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MUNDO

Trump enfrenta rejeição até entre eleitores do seu próprio partido

Aliado de Bolsonaro, presidente dos EUA enfrenta grandes dificuldades para se reeleger em novembro

André Freire, colunista do Esquerda Online
Alan Santos/PR

(Osaka – Japão, 28/06/2019) Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante Reunião bilateral com o senhor Donald J. Trump, Presidente dos Estados Unidos da América.

Aproxima-se a eleição presidencial nos EUA, confirmada para o dia 3 de novembro deste ano. O cenário político não podia ser pior para o atual governo, do partido republicano: o país é assolado por um novo pico da pandemia de Covid-19; a crise econômica é uma realidade cada vez mais sentida pela maioria da população; e o país segue conflagrado pelo Levante Negro contra o racismo estrutural, iniciado com os protestos contra o brutal assassinato do trabalhador negro George Floyd, por um policial branco e racista.

Logo neste momento, onde Donald Trump já enfrenta grandes dificuldades políticas, se fortalece um movimento contra sua reeleição vindo justamente de setores republicanos, o partido do governo. Uma página na internet conhecida como “Eleitores Republicanos contra Trump”, vem publicando depoimentos de pessoas arrependidas de terem votado em Trump em 2016 e, mesmo sendo apoiadores de seu partido, afirmam que não votarão no atual presidente novamente em novembro deste ano.

Outra iniciativa no mesmo sentido chama-se “The Lincoln Project”, lançada em dezembro passado, ainda antes da pandemia, por iniciativa de lideranças políticas também identificadas com o partido do atual presidente.

O que chama atenção não é tanto o número de depoimentos e o fato de existir uma oposição a Trump entre simpatizantes do partido republicano, afinal também em 2016 houve alguma rejeição contra ele entre parte dos eleitores e lideranças do seu próprio partido – o que não impediu sua vitória eleitoral. Em 2016, Trump perdeu na votação popular para a candidata democrata, Hillary Clinton, por 2% dos votos, mas foi eleito na eleição indireta do colégio eleitoral dos delegados dos Estados (a eleição dos EUA é feita de forma indireta).

Mas, agora, em 2020, as campanhas de republicanos contra Trump estão mais fortes. Por exemplo, as cifras financeiras arrecadas entre apoiadores destas campanhas estão qualitativamente maiores, chegando na casa dos milhões de dólares. Já existem, inclusive, comerciais pagos de “republicanos contra Trump” na Fox News, canal de TV identificado com um público mais conservador, veiculados principalmente em Estados decisivos para o resultado das eleições de novembro.

O principal rival eleitoral de Trump é o candidato democrata Joe Biden. Ele vem liderando todas as pesquisas de opinião, com uma vantagem que vem variando entre 9% e 15%. Seu crescimento se explica muito mais pelo crescente desgaste de Trump do que por seus próprios méritos.

Afinal, Biden não tem uma agenda econômica muito distinta dos republicanos, e ele continua não empolgando os eleitores mais jovens e defensores das ideias “socialistas democráticas”, que cresceram na esteira do fenômeno político liderado Bernie Sanders. De fato, ainda falta uma verdadeira alternativa política que represente nestas eleições os 99%, mas é inegável que o voto útil contra Trump vem beneficiando o candidato democrata.

Diante da possibilidade da derrota em novembro, Trump em recente entrevista já ensaiou até um discurso sobre possíveis fraudes eleitorais, em relação aos votos enviados pelo correio (mecanismo permitido nas eleições estadunidenses), demonstrando que pode não reconhecer o resultado, caso ele seja contrário aos seus interesses políticos.

Em baixa

A popularidade de Trump nunca esteve tão baixa em todo o seu período de governo. Os dados de algumas pesquisas chegam a demonstrar que apenas 36% dos entrevistados avaliam positivamente a atual administração, enquanto 60% a desaprovam.

A pandemia voltou a ser um gravíssimo problema nos EUA, com o país batendo recordes em cima de recordes, tanto de novas mortes como de novos infectados. Os números totais falam por si: já são mais de 143 mil mortos e quase 4 milhões de infectados, levando em conta os dados oficiais.

Até outro dia, sequer orientar o uso de máscara Trump se dignava a fazer: qualquer semelhança com Bolsonaro, não é mera consciência. A postura negacionista do atual presidente no início do Pandemia e os gravíssimos erros no combate à doença, especialmente com a precipitada reabertura da economia em várias regiões do país, evidenciam a responsabilidade direta de Trump pelo completo fracasso do combate a Convid-19 na maior economia do mundo.

E, por falar em economia: O que seria o “carro-chefe” da campanha da reeleição de Trump, virou mais um tema de grande dificuldade para o atual governo. Pois, principalmente com a eclosão da pandemia, o período de crescimento da economia estadunidense ficou no passado. Projeções do mercado já falam em queda de 4,6% do PIB dos EUA em 2020. Sem falar na s dificuldades impostas pela intensificação da guerra comercial e geopolítica entre EUA e China.

Neste momento, o melhor cenário para Trump seria uma rápida recuperação econômica. Mas, essa mudança aconteceria em tão pouco tempo? a ponto de influenciar numa eleição que acontece a pouco mais de 3 meses? Veremos.

Mas, os erros de Trump não param na pandemia e na economia. Não bastava suas absurdas declarações a favor da preservação de estátuas de figuras que simbolizam o passado escravista estadunidense, a sua atitude criminosa, reacionária e repressora em relação as justas e legítimas manifestações contra o racismo é outra fonte de forte desgaste do atual presidente.

Inclusive, no início desta semana, uma nova repressão revoltante aconteceu, agora contra uma manifestação em Portland (Oregon) e novas ameaças de Trump sobre o uso ostensivo da forças federais contra os manifestantes, especialmente em Chicago e Nova York, fez crescer ainda mais a atual indignação popular e deve gerar uma retomada mais forte dos protestos, que na verdade nunca se interromperam completamente desde a morte de Floyd.

A esquerda socialista e os movimentos sociais em todo mundo devem apoiar cada vez mais os protestos contra o racismo nos EUA, e demais movimentos de luta dos trabalhadores e da juventude, denunciando fortemente as ações de repressão do governo Trump.

A eleição de Trump, em 2016, foi um ponto de inflexão a favor de projetos políticos autoritários e de extrema direita em várias partes do mundo, influenciando inclusive aqui no Brasil e na América Latina. Sua derrota eleitoral, em novembro próximo, poderia ter um sentido inverso, marcando uma derrota importante deste “novo” projeto de nacional imperialismo. Portanto, acompanhar de perto este processo político tem uma importância para a luta dos explorados e oprimidos em todo mundo.

Referências:
Folha de São Paulo: Pressionado, Trumo incentiva, pela primeira vez, americanos a usarem máscaras
Folha de São Paulo:  violência em Portland, Trump ameaça mandar forças federais a outras cidades 
O Globo: Goldman Sachs amplia previsão de queda do PIB dos EUA para 2020
Uol: Eleições dos EUA 2020: como funcionam, quem concorre e quando acontece
Folha de São Paulo: Trump se nega a afirmar se aceitaria derrota nas eleições dos EUA