BIOGRAFIAS: Jean Luis Máxime Van Heijenoort, Secretário pessoal de Trotsky, entre 1932 e 1939

Por LUCHAS, Liga Unitária Chavista Socialista. Tradução: Célia Regina Barbosa Ramos

Nasceu em 23 de julho de 1912 em Creil, França. Filho de um trabalhador holandês emigrado, que era operário nas usinas Fichet, sua mãe e avó eram empregadas como criadas em casas burguesas, onde viveu com elas.

Caracterizou-se desde tenra idade por suas aptidões intelectuais. Ele cresceu na França durante e após a Primeira Guerra Mundial e sofreu o ódio e o racismo, foi espancado na escola e tratado como “alemão sujo”, por causa de seu sobrenome “estrangeiro” e de sua aparência física, louro de olhos azuis. No entanto, completou de maneira brilhante seus estudos secundários.

Cresceu durante a guerra, com o ruído de fundo dos canhões e em uma sociedade de classes que utilizava todos os estigmas da injustiça. Daí sua inclinação primeiro para o comunismo “utópico e rousseauniano” e, depois, à leitura do L”Humanité.

Como era um estudante brilhante, obteve uma bolsa de estudos que lhe permitiu estudar Matemática Superior no Colégio Saint-Louis de Paris, no início de outubro de 1930. Semanas depois, conheceu um grupo de jovens militantes da Oposição de Esquerda dirigidos por Yvan Raipeau; tornou-se um magnífico militante, mas sem abandonar a matemática, ao mesmo tempo em que aprendia russo e participava de todas as atividades do grupo.

Foram essas características que possibilitaram que, em 1931, Raymon Molinier o propusesse como secretário/guarda-costas de Trotsky. Sem nem pensar, partiu com ele para Prinkipo, cheio de entusiasmo para colocar-se a serviço direto daquele que admirava, assim como de seus escritos publicados em diferentes idiomas. Agora ele conhecia o companheiro de Lenin, o chefe do Exército Vermelho, impulsionador da Oposição de Esquerda, o homem do destino da Revolução Mundial.

Foi testemunha direta das atividades, relações e encontros do revolucionário russo no exílio com importantes figuras, como os escritores Georges Simenon, Andre Malraux, André Bretón e o pintor muralista Diego Rivera, com quem escreveu o conhecido Manifesto “Por uma arte revolucionária independente”.

Os sete anos ao lado de Trotsky são relatados por ele com discrição em sua obra “Com Trotsky, de Prinkipo a Coyoacán: testemunho de sete anos de exílio”.

Acompanhou Trotsky em todas suas viagens, em sua estadia na Noruega, em junho de 1935. Retornou à França em 1936, quando aconteceram os processos de Moscou. Nesse momento, o L’Humanité, em seus artigos, o chamou de agente fascista, criminoso, assassino, assim como o fez com Erwin Wolf, porque eles foram os que tentaram romper o isolamento de Trotsky exigido por Moscou. O Partido Comunista Francês ordenou seu assassinato e o de Wolf, que foi assassinado na Espanha, em 1937.

Durante a estadia de Trotsky na França, ele o acompanhou em toda sua peregrinação entre Barbizon e Domne, Lyon e Grenoble, exercendo como seu contato e tradutor entre Paris e Domene. Foi ele quem traduziu os artigos editados mais tarde sob o título “Aonde vai a França?”. Em 1936, traduziu a obra de León Sedov, “O livro vermelho”. Em 1935, impulsionou o Secretariado Internacional dos jovens. Também organizou, em 1936, a greve na França mutualista.

Quando de sua chegada ao México, em 1937, ele mergulhou no trabalho do arquivo necessário para a defesa dos acusados nos processos de Moscou e para o funcionamento do interrogatório na Comissão Dewey. Ao lado de Jan Frankel, realizou um trabalho titânico com os papéis de Trotsky, preservando, classificando desde os anos na Turquia, analisando, reproduzindo, traduzindo, comentanto, para depois divulgá-los. Tudo isso para a defesa de Trotsky diante da Comissão Dewey, que em grande parte ficou sob seus ombros. Nessa batalha obscura, ele ganhou a estima de todos os intelectuais norte-americanos para a defesa de Trotsky.

No verão de 1938, Van era o homem de confiança, e diziam: “Van, ele arruma tudo”.

Van trabalhava incansavelmente, sem receber nenhum pagamento, apenas alojamento, comida, longe de sua companheira Gaby e de seu filho Jeannot. De fato, Trotsky se sentia culpado diante de Van e de Jan Frankel, os quais dedicaram anos de suas vidas e se isolavam da vida, do movimento real de massas. Ficou feliz ao vê-los voar com suas próprias asas. Frankel chegou até a cisão de 1940. Van se juntou às fileiras do Socialist Workers Party (SWP).

A maior contribuição de Van como militante revolucionário para a história do movimento foi o enorme trabalho que dedicou, durante anos, nas centenas de milhares de documentos dos “Trotsky Paper’s”, os arquivos de Trotsky depositados em Harvard, os quais ele catalogou um a um. Sem ele, esses documentos hoje seriam apenas uma pilha de velhos papéis incompreensíveis.

Nas fileiras do SWP, ele foi responsável pelo Secretariado Internacional, organismo que foi intencionalmente sufocado em sua ação por sua direção, devido ao controle burocrático que Bert Cochran tinha sobre esta. Isso trouxe profundas diferenças entre eles. Decidiram pela dissolução do SI em Nova York e passar seus poderes para o organismo criado por Michel Pablo, o secretário europeu.

Em 1948, depois da expulsão do SWP de seus camaradas de tendência, Van rompeu com a IV Internacional e com o marxismo.

No final, já não queria falar de política, e foi apenas por uma questão moral que aceitou dar seu testemunho durante o processo das calúnias contra Joseph Hansen, contribuindo para a condenação dos caluniadores pelo Tribunal de Los Angeles. Também interveio nos Estados Unidos, conseguindo que os agentes de Stalin fossem interrogados sobre a preparação do assassinato de Trotsky.

E no final de sua vida, dedicou-se a ser professor universitário, com uma sólida reputação. Nos anos 1950, entrou para o Departamento de Matemática da Universidade Columbia, em Nova York. Entre 1965 e 1967, foi professor de Filosofia – História da Lógica na Universidade de Brandeis (Massachussetts). Em 1967, publicou uma obra sobre Lógica Matemática.

Apesar de acabar sendo um homem da ciência, aos 70 anos, carregava seus bens em duas maletas, vivia em quartos de estudantes em Cambridge e no Menlo Park, mobiliados com uma pequena mesa, duas cadeiras, um despertador, um rádio, o computador que ele mesmo tinha montado, a velha máquina transformada em “impressora”, sua agenda e um armário de arquivo especial.

Toda sua fortuna estava em sua cabeça e em suas mãos, com as quais fazia o que queria.

Foi assassinado com três tiros, entre 28 e 29 de março de 1986.