A partir do dia 25 de maio, quando ocorreu o brutal e criminoso assassinato do trabalhador negro George Floyd por um policial branco e racista, os EUA vivem uma forte onda de protestos antirracistas, quase que ininterrupta.
No último final de semana, as manifestações antirracistas voltaram a crescer, especialmente como uma reação a brutal repressão desferida pelo governo Trump, que vem enviando tropas federais para várias cidades onde seguem ocorrendo protestos.
Na semana passada, o foco principal dos protestos foi na cidade de Portland, no Estado de Oregon, onde acontecem protestos diários há cerca de dois meses. Portland é conhecida pela tradição de manifestações populares e atuação de movimentos sociais e organizações de esquerda.
O envio de tropas federais para Portland, inclusive com blindados, e especialmente a forma brutal e criminosa com que atuaram, gerou uma grande revolta, ampliando e radicalizando os protestos. Trump chegou a deslocar tropas federais que atuam prioritariamente na fronteira com o México, na repressão à imigração, e são conhecidas por sua violência e prática de crimes contra as populações pobres, especialmente latino-americanas.
Como um dos símbolos dos grandes atos de violência do último final de semana, em Austin no Texas, um manifestante chegou a ser morto depois de ser atingido por tiros vindo de um carro. Um fato gravíssimo que ainda está sendo investigado.
A atuação ilegal destas tropas federais vem se revelando como um verdadeiro terror de Estado, com agentes sem identificação, com a prática de sequestros de manifestantes, com a realização de prisões de forma indiscriminada e ilegais. Ações que tem como marca principal uma violência absurda.
O fato é tão grave que prefeitos e governadores, ligados a oposição a Trump, como em Portland e Seattle, chegaram a se declarar publicamente e de forma veemente contrários ao envio de tropas federais e se somaram ao chamado dos protestos para que estes agentes sejam expulsos destas localidades.
Até o Comissariado da ONU para os Direitos Humanos chegou a emitir uma nota de alerta contra a violência desproporcional que está sendo usada pelo governo estadunidense contra manifestações e sobre a realização de prisões ilegais e arbitrárias.
Na última quinta-feira, o próprio departamento de justiça estadunidense disse ter aberto um processo para apurar a atuação das tropas federais contra as manifestações. Mas, na sexta, a Justiça de Oregon se negou a proibir as prisões de manifestantes por tropas federais.
Como uma contundente resposta a escalada autoritária de Trump, no último fim de semana, novamente as manifestações se espalharam pelo país, e chegaram em várias regiões diferentes, como por exemplo: Louisville, Kentucky, Nova York, Omaha, Oakland, Los Angeles, Chicago, Washington e Seattle.
Na pauta das manifestações agora se destaca o fim do envio e da atuação das tropas federais contra os protestos, além da pauta antirracista e contra a violência policial.
Mais do que nunca é necessário que os movimentos sociais e a esquerda realizem uma ampla campanha internacional de denúncia da brutal repressão e do terror de Estado desferido por Trump, apoiando de forma ativa as manifestações antirracistas nos EUA.
Trump aposta na polarização
A menos de 100 dias para a realização das eleições presidenciais, confirmadas para 3 de novembro, Trump vive grandes dificuldades para conseguir a sua reeleição. Principalmente, por três elementos: os EUA vivem uma nova onda de crescimento da pandemia, com um salto tanto no número de novos infectados e mortos; com a Covid-19 eclodiu também uma forte crise econômica, com graves consequências sociais; e, principalmente, o prosseguimento e a profundidade do levante antirracista.
Numa eleição ainda indefinida, as pesquisas de opinião dão vantagem ao candidato do partido democrata, Joe Biden, por índices que variam entre 8% e 15%. Inclusive, sempre é bom lembrar que as eleições presidenciais dos EUA são definidas de forma indireta, por um conselho eleitoral formado por delegados escolhidos nos Estados, e nem sempre quem tem mais votos populares realmente leva. Por exemplo, o próprio Trump foi eleito, em 2016, com menos votos (cerca de 2%) que a democrata Hillary Clinton.
O projeto econômico de Biden não difere qualitativamente dos republicanos, e até por isso ele vem tendo dificuldades de mobilizar os eleitores mais críticos, especialmente os jovens, que apoiaram o senador Bernie Sanders nas prévias do partido democrata. Ainda faz falta uma candidatura presidencial que represente realmente as manifestações antirracistas e os movimentos sociais dos EUA.
Neste cenário, ao que tudo indica, Trump vem apostando na polarização política contra os protestos antirracistas, para tentar mobilizar a sua base eleitoral mais reacionária. Seguindo na mesma linha, alguns de seus aliados mais próximos, como o senador por Arkansas, o republicano Tom Cotton, chegou a declarar na imprensa que a escravização dos negros nos EUA foi um mal necessário e que o movimento negro e antirracista é apenas uma propaganda esquerdista.
A estratégia eleitoral dos republicanos esbarra, até agora, num fato muito importante: a maioria da população estadunidense segue apoiando os protestos antirracistas e se colocando contra a brutal repressão desferida pelo atual governo.
A eleição de Trump foi um símbolo do fortalecimento do projeto de extrema direita no mundo. A derrota de sua reeleição, pode ter um sinal inverso, fortalecendo as lutas dos movimentos sociais e antirracistas nos EUA e no Mundo.
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