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MUNDO

A crise do governo colombiano e a prisão do direitista Álvaro Uribe

David Cavalcante, de Recife, PE
Reprodução

Álvaro Uribe, governou a Colômbia entre agosto de 2002 e agosto de 2010, com seu apoio fez seus sucessores, o seu ex-Ministro da Defesa, Juan Manoel Santos, que governou por mais 8 anos, entre 2020 e 2018, e Ivan Duque, o atual presidente, que foi eleito em 2018, reunindo as principais forças reacionárias, empresariais, latifundiárias e pró-imperialistas do país. Uribe foi prefeito de Medellín, nos anos 80, senador da República nos períodos 1986-1994 e Governador do Estado de Antioquia, entre 1995 e 1997 e novamente eleito senador em 2014 e 2018. Recentemente, detinha o cargo de senador da República, antes da sua renúncia por manobra jurídica relacionada à fuga do foro privilegiado da Corte Suprema, e tornando-se o 1º ex-presidente a ter acusações que chegassem a esse grau de punição, tendo finalmente sua prisão domiciliar decretada pela Corte Suprema do país.

O caso começou em 2012, quando o também senador, Ivan Sepeda, acusou publicamente, no Plenário do Senado colombiano o ex-presidente de ter relações com o para militarismo, os milicianos daquele país. A acusação foi bem fundamentada e contou com o testemunho de ex-paramilitares que confirmaram a acusação de que Álvaro Uribe e seu irmão, Santigo Uribe, comandavam uma facção ligada ao grupo Autodefesas Unidas da Colômbia-AUC. Por sua vez, Uribe ingressa com uma ação de calúnia e fraude processual contra o Senador que o denunciou, na Corte Suprema.

Em 2018, a Corte não somente inocentou Ivan Cepeda, não acatando o pedido da ação de Uribe, como abriu uma investigação contra Uribe por suborno e fraude processual, baseada em escutas telefônicas. De autor da ação, Uribe se converteu em réu. Uma testemunha chave do para militarismo, Juan Guillhermo Monsalve, reafirmou que conhecia de perto e detalhou as relações do ex-presidente com a facção criminosa, inclusive com o uso da própria fazenda familiar de Uribe, onde a testemunha havia trabalhado, para uso e operações do tal grupo miliciano.

A Corte Suprema, como resultado da investigação, ainda não concluiu o processo, mas ordenou sua prisão cautelar domiciliar, no início de agosto, fato que polarizou o país politicamente em torno da prisão do direitista. Seu afilhado político, o atual Presidente Ivan Duque, e membro do seu partido, chamado Centro Democrático, saiu em defesa do detido, clamando por seu direito de defesa e afiançando sua confiança em seu chefe e padrinho político. O fato também chamou a atenção de toda a mídia internacional, que sempre esteve acostumada a ver Uribe nas manchetes por causa dos acordos com os EUA para ações militares ofensivas contra os movimentos guerrilheiros e, mais recentemente na sua liderança como parlamentar, como direção política das campanhas contra os acordos de paz na Colômbia.

Uribe, por sua vez, renunciou ao Senado para tentar retirar o caso da Corte Suprema, que possui a prerrogativa de julgamento de altos cargos políticos da nação, e tentou contra-atacar estimulando mobilizações de rua de seus apoiadores direitistas, agitando que ex-dirigentes das FARC, que foram anistiados nos acordos de paz conduzidos pelo ex-presidente Juan Santos, para responder em tribunais especiais com direito à liberdade, estavam livres enquanto ele “um cidadão de bem” teria sua liberdade cassada.

Mas não se pode entender as movimentações das personalidades da superestrutura jurídica e política de uma nação se não analisamos a relação de forças sociais e políticas num determinado período histórico. Em dois artigos anteriores, publicado neste Portal, já havia indicado que as placas tectônicas da luta de classes na Colômbia estavam se movendo, o que pode significar fortes fraturas também entre as classes dominantes e seus partidos e porta-vozes, o que se reflete também nos fortes questionamentos de massas e lutas contra o atual governo, que é herdeiro do uribismo, apesar de sua roupagem mais jovial.

Desde outubro de 2019, as forças políticas de oposição já haviam conquistado nas eleições regionais e municipais, muitos Estados (Departamentos) e Municípios. A Capital Bogotá chamou a atenção do mundo quando elegeu a primeira mulher lésbica e ambientalista, a atual Prefeita Cláudia López, pelo partido Aliança Verde, em coligação com o partido de centro-esquerda, Polo Democrático.

E o mais importante e qualitativo foram as gigantescas manifestações dos trabalhadores, populares, indígenas, mulheres, jovens e um sem número de movimentos sociais, nas jornadas de protestos, bloqueios e greves gerais que ocorreram no mês de novembro de 2019. Vejamos se a vaga de mobilizações, aberta no final do ano passado, voltará à cena conjuntural e conseguirá virar a mesa do banquete das classes dominantes, levando junto não somente o velho Uribe, mas o atual chefe da nação.

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Colômbia