O ano de 2020 tem sido um dos mais difíceis para os estudantes e para a classe trabalhadora, a pandemia global do novo corona-vírus alterou praticamente todas as relações sociais que permeiam nossas vidas, desde as relações de trabalho, nossa vida social e ainda aprofundou a crise política e econômica que assola o Brasil. A UFSCar também faz parte deste contexto. Nossa universidade teve que paralisar suas atividades presenciais este ano e adentrou o formato de ensino remoto, processo este que expôs ainda mais as desigualdades dentro da comunidade da UFSCar. Neste momento, com todas as contradições expostas acima, se inicia o período das eleições para a reitoria, com votações abertas entre 03/08 e 05/08. Estas eleições não se diferenciam do resto das atividades tocadas pela UFSCar e serão realizadas virtualmente, excluindo deste processo muitos estudantes e não dando a oportunidade para que pensemos um programa para nossa universidade com todas as categorias da nossa universidade.
A falta de democracia dentro da UFSCar não nos é uma surpresa, em 2019 grandes decisões foram tomadas em reuniões de conselhos de portas fechadas, onde os estudantes – a maior categoria da universidade, diga-se de passagem – não puderam fazer suas reivindicações e contribuições ao debate, e isto é apenas um exemplo de um problema histórico. Além disso, as eleições em si se tornam extremamente consultivas, pois fica a cargo do presidente da república a palavra final sobre quem ocupará a posição da reitoria. Desta forma, também se torna nossa tarefa a exigência e a pressão para que a chapa mais votada seja a escolhida.
Dando início à nossa análise das chapas, destacamos que estamos diante de um processo eleitoral de embate à extrema-direita, onde estamos apoiando criticamente a Chapa 2, Juntos Pela UFSCar, com a qual possuímos grandes diferenças do seu programa como apresentaremos mais abaixo. Acreditamos que esse apoio se trata sobretudo de buscar interromper o avanço do projeto bolsonarista de precarização da educação em uma Universidade silenciada e vendida ao capital financeiro.
A chapa 1 – Por uma UFSCar Notável, se apresenta enquanto um programa “apolítico”, e nós, como futuros cientistas sociais, devemos estar atentos no que diz respeito aos “filtros” propostos por este programa ao tratar dos projetos de pesquisa realizados na UFSCar, afinal, é fundamental que haja autonomia de pesquisa quando tratamos de uma universidade pública. Pensando em nosso curso, especificamente, em que a produção científica toma como base diferentes contextos históricos e relações sociais, é imprescindível que possamos manter o cunho crítico de nossas pesquisas e estudos.
Com propostas cunhadas pela perspectiva neoliberal e meritocrática de um professor pesquisador – colaborador da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), que toma nossa universidade como uma escola militar, esse programa prevê, além de outros retrocessos, o fechamento do campus – que é um espaço público – durante a noite, restringindo a entrada à comunidade universitária, cadastro biométrico e instalação de câmeras em locais “estratégicos”, medidas que afetam diretamente nossa liberdade no campus, principalmente dada a devida conjuntura. A chapa também valoriza o orçamento privado dentro da nossa universidade, deixando claro que pretende continuar e acelerar a precarização do ensino em nossa universidade. Nós não podemos permitir que esses ideais privatistas e autoritários de como deve se dar a administração de uma universidade pública ganhem mais espaço do que já tem. Suas propostas estão longe de solucionar os problemas da nossa universidade, pelo contrário, não só estão distantes das necessidades já históricas do corpo universitário como têm em vista dissolver as conquistas que obtivemos ao longo dos anos.
No que se refere à permanência estudantil, a chapa não apresenta planos ou projetos para que haja expansão ou inovação no que se refere à estudantes em situação de vulnerabilidade na universidade. Sabendo do alinhamento do candidato a reitor ao Governo Bolsonaro, e tendo como referência as ações do atual governo federal sobre questões de opressão, que são amplamente reproduzidas no espaço universitário, e devemos nos posicionar de modo concreto contra esse plano de gestão, tendo em vista a urgência da ampliação das medidas de permanência estudantil, para que não haja retrocesso sobre anos de lutas por integração de minorias em um ambiente elitista, burguês e majoritariamente branco.
A chapa 3 – Construir Juntos apresenta um plano de gestão que pouco se difere do que a elegeu em 2016, dando continuidade ao programa já iniciado no período em que esteve à frente da reitoria da UFSCar. Nós, estudantes já conhecemos a administração da Prof.ª Wanda Hoffmann e a prática de suas políticas na instituição. Sua gestão se destacou dentro e fora da universidade pela falta de transparência, repressão, precarização, e descaso no que se refere à participação da comunidade universitária acerca das deliberações de políticas que afetam diretamente os estudantes que se encontram em situação de vulnerabilidade. É uma gestão submissa às necessidades do mercado, que fomenta a perda da autonomia dentro da universidade comprometendo o avanço científico em sua posição conveniente com o desmonte da educação pública.
A violência em todos os sentidos para com os estudantes e trabalhadores da universidade pôde ser observada em diversas situações, como quando houve o aumento absurdo no preço do R.U – que resultou em uma criminalização do movimento estudantil, em um pedido de reintegração de posse e em um processo jurídico aplicado a nove estudantes que participaram da manifestação; com a tentativa de aprovação do projeto Future-se – onde a reitora absteve-se do debate com movimento estudantil e agiu de modo conivente com o sucateamento da educação pública; com a proibição da participação estudantil nos ConsUnis de 2019 – com apoio do prefeito universitário, os guardas da universidade foram chamados para impedir a participação dos discentes no espaço; com o voto de minerva a favor de um aluno estuprador, dentre outras ações arbitrárias e violentas.
Ao estudarmos a carta programa da Chapa 2, Juntos pela UFSCar, percebemos, novamente, vários pontos que não condizem com a política educacional proposta por nossa gestão e pela qual lutamos, porém por compreendermos de conjunto a disputa com duas chapas de extrema-direita, acreditamos que é essencial a nossa declaração de apoio crítico à Chapa 2, pois compreendemos que este é um momento crítico para a UFSCar, com um grande avanço do fascismo e do neoliberalismo e é importante que os estudantes se engajem na votação e fiquem atentos quanto ao processo dessas eleições. Temos nossas críticas e diferenças para com o programa apresentado pela Chapa sobre as políticas para o Ensino Remoto, que nesse momento tem se tornado uma porta de entrada da iniciativa privada nas universidades públicas através de contratos para acesso à plataformas virtuais com monopólios da internet como a Google, além de seu caráter excludente para milhares de estudantes que não têm condições materiais de acompanhar o ensino remoto, além de abrir brecha para uma maior precarização do ensino. Outra grande questão, muito cara para nós do Movimento Estudantil é a necessidade de contato com os estudantes na formulação e escrita do programa, ponto que consideramos essencial para que nossas pautas sejam garantidas. Desta forma, exigimos que o diálogo com o movimento estudantil e suas entidades como DCE, CAs, DAs, CCI e Comissão de Moradia seja permanente por parte da Reitoria, pois isto é fundamental para que tenhamos uma Universidade verdadeiramente democrática, popular e participativa, para além dos Conselhos que limitam a participação dos estudantes, maior categoria da Universidade, para somente 15% das cadeiras. Nossas críticas buscam aprimorar o programa da chapa em questão e também uma construção conjunta e com diálogo entre entidades, instituições e outras categorias da universidade, tão necessário nesse momento.
No entanto, valorizamos muito as críticas abertas da Chapa 2 ao Future-se e ao Governo Bolsonaro, a defesa enfática da permanência estudantil, das ações afirmativas e da democracia interna. Também nos chama a atenção o compromisso com a valorização dos nossos espaços, para nós do CAJAR que sempre ocupamos nosso gramado com atividades culturais e somos constantemente assediados pela guarda universitária por usarmos um espaço que é nosso por direito, são pontos muito importantes, sobretudo quando a gestão atual da Reitoria não vê problema em permitir a entrada da Polícia Militar no campus. É importante lembrar, contudo, que nossa única garantia de que as boas propostas da chapa vão se concretizar é nos organizarmos em torno de nossas entidades e fortalecer o Movimento Estudantil, fazendo nossas exigências com força e ação.
Concluímos nossa nota afirmando que os estudantes de ciências sociais estiveram sempre na luta, e assim seguiremos independente da chapa a ser eleita. Nossa Entidade de Base leva o nome de José Albertino Rodrigues, um Cientista Social da práxis, que sempre lutou em defesa da Universidade Pública, da valorização de nossa profissão, de um país democrático. Nas eleições dos dias 3 a 5 de agosto, convocamos os estudantes de Ciências Sociais à desafiadora tarefa de eleger e empossar a chapa 2 para vencer a extrema-direita, pois o chão em que pisamos é fruto de resistência!
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