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EDITORIAL

Boulos e Erundina: um movimento de resistência em SP

Editorial 23 de julho
Divulgação

As eleições de 2020, apesar de serem municipais, serão marcadas pelos fenômenos nacionais que atingem todos aspectos da vida. A começar pelos impactos da pandemia e a resposta à crise econômica e social. As eleições também serão palco do necessário enfrentamento ao governo Bolsonaro e sua política genocida, bem como aos ataques contra os direitos dos trabalhadores, às garantias democráticas, ao meio ambiente e ao patrimônio público.

O PSOL se apresenta consciente dessas tarefas. Desde o golpe parlamentar de 2016, o partido teve como prioridade o enfrentamento com a extrema direita e o neofascismo. Foi um ponto de apoio para a construção da unidade da esquerda e para a mobilização da classe trabalhadora, especialmente dos seus setores mais oprimidos – mulheres, negros e negras, LGBTs, juventude.

Essa localização política correta se expressou na decisão dos filiados do partido em São Paulo, que escolheram Boulos e Erundina para representar o PSOL na disputa à prefeitura da maior cidade do país.

A unidade entre o MTST – principal movimento social da cidade – com o PSOL, que já se apresenta como principal representação política dos setores oprimidos, é o coroamento de uma aliança que se deu nas lutas concretas. Essa unidade que vem de muito tempo, passou pelo enfrentamento à política econômica do governo Dilma, e, diante do golpe da direita, lançou a Frente Povo Sem Medo, como instrumento de unidade e mobilização contra a ofensiva reacionária. Nos levantamos contra o assassinato de Marielle e construímos ativamente as manifestações do “Ele Não”, em 2018, e o “Tsunami da Educação”, em 2019.

Nas eleições presidenciais de 2018, a candidatura presidencial do PSOL ficou espremida eleitoralmente pelo fenômeno bolsonarista e a pressão pelo voto útil em Haddad e Ciro, mas ajudou a eleger mais deputadas mulheres, mulheres negras e ativistas no país todo, dobrando a bancada parlamentar do PSOL. Boulos aproximou mais o partido das lutas do nosso povo.

Na capital paulista, essa unidade entre o MTST e o PSOL foi e segue sendo responsável pelas principais mobilizações sociais, inclusive no momento em que foram convocados atos de rua, mesmo em meio à pandemia, para botar freios na sanha golpista de Bolsonaro.

Os desafios para o PSOL nas eleições em SP

A candidatura de Boulos e Erundina tem uma primeira tarefa, que é ser um polo de resistência ao bolsonarismo. Nessas eleições, caberá ao PSOL representar a oposição ao governo neofascista. Bruno Covas, atual prefeito, é a continuidade da gestão de João Dória. Essa dupla fala em isolamento social, mas não deu condições ao povo de se proteger da pandemia. Cederam ao empresariado paulista e estão organizando uma verdadeira marcha para a morte, enquanto disputam com Bolsonaro a liderança da direita. Será papel do PSOL demonstrar que, apesar das farpas que trocam eles, são aliados na destruição dos direitos e dos serviços públicos e responsáveis pelas péssimas condições de vida que assolam os trabalhadores paulistanos.

Também teremos que demonstrar que a chamada centro-esquerda, na figura de Márcio França, não pode ocupar o posto de oposição, porque a democracia que prega não inclui o combate à desigualdade social.

Sabemos que o PT se dividiu, uma parte importante não se sente representada por Jilmar Tatto, que é pré-candidato à prefeitura pelo partido. O PSOL terá o desafio de ser generoso e estender a mão para a militância petista, colocando a candidatura de Boulos e Erundina a serviço a todos que desejam empunhar um programa de ruptura e de transformação radical em prol dos interesses da maioria. Será uma campanha, portanto, para ir além das fronteiras do pŕoprio partido.

As pesquisas empolgam a militância de esquerda na cidade e em todo o Brasil, pois colocam Boulos (PSOL) em condições de ir segundo turno. É realmente animador e isso nos motiva a disputar este espaço. No entanto, é cedo para dizer que esse cenário irá se confirmar.

O crescimento das votações do PSOL, especialmente nas eleições proporcionais, é uma tendência, mas ainda somos minoritários na correlação política de forças, em comparação com o fenômeno da extrema-direita. É verdade, porém, que o bolsonarismo, enfraquecido e desgastado, não vive seu melhor momento. Isso pode se refletir positivamente nas eleições para a esquerda. É nossa aposta.

O que podemos afirmar é que a força do PSOL está na radicalidade de suas propostas, como a bandeira da Reforma Urbana, para acabar com o déficit habitacional na capital e enfrentar o genocídio da juventude negra e a pobreza e miséria crescentes nas periferias.

Importa defender que o transporte público esteja a serviço do povo e não das máfias, retomando o controle público sobre ele e implementando a tarifa zero. É preciso reivindicar também um programa de obras públicas capaz de dar conta dos desafios de infraestrutura da capital e que, ao mesmo tempo, gere empregos, ajudando a acabar com a farra dos aplicativos de entrega que escravizam a juventude desempregada. São propostas concretas e estruturais, que só serão possíveis de conquistar com mobilização popular.

Por isso, é preciso valorizar os locais em que o PSOL manteve um corte de classe na definição do arco de alianças, como no caso do Rio de Janeiro. Justamente porque o programa que defendemos não pode ser aplicado por meio da conciliação com partidos da direita e burgueses. Daí não vem nossa força, mas nossa fraqueza, como demonstrado na experiência de governos petistas de conciliação de classes. Nossa fortaleza vem da mobilização e organização dos trabalhadores, das mulheres, negros e negras, LGBTs, sem-teto, sem-terra e da juventude. Em razão disso, temos uma candidatura forte em São Paulo, que é mais que uma candidatura, é um movimento.