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OPRESSÕES

Em Fortaleza, feministas vão às ruas denunciar o estupro e a violência contra crianças e adolescentes

Zuleide Fernandes Queiróz

No dia 23 de agosto, as mulheres do Ceará foram para as ruas. Estiveram no monumento “Iracema Guerreira”. Sim, este lugar é bem simbólico, pois retrata a história da colonização do Ceará. Iracema (America), um anagrama, que o escritor, conservador, José de Alencar criou, romantizando os processos sangrentos de muito estupro que o colonizador estabeleceu na dominação dessas terras contra os povos nativos, genericamente chamados de índios.

Em silêncio, com máscaras e respeitando o distanciamento necessário, exibiram em cartazes e faixas o canto das mulheres chilenas, que hoje ecoa em todas as vozes das mulheres no mundo:

“O patriarcado é o juiz, que nos julga ao nascer!”

E nos mata ou explora todos os dias!

Pois, dia 17 de agosto veio para marcar nossas vidas. E nos obrigar a ir para as ruas denunciar o estupro no Brasil. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, de 2019, a violência sexual no Brasil teve os alarmantes números de 66.041 estupros, totalizando, em média, 180 estupros por dia, sendo estes 81,8%, com mulheres.

Neste dia uma menina de 10 anos fez um aborto, após ser estuprada, desde os 6 anos, por um tio. O aborto seguiu todos os trâmites legais e aconteceu com toda a segurança em hospital de referência. 

A história desta criança vem engrossar os números absurdos de violência contra a criança e adolescente no Brasil. Acreditem, dos mais de 66 mil estupros, em 2019, 53,8% aconteceu com menores de 13 anos. São 4 meninas de até 13 anos estupradas, por hora no Brasil.

Em consequência, são 6 internamentos diários por aborto envolvendo meninas de 10 A 14 anos, vítimas de estupro SIM! Pois, aos 10 anos as crianças têm direito a escola e a brincar!

Dados do DataSus, denunciam que, de 1994 e 2018, foram 655.836 nascimentos vivos. Ou seja, em média 26 mil nascimentos por ano, todos gerados por meninas. Sim, por MENINAS! Elas foram estupradas e não tiveram direito ao aborto legal e hoje são mães compulsivamente!

E a pergunta que não pode calar: quem cuidou delas? Quem ajuda a criar seus filhos? Estão na escola? Muitas não estão. Foram, na verdade, abandonadas pelos governos de plantão. No Brasil, deliberadamente, pelo governo Bolsonaro, pelas políticas da morte da Ministra Damares.

Lamentavelmente afirmamos isto acerca de uma mulher, que poderia está salvando meninas, e não julgando seus corpos e fazendo coro com o patriarcado, e com a necropolítica do governo federal.

Este cenário de violência contra a criança e adolescentes é mais uma mazela deliberada de uma crise econômica capitalista profunda e parte da agenda ultraneoliberal  e conservadora  aplicada pela extrema-direita, que nega direitos fundamentais garantidos com o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, mínimos direitos democráticos que foram garantidos outrora. 

Os casos de aborto legal garantidos na lei brasileira é um bom exemplo, agora, no caso da criança de 10 anos, o que ficou revelado é que a extrema-direita fundamentalista quer negar até mesmo o que já no ECA. 

O patriarcado como um instrumento do capitalismo piorar a situação da mulher, em particular as da classe trabalhadora e negras.