altas dívidas com a União e obras subutilizadas ou destruídas, que geram uma série de questionamentos e denúncias de irregularidades nas licitações de como o Maracanã e o VLT. Para 99% dos cariocas as promessas positivas de legado ficaram somente no discurso da TV. Todo o caos social que a crise econômica nacional, a gestão Crivella e a pandemia aprofundaram tem muitos elementos que se iniciam nesse período.

Não podemos esquecer de que também houve oposição e enfrentamento incansável ao governo Paes. A resistência ganhou grande fôlego com a primeira candidatura a prefeito de Marcelo Freixo pelo PSOL, que aglutinou uma boa parcela de cidadãos insatisfeitos com esse descaso, e se expandiu enormemente com o movimento de junho de 2013, que mesmo com suas complexidades e contradições, foi sem dúvida um basta na política de enterrar os problemas para debaixo do tapete. Até por isso a reação das forças policiais foi tão violenta e desproporcional. Relembrar esses processos pode nos inspirar e trazer boas lições para o combate dessas ideias.

Apenas alguns anos depois dessa gestão tão problemática, Paes decide se candidatar novamente, apelando para uma visão que enxerga que os problemas de hoje nada teriam a ver com sua passagem no governo. Ao mesmo tempo, apesar de não se colocar o candidato bolsonarista como faz Crivella, sabemos que suas posturas mostram que dificilmente ele será uma oposição consequente ao governo federal e ao neofascismo.

Portanto, é fundamental desmontar essa estratégia oportunista. Paes é um político experiente, com financiamento e apoio de grandes empresários e partidos da direita. Para construir um programa socialista para o Rio de Janeiro precisaremos superar esse projeto.