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21 de agosto de 1940: o assassinato de Leon Trotsky

Paulo Aguena
Corpo de Trotsky, com uma faixa branca na cabeça.

Em 20 de agosto de 1940, Léon Trotsky sofreu um atentado em sua residência em Coyoacán, D.F. México, onde vivia seu quarto exílio desde que foi banido da Rússia no começo de 1929. A ação foi executada por um agente do NKVD (Comissariado do Povo para Assuntos Internos) da URSS, a mando de Stálin. Na primavera de 1939, Stálin afirma, segundo Pável Sudoplatov, agente do serviço secreto promovido a ao tenente-general: “A guerra está próxima. O trotskismo tornou-se cúmplice do fascismo. Devemos dar um profundo golpe na IV Internacional. Como? Decapitem-na”.1 Golpeado na cabeça por uma picareta de alpinismo, no dia seguinte, 21, Trotsky veio a falecer.

O homem que cometeu o atentado foi Ramón Mercader del Rio2. Condenado a 20 anos de prisão, Mercader veio a falecer de câncer em Cuba, em outubro de 19783. Em Paris, apresentando-se como Jacques Monard, suposto filho de um diplomata belga, veio a estabelecer uma relação amorosa com a jovem trotskista norte-americana de origem russa, Sylvia Ageloff, presente na conferência de fundação da IV em setembro de 1938. A escolha foi bem-feita já que sua irmã, Ruth Ageloff, era uma pessoa por quem Trotsky tinha muita simpatia. Ela havia estado no México ajudando nos trabalhos da Comissão Dewey, o tribunal de honra que julgou as acusações do stalinismo contra Trotsky.

Em setembro de 1939, Silvia retornou aos EUA. Logo, Mercader deu um jeito de ir ao seu encontro por causa de um suposto trabalho como correspondente de um jornal belga. Para isso utilizou um passaporte canadense falso sob o nome de Frank Jackson. Justificou ter agido assim para evitar o serviço militar na Bélgica. Dos EUA, pouco depois, se dirigiu ao México para tratar de um negócio como representante de uma firma de importação e exportação. Insistiu para que Silvia o acompanhasse e ela concordou.

Jackson” chegou no México em outubro de 1939, e ela, em janeiro de 40. Logo Silvia tratou de ir ao encontro de Trotsky no casarão da Avenida Viena, levando mensagens dos trotskistas norte-americanos. Voltou outras vezes para fazer trabalhos de secretária. “Jackson” sempre a levava num carro luxuoso e ficava esperando no portão, local onde veio a conhecer o casal Alfredo e Marguerite Rosmer de quem ganhou a simpatia e a intimidade. Embora Alfred Rosmer já tivesse rompido com a IV, eram velhos amigos de Trotsky. Haviam chegado de Paris em 8 de agosto de 1939, trazendo seu neto Esteban Volkov (Sieva).

Em março, Silvia retornou aos EUA. Cuidadosa, temendo que o passaporte falso viesse a causar problemas para Trotsky, Silvia fez “Jacson” prometer que não visitaria a casa da Avenida Viena. Mas este logo veio a quebrar a promessa, quando Rosmer adoeceu e lhe pediu para levá-lo a um hospital francês na cidade do México. Sempre solícito, voltou outras vezes para lhe entregar remédios e ajudar em outros expedientes. Assim, começou a se integrar na casa. Até então, sua função era a de informante. Observava atentamente toda a rotina da casa.

O atentado de 24 de maio

Às 4 horas da madrugada do dia 24 de maio de 1940, Trotsky sofreu um primeiro atentado. Sob um fogo cruzado de 200 disparos, 70 deles atingiram o colchão e paredes de seu quarto. Assim que ouviu os tiros, Natália se jogou sobre Trotsky que estava meio grogue por ter tomado um medicamento para dormir depois de um dia exaustivo de trabalho. Em seguida, o arrastou para o chão num canto entre a parede e a cama. Logo uma bomba incendiária atingiu o quarto de seu neto, Sieva, que também havia sido alvejado. O adolescente de 14 anos, conseguiu se salvar escondendo-se em baixo da cama. Finalmente, depois de um breve silêncio, uma nova rajada de metralhadora foi disparada sobre as camas dos dois quartos buscando atingir alguém que por sorte ainda estivesse vivo.

Os assassinos foram liderados por David Alfaro Siqueiros, comunista que havia participado das brigadas que combateram na revolução espanhola, pintor famoso e líder dos mineiros mexicanos. O grupo formado por 20-25 homens usando o uniforme da polícia e do exército amarraram e amordaçaram silenciosamente os policiais que circundavam a casa. Em seguida um “major” deu a ordem a uma das sentinelas, Robert Sheldon Harte, um jovem militante do SWP norte-americano, para abrir o portão da casa. Este, inocentemente, abriu. Surpreendendo-o e aos outros guardas, entraram rapidamente, posicionando as metralhadoras atrás das árvores que ficavam em frente ao quarto de Trotsky e abriram fogo. Em seguida, entraram na casa para as ações finais. O ataque durou 20 minutos. Eles fugiram levando dois carros que ficavam na garagem. As chaves costumavam a ficar na ignição para serem usados em casos de emergência. Com eles levaram a sentinela Harte.

A tranquilidade e até mesmo o bom humor com que Trotsky recebeu o chefe da polícia secreta mexicana, o coronel Sanchez Salazar que chegou à casa meia hora após o atentado, somado ao fato de quem ninguém havia sido morto ou gravemente ferido (somente Sieva foi ferido no pé), levantou a suspeita de que tudo não passasse de uma farsa. Ao responder a Salazar que quem estava detrás do atendado era a NKVD russa sob as ordens de Josef Stalin, parece ter confirmado a primeira impressão do chefe de polícia. Assim, ele ordenou a prisão de três empregados domésticos, da cozinheira, da arrumadeira, faxineiro, e de dois secretários de Trotsky.

As mais absurdas especulações sobre as responsabilidades pelo atentado vieram a público. Numa campanha aberta, o stalinismo afirmava ter sido uma farsa para incriminar os comunistas; outros viam Diego de Rivera como responsável. Depois de romper com Trotsky, Rivera girou à direita e terminou apoiando a candidatura reacionária de Almazar contra Lázaro Cárdenas. Dizia-se que os atacantes teriam entrado na casa gritando “Viva Almazar”. Ofendido com as suspeitas levantadas sobre ele e Rivera, Trotsky enviou uma carta ao presidente Cárdenas protestando contra a prisão dos dois secretários e pediu que se investigasse o secretário-geral do partido comunista (bem como o anterior), além de Siqueiros e Lombardo Toledano, secretário-geral da CGT.

Ao final, Siqueiros foi preso. Ele e seus comparsas confessaram o atentado, mas pouparam o partido comunista. Libertado sob fiança desapareceu do México por alguns anos. Sobre Harte, a princípio, pesou a suspeita de que ele fosse cúmplice no atentado, mas Trotsky nunca acreditou nessa possibilidade. Provavelmente, Mercader havia se aproveitado de sua inexperiência e inocência para arrancar informações. Ganhou sua amizade, saindo juntos várias vezes para se divertirem. Logo, 25 dias após o atentado, seu cadáver foi encontrado no terreno de um sítio que havia sido arrendado por dois conhecidos pintores, primos de Siqueiros, sendo utilizado como base da operação.

O assassinato de agosto

Em 28 de maio, poucos dias após esse atentado, Mercader se encontrou com Trotsky pela primeira vez desde que havia chegado ao México. Os Rosmers estavam de partida para os EUA e “Jackson” havia se oferecido para levá-los ao aeroporto em Vera Cruz. Era de manhã e Natália, por sugestão de Trotsky, o convidou para tomarem café da manhã juntos.

Voltou à casa somente em 12 de junho, dizendo que iria para os EUA e que deixaria o carro para ser usado em caso de alguma emergência. Voltou ao México um mês depois. Notou-se mais nervoso, às vezes trêmulo, de cor pálida esverdeada. Na casa, chegaram a pensar que estivesse doente. A verdade é que estava ansioso e preocupado. Após o fracassado atentado, haviam dados novas instruções a ele, passando de informante a executor do assassinato.

Trotsky começou a suspeitar dele ao notar certa mudança no seu comportamento. Começou a se interessar mais por política e a frequentar a casa com mais assiduidade. Na luta interna em curso no SWP norte-americano, enquanto Silvia apoiava as posições de Shachtman e Burnham, ele dizia simpatizar com as de Cannon, que eram as mesmas de Trotsky, que defendia a URSS como um estado operário degenerado. Mostrando-se cada vez mais como um simpatizante da IV, dizia que poderia ajudar financeiramente o movimento intercedendo junto ao (rico) dono da empresa à qual dizia trabalhar.

Trotsky se intrigava com isso: quem era esse rico empresário? Porque nunca esclarecia isso. Chegou a comentar com Natália sua preocupação e propôs uma investigação. No dia 17 de agosto, numa de suas visitas, Mercader levou a Trotsky um artigo referente aos debates no SWP. Com um casaco sobretudo e chapéu na cabeça, enquanto lia o artigo, Mercader sentou na mesa do escritório, colocando-se numa altura superior à cabeça de Trotsky. Este achou o artigo superficial e sugeriu algumas correções. Tal visita que na verdade foi um ensaio geral, deixou Trotsky intrigado. Comentou com Natália que não via nele modos franceses. Não só ficou irritado com a sua descortesia ao se sentar na mesa, mas também começou a sentir o cheiro de fraude.

No dia 19, revelou para Hansen suas preocupações para ver se suas desconfianças haviam passado pela cabeça de outros da casa. Mas na tarde do dia seguinte, 20 de agosto, Mercader voltou a visitar Trotsky com o mesmo casaco sobretudo e o chapéu. Era estranho porque o dia estava quente. Esclareceu que estava prevenido porque “podia chover”. Convidaram-no para jantar, mas alegou que havia acabado de tomar chá e não se sentia bem. Trotsky ainda disse que ele “parecia doente” e que “isso não era bom”. Mercader tinha ido à casa para que ele olhasse como havia ficado a versão final de seu artigo agora já datilografado. Contrariado, e meio desconfiado, Trotsky finalmente parou de dar de comer aos coelhos e se dirigiu com ele para o escritório. Sentado na mesa, quando terminava de ler a primeira página, Trotsky recebeu um golpe de picareta na cabeça.

Posteriormente, nos arquivos da NKVD, um depoimento Mercader esclarecia com detalhes o ocorrido: “Coloquei minha capa de chuva na mesa de uma forma que fosse capaz de remover a picareta que estava dentro do bolso. … com meus olhos fechados, dei-lhe um forte golpe na cabeça. Trotsky emitiu um grito que eu nunca esquecerei. Um longo aaaa, interminavelmente longo, eu penso que ainda ecoa em meu cérebro. Trotsky pulou em cima de mim como pôde e mordeu a minha mão. Olhe, você ainda pode ver as marcas de seus dentes. Eu o empurrei e ele caiu no chão. Então ele se levantou e cambaleou para fora do escritório. ”4

O assassino ficou tão surpreso com a reação de Trotsky que não utilizou a pistola e o punhal que levava consigo. Natália o encontrou ensanguentado, ainda em pé junto a porta apoiando-se no batente. Perguntou o que havia ocorrido e ele disse “Jackson” … “Agora aconteceu”. Depois de alguns passos, auxiliado por Natália, deitou-se numa esteira. Ainda proferiu várias frases. “Sieva”, seu neto, “não deve saber disso”. Por várias vezes levou as mãos de Natália até seus lábios. “É o fim”, disse a Joe Hansen, em inglês, que também já estava junto a ele depois tirar a picareta de Mercader. No escritório, os seguranças espancavam o assassino, sendo possível ouvir seus gritos e gemidos. Trotsky alerta Hansen para não matá-lo, a fim de lhe arrancar a confissão. “Cuide de Natália”, falou novamente em inglês. “Cuidaremos”, prometeu-lhe Hansen. Natália chorava copiosamente inclinando-se sobre ele, beijando-lhe o ferimento.

Quando foi atendido pelos médicos no hospital já estava com a perna e o braço esquerdos paralisados. Lembrando-se das circunstâncias obscuras em que ocorreu a morte de seu filho mais velho e braço direito de Trotsky, Léon Sedov (Liova), num hospital de Paris, Natália, temia que o mesmo pudesse ocorrer com ele. Hansen prontamente orientou os seguranças para que o acompanhassem o todo tempo. Quando as enfermeiras começaram a cortar seus cabelos preparando a cirurgia, Trotsky de forma irônica lembrou a Natália que ela queria cortá-los no dia anterior: “Como vês … o barbeiro também veio”. As enfermeiras passaram a tirar suas roupas. Contestando, pediu a Natália que o fizesse. Inclinando-se sobre ele beijo-lhe os lábios. Ele retribuiu três vezes. “Foi nossa despedida”. Pouco antes havia encontrado forças para ditar algumas palavras a Hansen. Uma das frases foi “Estou certo … da vitória … da IV Internacional. … continuem!”.

Às 19 horas e 30 minutos, Trotsky entrou em coma. Lutou com a morte ainda por mais quase 12 horas. Em 21 de agosto de 1940, as 7 horas e 25 minutos da manhã veio a falecer.

O funeral

O funeral estava previsto para ocorrer em Nova York, mas o governo “democrático” de Roosevelt não se atreveu a dar o visto à entrada ao seu cadáver. Em 22 de agosto, um grande cortejo fúnebre marchou atrás do caixão pelas principais ruas da cidade do México, seguindo também pelos subúrbios mais pobres. Durante o percurso vozes entoavam uma balada folclórica o “Gran Corrido de Leon Trotsky” escrita por autor anônimo.

Durante 5 dias, o corpo ficou em exposição e cerca de 300 mil pessoas desfilaram ante ele. Em 27 de agosto, ele foi cremado e as cinzas enterradas no quintal da casa-fortaleza de Coyoacán. Uma pedra retangular branca foi colocada sobre a sepultura e uma bandeira dobrada sobre ela. Natália ainda viveria na casa por 20 anos.

Apesar do impacto, a imprensa não tratou com profundidade o assassinato de Trotsky. Em geral, o enfoque dado foi o de um ajuste de contas entre comunistas. Inclusive, houve muitos comentários favoráveis ao ocorrido, não só por parte dos jornais comunistas de todo mundo, mas também dos setores da direita.

Segundo o general e historiador Dimitri Volkogov, um artigo preparado para o Pravda mostrava como o stalinismo publicizava o fato. Sob o título “A morte de um espião internacional”, referia-se a “um homem cujo nome os trabalhadores do mundo pronunciam com desprezo e maldição”. Nem mesmo Stalin teria gostado do artigo. Incomodou-o a riqueza de detalhes e teria dito: “Quer dizer que durante todo esse tempo eu teria me dedicado a lutar contra um espião … ”. 5

Grandizo Muniz, trotskista espanhol, fundador da IV Internacional, encarregado de dirigir a seção mexicana que havia ficado desorientada depois da ruptura de Diego de Rivera, foi o orador do funeral (vide seu discurso publicado no EOL). A nova onda internacional de calúnias e injúrias lançadas contra Trotsky no momento de seu assassinato fez com que Muniz usasse seu discurso para defendê-lo. Nele respondeu também aos parlamentares stalinistas que o acusavam, assim como a Victor Serge, Júlian Gorkin (POUM espanhol) e Marceau Pivert (França), de serem agentes da Gestapo. Apesar das ameaças de morte, Muniz desafiou os deputados mexicanos a renunciar à imunidade parlamentar e a enfrentá-lo perante um tribunal, coisa que não ousaram fazer.

A história está resgatando Léon Trotsky

As circunstâncias históricas que cercaram a morte de Trotsky foram pródigas de notícias trágicas. Não por acaso, alguns denominam esse momento histórico de “a meia-noite no século”. Ao longo dos anos 30, as revoluções que chegaram a encher de esperança os explorados e oprimidos de todo o mundo – a exemplo da alemã, francesa e espanhola – foram sendo uma após a outra derrotadas pelas forças da reação, ajudadas pela política do stalinismo e da socialdemocracia. O fascismo e o nazismo foram [[assim]] dessa maneira conquistando cada vez mais posições que fortaleceram suas ambições expansionistas até desembocar na II Guerra Mundial.

Assim, em 13 de março de 1938, Hitler anexou a Áustria. Um ano depois, enquanto os fascistas venciam a guerra civil na Espanha, em 15 de março de 1939, Hitler invadiu a Tchecoslováquia. Em 22 de agosto de 1939 é assinado o pacto nazi-soviético, abrindo caminho para a ocupação da Polônia em 01 de setembro de 1939, dando início à II Guerra Mundial. Em junho de 1940, os nazistas ocuparam Paris. Em 10 de julho de 1940, tiveram início os bombardeios da Luftwaffe sobre a Grã-Bretanha.

Pouco antes, na ex-URSS, terminava um período que ficou conhecido como “Termidor” ou “Grande Expurgo”. Os chamados “Processos de Moscou” (1936-1938) foram seu ponto mais alto, resultando na condenação e execução dos mais renomados dirigentes da revolução de Outubro forçados a confessarem crimes que não cometeram. Vadim Rogovin, historiador e sociólogo russo, estima que durante este período ocorreram 4 milhões de detenções e 800 mil fuzilamentos, uma repressão política sem precedentes na história moderna. A morte de Léon Trotsky foi o ponto culminante dessa cadeia de extermínio. Depois da sua morte foi dada a ordem de eliminar os últimos trotskistas ativos nos campos de prisioneiros. Stalin pretendia com isso cortar de uma vez por todas o fio de continuidade histórica com o bolchevismo e Outubro.

Quando, em 1956, Nikita Kruschev abriu os arquivos da NKVD denunciando os crimes de Stalin, a verdade sobre Trotsky começou a vir à tona. Mas foi somente nos anos 60-70 que seu papel na história passou a ser mais notadamente reconhecido. Obras como a trilogia que Isaac Deutscher, (publicada em inglês entre 1958 e 1964 e no Brasil, em 1968), dedicou à biografia de Trotsky impactaram as novas gerações, inaugurando uma revalorização crescente de sua figura. Esta trilogia, na qual me apoio para escrever boa parte deste artigo, apesar de criticada por Pierre Broué, Jean Van Heijenoort, entre outros, teve um eco impressionante. Agora, mais recentemente, publicado pela primeira vez em 2009, o livro do cubano Leonardo Padura “O homem que amava os cachorros”, teve também uma grande repercussão.

No final do “Pós-Escrito” de seu terceiro volume, intitulado “Vitória na derrota”, Deutscher termina sua obra com tributo a Léon Trotsky. Considerando as terríveis circunstâncias históricas em que se deu seu assassinato, afirma:

Trotsky algumas vezes comparava o progresso humano à marcha de peregrinos avançando para seu destino com alguns passos para a frente e logo depois com uma volta ou um pulo para o lado; ziguezagueando assim, eles aproximavam-se laboriosamente de seu destino. Acreditava que seu papel era o de auxiliar os ‘peregrinos’ a avançar. Entretanto, quando a humanidade, após algum progresso, sucumbe ao pânico, faz com que os que vão à frente sejam aviltados, tripudiados e pisoteados até e morte. Apenas quando regressam ao movimento para a frente, é que prestam tributo às vítimas, veneram sua memória e piedosamente recolhem suas relíquias; é então grata a elas por todas as gotas de sangue que derramaram – pois sabem que aquele sangue alimentou a semente do futuro.”

Não por acaso a figura de Léon Trotsky desperta cada vez mais um enorme interesse. Apesar de até hoje não ter sido oficialmente reabilitado, as novas gerações se somam ao resgate de sua memória e o verdadeiro papel revolucionário que Lev Davidovich Bronstein desempenhou na história.

Veja o vídeo do funeral de Léon Trotsky.

https://www.youtube.com/watch?v=84_FnYLE1tQ

1 Arquivos da GPU-NKVD F.31 660, d. 9067,t,1,L.163 – Atuações no exterior. (Citado em Volkogonov, D., Trotsky. pg. 456). Volkogonov foi um general soviético responsável de abrir e classificar os arquivos da NKVD. Curiosamente, em 1992 escreveu uma biografia de Trotsky: “Trotsky – o eterno revolucionário”. Veja sobre o tema https://esquerdadiario.com.br/O-general-Dmitri-e-o-eterno-revolucionario-Trotski

2 Jaime Ramón Mercader del Río, nasceu em 7 de fevereiro de 1913, em Barcelona, e faleceu de câncer em 18 de outubro de 1978, em Havana. Passou grande parte de sua vida na França com sua mãe, Caridad del Rio, comunista espanhola bastante conhecida durante a guerra civil, se tornou uma agente vinculada a Moscou. Seu avô havia sido embaixador em Cuba. Em meados dos anos 30, ainda jovem, abraçou o stalinismo na Espanha. Pouco antes de iniciar a guerra civil viajou a Moscou para treinar as artes da sabotagem, guerrilha e assassinato. Preso por suas atividades foi libertado pelo governo de Frente Popular na Espanha em 1936. Mesmo preso e condenado, não revelou sua verdadeira identidade, nem suas conexões com a NKVD. Sua identidade só foi descoberta em agosto de 1953, e suas relações com a NKVD só com a dissolução da URSS em 1991. Em 1960 deixou a prisão e, em 1961, foi condecorado com a medalha de Herói da União Soviética, uma das mais altas comendas do país.

4 Idem, nota 1, pág. 466.