Terra!
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã.
Beto Guedes – O Sal da Terra
Trabalhadores do mundo uni-vos em defesa do clima !
A greve mundial pelo clima, que ocorreu no último dia 25 de setembro, se deu num momento de recessão da economia global, de crise sanitária mundial causada pelo coronavírus com quase um milhão de mortos, combinado com queimadas e problemas climáticos em vários pontos do planeta. “A degradação do clima não é algo que vai acontecer no futuro, é aqui e agora”, resume Kevin Mtai, jovem ativista climático do Quênia.
O movimento “Fridays For Future” (Sextas-feiras Pelo Futuro) nascido em 2018, ganhou o mundo. A jovem Greta Thunberg, precursora do movimento, começou solitariamente em frente o parlamento sueco contra a onda de calor e incêndios que ocorriam no seu país. O movimento se ampliou com as greves nas escolas pelo clima e depois se expandiu para outros países, tornando-se um dia mundial de greve pelo clima. Ainda em 2018, Greta interpelou políticos durante a 24ª. Conferência Mundial pelo clima da ONU, sobre a urgência de agir com políticas concretas contra o aquecimento global que vem aumentando aceleradamente e provocando enormes consequências para a humanidade como o aumento dos incêndios, secas, ciclones e inundações, trazendo também crises de fome, migração acelerada, etc.
O chamado à mobilização da estudante sueca foi seguido por jovens em mais de 40 países de todos os continentes, que escolheram a palavra GREVE em resposta a seguinte pergunta: “Por que estudar para construir um futuro que não existirá mais se ninguém faz nada para salvá-lo?” Em setembro de 2019, mais de 7 milhões de jovens se mobilizaram para defender o clima.
Este ano, com a pandemia da Covid-19, foi diferente e pelas restrições sanitárias, mais de 3.000 atividades ocorreram em todo o mundo. Foram caminhadas, debates nas escolas e numerosas lives na internet, sob a hashtag internacional #FightClimateInjustice. Manifestações foram registradas na Austrália, Japão, Bangladesh, Áustria, Filipinas, Portugal, Polônia e Alemanha. No coração de Nova York, no Union Square, um imenso relógio climático indica a contagem regressiva do tempo que resta para o mundo, (7 anos e 103 dias, segundo a foto) antes de esgotar completamente o orçamento de carbono à sua disposição para não ultrapassar 1,5 ° C. de aquecimento global, considerado pelos especialistas do clima como um ponto sem volta. Segundo Gan Golan, o artista e designer por trás deste projeto, “O relógio nos diz que devemos agir agora. Fazer uma transição fundamental em nosso sistema energético”.
A greve pelo clima já é um acontecimento mundial liderado pela jovem geração e deve ser abraçado e impulsionado em cada país, principalmente pela classe trabalhadora, de modo amplo e unitário, por que o futuro da humanidade está ameaçado pela avidez do lucro e a produção destrutiva do capital. É urgente juntar todas as forças vivas para exigir ações concretas contra a crescente emissão de gases a efeito estufa, resultante do uso das energias fósseis, e contra o desmatamento e a superexploração da natureza que juntos, provocam o aquecimento global.
O Brasil queima, sob o governo neofascista de Bolsonaro
Em uma entrevista coletiva, Greta Thunberg reconhecia e alertava que “Nem todos sofrem as mesmas consequências e a mídia ignora a devastação sofrida pelos países do Sul, que são afetados de forma desproporcional”. A crise ambiental se acelerou. Queimadas na Amazônia e Pantanal, na Indonésia e nos Estados Unidos são sinais de que a ação humana vem levando ao aumento das temperaturas médias do planeta.
O discurso mentiroso de Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU na terça (22.09), alegando que a maior parte das queimadas ocorridas na Amazônia acontecem em áreas já desmatadas, utilizadas por caboclos e índios, não passa de uma bravata. O caos, causado pelas queimadas à população de vários estados brasileiros, mostra o profundo absurdo que é afirmar que os incêndios no Pantanal são consequência das altas temperaturas e que no seu governo existe “tolerância zero” para crimes ambientais.
No Pantanal, houve aumento de 220% nos focos de calor em comparação com o ano passado. Segundo o biólogo Weverton Trindade, mestre em Biologia Evolutiva e doutorando em Ecologia e Conservação, as queimadas naturais não são as causas principais dessa intensa onda de fogo no Brasil. Ele afirma que “A maioria dos incêndios na Amazônia e no Pantanal é provocada por ação humana. Apenas 3 em cada mil raios que atingem vegetações resultam em incêndios. Esses eventos acontecem a cada 5 ou 10 anos e não todo ano, como vemos agora”. No Brasil, a Polícia Federal investiga fazendeiros que podem ter começado incêndios no Pantanal. Em entrevista à CNN Brasil, o delegado Daniel Rocha disse que quatro proprietários estão sendo investigados. Além disso, o delegado afirma que sua equipe analisa focos de incêndio de junho e julho que “não têm como não terem sido ocasionados por ação humana”. (1)
A proporção que tomaram as queimadas no Brasil trará consequências graves para os próximos anos. Entre janeiro e junho deste ano, de acordo com dados do Centro de Arquivo Ativo e Distribuído de Processos Terrestres (LP DAAC) da Nasa, 330 mil hectares do Pantanal foram queimados, quase o dobro da área afetada pelo fogo no primeiro semestre de 2019 e 30% mais que a soma de toda área queimada no mesmo período entre 2016 e 2019. (2) A ameaça evidente que o Brasil sofre hoje com as queimadas são a elevação da temperatura e a queima do combustível. A primeira é fatal para a própria vegetação e para animais que não conseguem fugir. A segunda transforma a biomassa em fumaça e cinza. Os incêndios tendem a se tornar cada vez piores devido ao aumento da temperatura e dos períodos de seca em boa parte do território brasileiro como resultado das mudanças climáticas.
As queimadas na Floresta Amazônica e no Pantanal, para além do clima, é parte de uma ofensiva do agronegócio sobre terras indígenas e reservas ambientais para expropriar as riquezas naturais, e têm o explícito apoio do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, e do próprio Bolsonaro. Essas ações são criminosas e atingem todo o ecossistema natural, além de causar danos profundos no clima.
Não há capitalismo sem degradação e destruição da natureza
“A crise climática é a nossa realidade, estamos em greve pela nossa sobrevivência”
Disha Ravi – Fridays For Future
Não há um cenário otimista para a humanidade nesse cenário de Covid-19 e de aumento das temperaturas médias globais. Não só a emissão do dióxido de carbono (CO2) deve ser reduzida em 45% até 2030, mas deve-se definir um conjunto de políticas que salve o planeta da destruição capitalista. Os três países que estão no topo da infecção, EUA, Índia e Rússia, são também os que mais poluem juntamente com a China.
No sistema do capital e de sua ciência, há diversos pesquisadores negacionistas que vêm alardeando que “os problemas climáticos do planeta não são tão graves” e “ocorrem por acaso”, afinal não há como avançar na produção da mercadoria em massa sem destruição do ambiente natural. A real responsabilidade do homem com as mudanças climáticas é um fato inquestionável. Foi a partir do desenvolvimento do capitalismo e da indústria com a corrida desenfreada pelo lucro, que o ambiente natural foi afetado duramente e esteve refém do processo de “evolução” que levou a extinção de espécies, a poluição do ar e a destruição de uma parte essencial das forças produtivas: os recursos naturais.
Entre a segunda metade do século XIX e início do século XXI, ou seja, nos últimos 165 anos, houve uma relação crescente entre industrialização e poluição no mundo, detectada pelo aumento da emissão de gases tóxicos nos países industrializados.
“Desde meados do século XIX, os Estados Unidos se mantiveram como o país que mais emite gases de efeito estufa por ano. Essa realidade só mudou em 2005, quando a China, movida por uma forte industrialização baseada na queima do carvão, ultrapassa os americanos. Rússia (e a antiga União Soviética), Índia, Alemanha e Japão também são países que aparecem entre os maiores emissores.” (3)
A crise do clima se origina principalmente no sistema capitalista e sua necessidade de procura permanente de lucros crescentes mediante produção desenfreada de mercadorias e aumento constante do consumo de produtos, necessários ou não. Hoje ainda se agrava no crescimento descontrolado de capitais financeiros, sem respeito às necessidades materiais da produção e reprodução da vida, do clima, da terra e dos seres que a habitam.
Um programa de classe e uma estratégia anticapitalista
Este sistema capitalista mundial chegou a seus limites. Quatro dimensões fundamentais devem ser consideradas: a urgência, a gravidade, a profundidade e a globalidade do problema. É urgente tomar consciência e enfrentar o problema ambiental por que a crise climática é uma bola de neve que cresce sem parar, piora cada dia e quase está fora de controle (vários expertos acham que já está assim). Como diz a campanha internacional #FightClimateInjustice, a sociedade de conjunto tem que assumir medidas concretas imediatamente nos próximos anos, se quer ter chances de sobreviver. O tema é da maior gravidade por que o clima é fundamental para a vida e as espécies. A crise chegou a tocar não só os limites da natureza, mas as fronteiras da vida mesmo. É um problema profundo e complexo porque a crise climática aponta para o coração do sistema capitalista: o mecanismo de acumulação baseado na superexploração das forças produtivas (trabalhadores e natureza). Finalmente, para resolver a crise, será necessário realizar mudanças globais e radicais, em nível planetário, no sentido mesmo de uma verdadeira revolução.
A disjuntiva histórica “socialismo ou barbárie” nunca foi tão necessária quanto evidente neste período de crise sanitária e climática mundial. Não estamos falando de algo fictício, mas de questões reais impostas, não pela natureza em si, mas pelas relações de desigualdade, pelos lucros de uma classe dominante que vive da exploração do trabalho da imensa maioria e pela ampla degradação ambiental.
É preciso uma frente mundial contra o aquecimento global. A urgência impõe a necessidade de organizar um calendário de mobilizações internacionais contra a degradação do planeta. A defesa do clima e da natureza assume uma dimensão de classe e deve-se desenvolver como uma das pautas fundamentais de nosso enfrentamento contra o sistema.
É necessário discutir e avançar em um programa que exige decisões políticas imediatas para frear a crise, e medidas concretas de apoio aos milhões de afetados pelos desastres ecológicos ambientais causados por empresas mineiras, petroleiras, agronegócios, e também pelos desastres “naturais” como tempestades, tufões, furacões entre outros.
O programa da Resistência-PSOL, apresentado para esta campanha eleitoral, afirma “A destruição ambiental e a crise climática, produzidos pelo capitalismo, ameaçam a sobrevivência da humanidade e já afetam as populações, em particular os setores mais empobrecidos e oprimidos da classe trabalhadora incluindo os povos originários. Queremos superar a separação entre a ação anticapitalista e a ecologia. A bandeira da justiça socioambiental tem a ver com o cotidiano das massas trabalhadoras e trabalhadores: transporte público, moradia, saúde, lazer e cultura, coleta de lixo, são muitas as questões relacionadas ao meio ambiente que afetam o povo trabalhador. A crise ambiental afeta milhões de habitantes das grandes metrópoles.”
A sobrevivência da humanidade e a possibilidade de construção de uma sociedade sem exploração e opressão passa — obrigatoriamente — pela construção de uma relação equilibrada com a natureza. Essa luta não pode esperar!
NOTAS
1 – https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/qual-a-relacao-entre-as-mudancas-climaticas-e-as-queimadas/
2 – https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Meio-Ambiente/noticia/2020/09/pantanal-entenda-causas-e-consequencias-dos-incendios-no-bioma.html
3 – https://wribrasil.org.br/pt/blog/2019/04/ranking-paises-que-mais-emitem-carbono-gases-de-efeito-estufa-aquecimento-global
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