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MUNDO

210 anos do massacre aos líderes do 1º Grito de Independência do Equador

David Cavalcante, de Recife (PE)

En los muros sangrientos de Quito fue donde España, la primera, despedazó los derechos de la naturaleza y de las naciones. Desde aquel momento del año 1810, en que corrió sangre de los Quiroga, Salinas, etc., nos armaron con la espada de las represalias para vengar aquéllas sobre todos los españoles… Españoles y canarios contad con la muerte aunque seáis indiferentes, si no obráis por la liberación de América, Venezolanos contad con la vida aunque seáis culpables.

Decreto de Guerra a Muerte: Simón Bolívar el 15 de junio de 1813 en la ciudad de Trujillo.

Neste 2 de agosto, a Câmara Municipal da Cidade de Quito, capital do Equador, celebrou virtualmente a memória dos prisioneiros executados e dos combatentes que tombaram nas batalhas de rua que ocorreram em defesa dos prisioneiros, membros que compuseram a 1ª Junta de Governo Autônoma de Quito, no evento que ficou reconhecido por historiadores como o 1º Grito de Independência das colônias espanholas das Américas, ocorrido um ano antes do referido massacre, em 10 de Agosto de 1809, e fez desencadear o processo revolucionário de libertação nacional o qual foi consagrado anos depois nas batalhas lideradas por Simon Bolívar em 1822, que dirigiu a formação da Grande Colômbia.

A administração colonial espanhola nas Américas era dividida principalmente entre os vice-reinados e as capitanias, que tinham status diferenciado de acordo com o potencial de espoliação e saques em favor da Coroa e da nobreza espanhola, principalmente dos metais preciosos existentes na Abya Yala, designação do continente dada pelos povos originários.

O então Vice-Reinado da Nova Granada foi criado por um decreto real em maio de 1717, abrangendo a administração das posses usurpadas pela Coroa Espanhola, após diversos massacres e genocídios dos povos ancestrais que por aqui já viviam há milhares de anos, e seria o que hoje é a região equivalente aproximada dos territórios do Equador, Colômbia, Panamá e Venezuela.

A criação dos vice-reinos (Nova Espanha, Nova Granada, do Peru e do Rio da Prata) buscou um maior e mais eficiente controle administrativo dos sistemas de espoliação e comercialização de todas as matérias-primas saqueadas das colônias. A delimitação geográfica e divisão de tarefas na colônia tiveram a função de tutelar a produção de metais preciosos e permitir lidar com a pirataria que não passasse pelas rotas oficiais em direção ao continente europeu. A cidade de Bogotá era a capital daquela região, convertendo-se assim num dos principais centros da gestão do império espanhol do continente.

Uma das características da colonização era o uso da violência nos castigos corporais, estupros e diretamente execuções a mando das autoridades coloniais contra os nativos, que também eram vítimas de contaminação de doenças europeias para os quais não tinham ainda imunizações naturais. Os povos originários também se enfrentaram em vários conflitos e guerras contra os colonizadores, a exemplo do levante anticolonial liderado por Tupac Amaru II, em 1781, no Peru, entre tantos, durante um longo processo de luta que até os dias de hoje ainda se manifesta nos conflitos e levantes das populações nativas em muitos territórios do continente contra o agronegócio, o extrativismo predatório, as madeireiras, as mineradoras e os garimpeiros.

A hierarquia social e política das colônias eram atribuídas em primeiro lugar para quem era espanhol, nascido no continente europeu e designado pela Coroa Espanhola para exercer alguma função administrativa, jurídica, militar ou religiosa, eram chamados de “chapetones”, e também eram proprietários diretos de minas e fazendas.

Os filhos dos chapetones e seus sucessores, fruto do casamento entre duas pessoas brancas, eram chamados de “crioulos”, que eram de um estamento abastado constituindo as elites locais, podendo ser comerciantes e proprietários de terras para exploração da força de trabalho nativa e escrava. Os crioulos porque não eram nascidos na Espanha tinha sua ação restritas nas câmaras locais, a exemplo dos “cabildos” que resolviam problemas judiciais, administrativos e políticos como a administração de bens comuns, o policiamento e higiene das ruas, ensino, abastecimento, determinação de valores de venda de serviços e bens, regulamentação de ofícios urbanos, regulamentação de um sistema de pesos e medidas, etc.

Já os “mestiços” eram pessoas livres, mas que não exerciam nenhum poder local por serem a maioria dos trabalhadores nativos ou comerciantes pobres não-escravizados ou não submetidos ao regime de servidão, e na base da pirâmide social havia os indígenas que através da “mita” (imposto pago pelo trabalho compulsório por um período a um determinado grupo indígena) e da “encomenda” (recrutamento forçado por um encomendador) compunham a força de trabalho decisiva da base da pirâmide social, explorados através da escravidão direta e semiescravidão. Em algumas regiões havia força trabalho de negros escravizados.

A segmentação e a hierarquia entre chapetones e crioulos foram motivos de vários conflitos políticos. No contexto das guerras napoleônicas contra as monarquias europeias, as administrações locais compostas por representantes dos crioulos se fortaleceram em suas aspirações autonomistas, liberais e independentistas. Os ventos libertários da Revolução Francesa e da Independência das 13 Colônias Britânicas do Norte da América também influenciaram aspirações republicanas e anticoloniais no continente, a exemplo também da Revolução republicana e antiescravista Haitiana.

O 2 de agosto de 1810 foi uma das muitas batalhas que se seguiriam contra a já decadente relação colonialista da Espanha e seus mandatários fiéis realistas no continente. Os realistas, nesta data, conseguiram reprimir brutalmente o levante que iniciou com a ocupação popular contra um presídio e dois quarteis de Quito com a intenção de libertar os heróis que haviam participado e apoiado no ano anterior da Primeira Junta do Governo Autônomo de Quito, resultando na acusação ​​de crimes contra a monarquia absolutista, que gerou um pedido de punição de pena capital para 46 pessoas e pelo menos 30 ao desterro.

Antes da execução das penas, o povo de Quito invadiu dois quartéis e a prisão, mas as autoridades realistas que comandavam milhares de soldados regulares e superioridade militar, responderam executando os prisioneiros e apoiadores. O combate físico e armado se espalhou pelas ruas da cidade, seguidos por pilhagem e ataques às residências de quaisquer suspeitos, sem poupar crianças ou idosos. Entre 200 e 300 pessoas (1% da população da época) perderam a vida nos enfrentamentos. A batalha foi perdida, mas a semente foi plantada para as futuras vitórias patrióticas que viriam e não demorariam tanto, pois o sentimento de revolta se difundiu mais ainda não somente em Quito, mas em Caracas, em Bogotá e nos rincões do continente.

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equador / história