Do descobrimento-invasão pelos portugueses ao escravismo colonial, da república oligárquica às distintas fases da “era Vargas” passando pelos períodos de JK e Jango. Do golpe de 1964 passando pela repressão massiva dos anos de chumbo até a criação da constituição de 1988 e as convulsões sociais da nascente redemocratização. Da terapia neoliberal dos anos 90, passando por uma década de conciliação de classes até a facada nas costas com o golpe parlamentar-midiático de 2016 e os seguidos ataques da burguesia brasileira na direção do povo perpetrados pelo vassalo Michel Temer, chegando ao ascenso do governo de extrema-direita em que toma a frente a ala neofascista-bolsonarista. O Brasil chega aos seus 520 anos de história e mais especificamente acaba de completar 198 anos de sua independência no auge de uma pandemia com quase 120 mil mortos e mais de 4 milhões contaminados até o momento, sob um governo genocida.
Os excluídos tem hoje nesse 7 de setembro mais motivos do que nunca para gritarem forte contra a opressão e lutarem por um futuro melhor. Sob uma retórica ultranacionalista “verde e amarela’’ empregada sob o manto da bandeira de Israel e dos EUA, o governo emprega seus métodos ultraconservadores, neofascistas, conspiracionistas em que tomam parte lavajatistas, neoliberais, neofascistas e militares… pessoas como Guedes, Salles, Mourão, Damares etc..
Sua política antinacional, antiproletária, servil e pró-imperialista aprofunda o fosso inimaginável que separa os ultrarricos e as camadas mais precarizadas da população, tenta criminalizar os movimentos sociais e suas vanguardas, produz uma política ambiental desastrosa celebrada com os incêndios que acometem a floresta Amazônica, retira direitos trabalhistas e sociais conquistados há décadas pelos trabalhadores, ataca a população indígena e seus direitos, aprofunda o racismo estrutural e o ataque sobre a populações negra do país, os direitos LGBTs no país em que estes mais são vitimados, os direitos das mulheres duramente conquistados e mais recentemente os servidores públicos.
A proliferação de teorias conspiratórias, o recrudescimento do movimento anti-vacina,a radicalização das múltiplas formas de violência de classe (institucional, política, econômica etc) e a queda do nível de vida são algumas das nefastas consequências atuais na vida da esmagadora maioria das/dos brasileiras e brasileiros, atingindo de forma mais feroz os setores historicamente mais frágeis da população. Consequências essas não só de nosso capitalismo servil e dependente mas,e sobretudo de todo um processo histórico encarnado agora no bolsonarismo governante.
Com todos os flagelos que marcam a nossa história, o mito do brasileiro pacífico, ordeiro, letárgico que pode tomar conta de muitos desiludidos e cansados com a realidade é apenas o que o próprio nome diz, um mito… Das primeiras resistências indígenas com o que se usavam flechas e baionetas para lutar contra a pólvora, o canhão e a rapinagem, das inúmeras revoltas e rebeliões que acometeram o Brasil durante o período escravista, colonial e regencial, chegando àquelas que continuaram ocorrendo no período republicano, das lutas de massas das primeiras décadas do século XX culminando na luta por reformas estruturais do pré-64, da guerrilha urbana e camponesa passando pelas inúmeras formas de luta com os quais se tentava mandar para os ares a bota asfixiante da ditadura militar-cívica-empresarial, passando pela incrível marcha do 100 mil e chegando até os protestos massivos pelas “Diretas já!” e por uma constituição livre e democrática, do “Fora Collor!” ao “Fora Temer!” e chegando ao “Fora Bolsonaro!” e as primeiras manifestações, greves e passeatas populares, estudantis, de mulheres que ocorreram ao longo do início do governo Bolsonaro até agora… São inúmeros os episódios históricos que podemos estudar para aprender, gerar energias, se inspirar e arregaçar as mangas para tomar as rédeas do futuro em nossas mãos. Nos momentos mais difíceis, mais opressivos, mais injustos, mais obscuros e mais necessários as massas de oprimidos e explorados brasileiros se levantaram, ora de forma mais espontânea, ora de forma mais organizada para lutar pelos seus direitos sociais, democráticos, em suma de ter uma vida digna que deveria ser regra à toda humanidade.
O momento é difícil, sim…mas por isso mesmo é necessário como nunca que nos situemos acerca da realidade a nossa volta, nos organizemos das mais distintas formas (sindicatos, partidos, movimentos culturais e de bairro etc.) e brademos em uníssono um não esmagador pelo fim da exploração, da dominação e da opressão que agora encontra sua expressão assombrosa no protofascismo bolsonarista e suas hordas odientas.
São vários os motivos para se estar pessimista, diante do quadro horroroso citado anteriormente. Mas são mais ainda os motivos e episódios históricos nas quais podemos nos espelhar, enxergar e inspirar. Nos inspirar a não baixar a cabeça, a usar todo o nosso otimismo de vontade, toda a nossa energia política, toda a nossa consciência de classe, todo o nosso entendimento e nossa força para lutar por um futuro, em que unindo à tarefa democrática às tarefas socialistas em uma totalidade permanente e ininterrupta possamos levar a cabo o dever revolucionário histórico e conseguir junto às massas oprimidas o direito pleno ao pão, a paz e à poesia. Nossa luta por independência não terminou!
Antonio Micaias, estudante e militante do Afronte e da resistência -PSOL, segunda-feira, 7 de setembro de 2020 em Fortaleza-CE
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