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CULTURA

O Levante das Sementes: o legado de Marielle Franco nas eleições municipais de 2020

Monique Paulla, do Rio de Janeiro, RJ
Reprodução Sementes

Na primeira eleição municipal após o feminicídio político de Marielle Franco, importantes articulações têm ocorrido com o objetivo de incentivar o maior número possível de candidaturas de mulheres negras progressistas e com pautas antirracistas. São estratégias políticas de um projeto coletivo para viabilizar a entrada dessas mulheres negras nos espaços de decisão.

No campo do poder judiciário, após muita pressão dos movimentos populares, como a ONG Educafro, o Instituto Marielle Franco, o Movimento Mulheres Negras Decidem e a Coalizão Negra por Direitos, foi aprovada pelo TSE (Superior Tribunal Eleitoral) a distribuição proporcional de financiamento e tempo de propaganda para candidaturas negras nas eleições. Porém, a medida foi aprovada com a restrição da sua aplicação somente para o pleito eleitoral de 2022. Diante da ressalva, a ONG Educafro e o partido político PSOL assinaram uma ação direcionada ao STF (Supremo Tribunal Federal) com o pedido para aplicação da nova regra aprovada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) já nas eleições de 2020, que ocorrerá no mês de novembro. O ministro do STF Ricardo Lewandowski atendeu ao pedido entendendo que essa política pública tende a “incentivar a apresentação de candidaturas de pessoas negras aos cargos eletivos”.

Já no seguimento cultural, o lançamento do filme ‘Sementes: Mulheres pretas no poder’, no dia 07 de setembro, data da forjada independência do Brasil, foi também um marco nesse cenário pré-eleitoral. O filme conta como o assassinato brutal de Marielle Franco, em março de 2018, ano eleitoral para os cargos eletivos de Presidente da República, governadores, senadores e deputados federais e estaduais, se transformou no maior levante político conduzido por mulheres negras que esse Brasil já teve.

O documentário é protagonizado por seis candidatas pretas do Estado do Rio de Janeiro: Jaqueline Gomes, Mônica Francisco, Renata Souza, Rose Cipriano, Tainá de Paula e Talíria Petrone e mostra a trajetória dessas mulheres do momento da campanha eleitoral para pleito de 2018, passando pelo momento da eleição de Mônica Francisco e Renata Souza, ambas deputadas estaduais na ALERJ (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) e Talíria Petrone para deputada federal. As candidatas Jaqueline Gomes, Rose Cipriano e Tainá de Paula também disputavam uma cadeira na ALERJ, mas não foram eleitas nesse pleito eleitoral.

Como pano de fundo do levante das mulheres pretas na política, o filme traz a ascensão da extrema direita representada na figura de Jair Bolsonaro, então candidato à Presidência da República, e pelos candidatos a deputados estaduais no Rio de Janeiro Daniel Silveira e Rodrigo Amorim.

A construção fílmica a partir de elementos como a) a narração em off no início do filme para contextualizar a conjuntura temporal e política da narrativa, b) os arquivos de jornais com números que demonstram o crescimento de candidaturas de pessoas que autodeclaram pretas, c) a trilha sonora de base instrumental enfatizando a construção do roteiro, d) os depoimentos das protagonistas articulados com a vida cotidiana e com outras candidatas também a cargos eletivos, e) os vídeos de campanha de cada da protagonista, f) a cobertura da participação dessas mulheres na marca do #EleNão e g) o comportamento os membros da extrema direita em passeata pública marcam o projeto político pela liberdade e contra a política do ódio e do medo proposto por essas mulheres. Um projeto político, coletivo e popular com a questão racial na centralidade de todas as pautas, mas também respeitando e considerando as interseções de gênero e classe.

Dirigido por Éthel Oliveira e Júlia Mariano, o filme ‘Sementes: mulheres pretas no poder’ cumpre com excelência e responsabilidade a sua proposta de registrar esse levante marcado pela situação de dor extrema provocada pela execução brutal de Marielle Franco.

‘Sementes: mulheres pretas no poder’ é também inspirador e seu lançamento dois meses antes no pleito de 2020 torna-se importantíssimo para dar visibilidade às candidaturas de mulheres negras nessas eleições municipais.

O filme ficará disponível durante todo o mês de setembro, no canal do YouTube da Embauba Filmes:

Bom filme!