Pular para o conteúdo
MOVIMENTO

Jacó Almeida: “É preciso cercar a greve dos Correios de apoio e solidariedade”

Jacó Almeida tem 35 anos de história na luta em defesa dos trabalhadores dos Correios e contra a privatização da empresa. Ele é suplente da executiva da Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios (Fentect) e militante da Resistência/PSOL. Nesta entrevista, ele fala sobre a luta que a categoria trava na greve que foi deflagrada em agosto. 

Por Ademar Lourenço, de Brasília, DF

Como tem sido a resistência dos trabalhadores até agora?
Jacó – A resistência tem sido muito forte. Já estamos realizando uma das maiores greves dos Correios com adesão dos 36 sindicatos e as duas federações. A greve vem atingindo uma adesão de mais de 70% do setor operacional e a categoria tem fôlego para continuar na greve por mais tempo. É muito provável que façamos a greve nacional mais forte e longa que a categoria já realizou.

E a direção da empresa? Como tem lidado com a mobilização?
Jacó – A direção dos Correios que hoje é composta por uma general colocado por Bolsonaro, o general Floriano Peixoto, vem tratando a greve com bastante dureza. Ele se recusou a negociar e rejeitou uma proposta de acordo feita pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) que era de reedição do acordo coletivo. Já fez desconto de dias dos trabalhadores grevistas e ainda vem mentindo na imprensa ao dizer que está mantendo direitos dos trabalhadores. Isto é uma tremenda mentira, porque a empresa diminuiu valores do vale alimentação, além de ter cortado o período de férias. Cortou auxílio para filhos com necessidades especiais, gratificação de férias, entre outras conquistas. O governo quer cortar 70 cláusulas do nosso acordo coletivo, uma verdadeira destruição aos nossos direitos e conquistas de mais de 30 anos. Tudo isso para tentar diminuir os custos da folha de pagamento para facilitar a privatização. Mas os trabalhadores estão resistindo a todo este ataque.

Quais os próximos passos da greve?
Jacó –
Os próximos passos da greve é mantermos ela forte, porque provavelmente a greve deve ir a julgamento no Tribunal Superior do Trabalho (TST). A empresa ingressou com dissídio coletivo de greve, que deve ser julgado até o dia 21 de setembro. Justamente por isso é preciso cercar esta greve de apoio e solidariedade e exigir que os ministros do TST mantenham todas as cláusulas. A própria sentença daquele tribunal no ano passado julgou o dissídio coletivo e naquele momento manteve todas as cláusulas do acordo coletivo da época.

Como está sendo a discussão sobre privatização dentro da empresa?
Jacó – O Governo Bolsonaro já havia prometido que se eleito iria privatizar os Correios. No início, os trabalhadores não acreditavam muito na privatização. Mas neste momento a ficha caiu e os eles sabem que os ataques que o governo está fazendo ao nosso acordo coletivo é parte da estratégia para vender a empresa. O governo quer diminuir os custos da folha de pagamento e com isso atrair as grandes empresas multinacionais do setor de logística. 

O governo já contratou uma empresa de consultoria para propor o modelo de privatização.  Esta empresa é acusada de envolvimento em corrupção. Após esta etapa, provavelmente o Presidente deve enviar ao Congresso dois projetos de lei: Um propondo a quebra do monopólio postal e outro propondo uma nova regulamentação do setor postal, com a retirada da obrigatoriedade de os Correios entregar correspondência em todos os municípios. Isso atrairia algumas empresas que só têm interesse na logística dos Correios e nos locais onde é lucrativo (apenas 324 cidades). Se isto ocorrer, será um verdadeiro apagão postal. Poderemos ter mais de 5.000 municípios sem entrega de correspondências e demissões em massa.

Os Correios, além de ser uma empresa eficiente, presta vários serviços sociais, como a entrega de livros didáticos, a distribuição de remédios e socorro em caso de calamidades. Mesmo prestando todos estes serviços, os Correios vêm dando lucro, somente neste primeiro semestre, de 614 milhões.

Não podemos deixar que este governo fascista privatize os Correios e as outras empresas públicas. Se isso vier a ocorrer, quem mais vai sofrer é justamente a população mais pobre das periferias e das cidades menores deste país. Por isso gritamos não à privatização dos Correios.