Nesta segunda semana de setembro, parece ter sido retomado o espírito do 21N colombiano do ano passado, quando gigantescas mobilizações dos trabalhadores, camponeses, indígenas e movimentos sociais, sob a direção das centrais sindicais e principais sindicatos das principais regiões, realizaram uma das maiores jornadas de lutas e greves gerais da história daquele país, fazendo cambalear o Governo reacionário de Ivan Duque, um dos maiores aliados do imperialismo norte-americano na América Latina.
No dia 7 de setembro, em plena pandemia, as organizações sindicais tiveram que retomar a agenda de luta, pois os ataques do Governo Duque recrudesceram durante a quarentena para fazer passar, lá também, a boiada contra os direitos sociais. Assim, foi convocada uma grande caravana com automóveis, motocicletas e bicicletas, organizada pelo Comando Unitário Nacional, integrado pela CGT-Confederação Geral do Trabalho, CUT-Central Unitária de Trabalhadores, CTC-Confederação de Trabalhadores de Colômbia, CDPC-Confederação Democrática dos Pensionistas de Colômbia e CPC-Confederação dos Pensionistas de Colômbia, além da FECODE-Federação Colombiana de Trabalhadores na Educação, USO-União Sindical Operária e outros sindicatos e movimentos sociais, com uma ampla adesão em várias regiões do país, contra o Decreto 1174 de 27 de agosto de 2020, editado pelo Ministro do Trabalho do Governo Duque, que impõe uma reforma trabalhista e do sistema de seguridade social com ataques brutais aos trabalhadores.
Além do protestar pela revogação do Decreto 1174, que praticamente acaba com o direito ao salário mínimo nacional e o acesso ao sistema de pensões para uma grande parte dos trabalhadores, a pauta unificada envolve o combate à medida de apoio do governo à empresa área Avianca, que receberá 370 milhões de dólares; o apoio à greve dos operários das minas de carvão da multinacional Cerrejón S.A., dirigida pelo Sindicato SINTRACARBÓN, no Departamento (Estado) de Guajira; a defesa dos acordos de paz com os ex-combatentes guerrilheiros, que vem sendo descumprido pelo governo gerando massacres e assassinatos; contra os assassinatos de lideranças indígenas, camponesas e sindicais; a defesa do apoio às micro, pequenas e médias empresas nacionais ante a paralisia da crise econômica, agrava pela pandemia da Covid19; a defesa dos direitos dos trabalhares da saúde, contra a terceirização e pelo fornecimento de equipamentos de segurança; a defesa da renda básica para 9 milhões de família para enfrentar o isolamento social; a defesa dos direitos trabalhistas e do contrato coletivo de trabalho; contra a ingerência militar dos Estados Unidos e a presença de soldados americanos no país e contra a política econômica trabalhista e social do governo Duque.
Mas nem houve tempo para que os movimentos sindicais e populares do país comemorassem o retorno das jornadas de mobilizações por direitos, quando dois dias depois, na quarta-feira a noite, teve início uma fúria popular na Capital Bogotá e cidades vizinhas, geradas pelo assassinato do advogado, Javier Ordonez, 46 anos, resultante de uma ação violenta e covarde da polícia, depois de uma sequência de choques elétricos com tasers de repressão quando Javier já estava detido. Vejam o vídeo.
As fortes imagens deste vídeo circularam rapidamente pelo país e geraram uma onda de protestos populares, rebeliões e quebra-quebras contra os abusos da polícia colombiana que está sob o controle do Ministro da Defesa de Ivan Duque, Carlos Holmes Trujillo. Até o fechamento deste artigo, a fúria popular já tinha destruído mais de 60 delegacias de polícia. As forças repressivas policiais por sua vez já tinham gerado mais de 400 feridos e 13 mortes, nos dias subsequentes à morte do advogado.
O líder da oposição no Senado Colombiano, Gustavo Petro, Partido Colômbia Humana, está pedindo publicamente a renúncia do Ministro da Defesa e a reforma das forças de segurança, ante 700 líderes assassinados anteriores, e 51 massacres somente em 2020. A Prefeita de Bogotá, Cláudia Lopez, do Partido Aliança Verde, propôs a desmilitarização da polícia.
Seguramente, a crise do governo de Ivan Duque se agravará, pois já vem acumulando desmoralizações políticas com a derrota de suas incursões diplomáticas, políticas e apoio aos paramilitares, contra o governo soberano da Venezuela, desde o território colombiano, além do decreto de prisão domiciliar, seguida de renúncia do cargo de Senador, do seu padrinho político, Álvaro Uribe. São indicadores de um novo cenário de relações de forças aberto com as jornadas de mobilizações e greves de Novembro de 2019, antecedidas da derrota eleitoral do uribismo nas eleições regionais, que ocorreram também em 2019.
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