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A popularidade do governo e os nossos “30%”

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Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

Em dezembro de 2014, a então presidente da República Dilma Rousseff tinha a aprovação de 42% da população e apenas 24% a rejeitavam. Eram os números do Datafolha. Ela tinha acabado de ser reeleita e a expectativa era de um mandato tranquilo. Bastou quatro meses para tudo mudar. Sua aprovação em abril de 2015 era de 13% e 60% dos entrevistados achavam seu governo ruim ou péssimo.  Nunca mais se recuperou e acabou sofrendo um impeachment em 2016. 

Na última pesquisa do Datafolha, Bolsonaro melhorou sua popularidade, mas ainda apresenta um índice menor que o de Dilma antes de perder o mandato. 37% dos entrevistados aprovam o atual governo, enquanto 34% o considera ruim ou péssimo. Pesquisas são indicadores importantes, mas nunca dizem tudo sobre a opinião pública.  

Bolsonaro mudou a política e a rejeição diminuiu

É fato que a maioria do povo brasileiro deixou de se impactar com a pandemia e as mil mortes diárias são parte do novo normal. Boa parte das pessoas voltou a trabalhar e o comércio está aberto. O brasileiro médio já aceitou que vai se contaminar e perder conhecidos. Nesse ponto, Bolsonaro foi vitorioso e a pesquisa do Datafolha mostra este fato.

Também conta muito os mais de R$ 700 bilhões pagos a milhões de brasileiros por meio do auxílio emergencial. O Bolsonaro de 2015 dizia que este tipo de ajuda era coisa de “socialista”. Mas o Bolsonaro de 2020 sabe que investimento social aumenta a popularidade. O que melhorou a imagem do Presidente foi uma política de “esquerda” e não o programa ideológico do bolsonarismo. 

Ele parou de dar declarações à imprensa, parou de incitar um golpe de estado e demitiu Abraham Weintraub do Ministério da Educação. Este recuo deu certo e fez com que o presidente deixasse de ser visto como ameaça para muitos. É normal que este Bolsonaro aparentemente menos transloucado tenha menos rejeição. 

“Sair da bolha” é nossa única tarefa?

Voltemos à comparação com Dilma. O que fez a então presidente perder 30% de popularidade em quatro meses? O principal fator foi a mobilização feita pelos novos movimentos de direita, que começou logo após as eleições de 2014 e reuniu mais de um milhão de pessoas em março de 2015. 

Estes movimentos não tiveram medo de usar um discurso agressivamente antipetista mesmo com a popularidade de Dilma acima dos 40%. Eles sabiam que poderiam arrastar a maior parte da população após mobilizar aqueles que já rejeitavam a presidente. E a tática deu certo. Milhões de pessoas que achavam o governo a bom ou razoável se impactaram com os enormes atos de rua e mudaram de posição. 

Como foi demostrando no começo de 2015, uma grande parcela dos brasileiros não é fiel a um lado da disputa política. O que conta para esta maioria é o que acontece no momento. O desempenho da economia, as declarações do governante, as denúncias de corrupção. Mas um fator decisivo é qual lado da disputa tem os defensores mais mobilizados. 

Bolsonaro consegue manter sua popularidade porque tem uma multidão de pessoas convictas, dispostas a defendê-lo nas ruas e nas redes sociais. Não passa de 15% da população, mas é o suficiente para arrastar outros tantos que não têm uma convicção formada. Ao ver pessoas defendendo o governo com tanta paixão, o brasileiro médio se convence de que o presidente talvez não seja tão ruim assim. 

Antes de tudo, subir o moral de nossa tropa 

Muitos se fala nos tais “30%” do Bolsonaro. Este número não quer dizer muita coisa. Muitos que antes não gostavam do presidente agora estão aprovando o governo. Muitos que votaram nele hoje o rejeitam. Os “30%” de hoje não são os mesmos “30%” de seis meses atrás. Mas as pesquisas mostram que, de fato, 15% da população é fiel ao bolsonarismo. 

Não podemos perder tempo com esta parcela pequena, mais fanática. Se uma liderança bolsonarista for flagrada em uma cena explícita de pedofilia, essa parcela é capaz de dizer que foi montagem, uma “fake news” da esquerda para atingir o presidente. Nenhum sorriso simpático ou demonstração de empatia vai mudar isso. 

Existe a maioria da população, que é vacilante. Com estes, compensa gastar nosso tempo e paciência. Mas a maioria só vai levar a oposição a sério quando já existirem algumas dezenas de milhares de pessoas organizadas e mobilizadas contra o governo.  

Por isto é tão importante prestar atenção em nossos “30%”. Sim, porque as pesquisas sempre mostram que tem aquela parcela da população que, faça chuva ou faça sol, rejeita o atual Presidente. Se organizados e mobilizados, esses 30% são capazes de arrastar a maioria da população para a oposição. 

No Brasil de 150 milhões de eleitores, 45 milhões jamais vão aceitar este governo. Se levarmos um décimo dessa massa às ruas, Bolsonaro cai. Claro, quando pudermos voltar completamente às ruas. 

Não é um trabalho fácil. O sentimento de ser minoria, o espanto em ver o governo ter popularidade após 100 mil mortes, tudo isto gera desânimo. Mas temos que manter o nosso pessoal de cabeça erguida. 

Aqueles que já rejeitam este governo devem rejeitar mais ainda, a ponto de estarem dispostos à ação. Aqueles que se sentem inseguros devem ter a confirmação de que estão do lado certo da história. Aqueles que querem ir para o debate devem ser munidos com os melhores argumentos. E cada pessoa que está entre os nossos deve ter a confiança de que não está sozinha e que um dia a situação vai mudar. 

Falar com quem pensa diferente é importante. Mas tão ou mais importante é fortalecer quem já está conosco. Isto será decisivo quando tivermos condição de virar o jogo. 

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Governo Bolsonaro