Desde as eleições de 2018 uma tarefa fundamental se coloca para a esquerda brasileira e para as forças progressistas do país: o enfrentamento a extrema direita e a derrota de seu projeto. Nesse sentido as eleições municipais de 2020 terão um importante papel no quadro político nacional de servir de apoio para a derrota nas ruas da extrema direita. A disputa nas eleições está em aberto, podem ajudar a consolidar e enraizar as influências da extrema direita ou lhe impor uma derrota que lhe fragilize abrindo uma brecha para sua derrocada.
Bolsonaro chegou ao poder em um momento de aprofundamento da crise política que provocou um grande descredito as instituições e as representações políticas tradicionais. Ele e um grande número de candidatos ancorados na imagem política do outsider – aquele político que estaria fora dos velhos esquemas de poder a corrupção –, e de um discurso baseados na ideia de combate ao crime e a corrupção e a defesa de valores tradicionais, se elegeram, tendo na verdade um projeto efetivo de destruição das organizações dos trabalhadores e trabalhadoras como sindicatos e movimentos sociais diversos, na precarização das relações de trabalho e na privatização do patrimônio estatal. Em suma, um governo que ataca brutalmente as conquistas da classe trabalhadora em benefício da burguesia nacional e internacional.
Nas eleições presidenciais, Bolsonaro perdeu em todo o Nordeste e vem amargando baixíssimos índices de aprovação. O Nordeste, segundo pesquisa divulgada pela Folha de S. Paulo, tem se mantido como a região de maior rejeição a Bolsonaro, 52% da população o considera ruim ou péssimo, enquanto nacionalmente esse índice é 44%. Em Juazeiro do Norte, na eleição de 2018, Bolsonaro, teve menos de 24% no segundo turno e embora não tenhamos dados específicos sobre sua aprovação na cidade, diante das pífias manifestações favoráveis ao presidente, avaliamos que sua base de apoio na cidade segue pequena, se não tiver diminuído. No entanto, alguns dos nomes mais ou menos tradicionais da política local ou por interesse de surfar na onda conservadora que elegeu Bolsonaro ou mesmo por real identificação ideológica, reproduzem seu discurso e sua prática política.
Devemos pensar que embora aparentemente não haja uma vantagem significativa em se aparecer na cidade como um candidato atrelado ao projeto fascista de bolsonaro, alguns candidatos almejam dialogar diretamente com a parcela de eleitores cativa do atual presidente. Nessas eleições municipais devem surgir candidatos a vereador que devem se ligar de uma forma ou de outra ao projeto bolsonarista de poder, temos na cidade alguns nomes ligados perigosamente ao projeto da extrema direita e do fascismo. Três desses candidatos merecem destaque: Gledson Bezerra (PMN), Pastor Fabiano (PROS) e Mauricio Sampaio (sem partido).
Dos três, Mauricio Sampaio é o único que está formalmente ligado ao bolsonarismo. Filho de um ex-prefeito da cidade e ligado a uma família articulada com os partidos tradicionais da direita. Seu nome é alçado pelo movimento Direita Cariri, movimento encabeçado por indivíduos que esperam a criação do Partido Aliança pelo Brasil, mas que no momento estão em outras agremiações da direita tradicional.
Francisco Fabiano, radialista, diretor de escola e pastor. Esse é um dos mais fervorosos defensores da política bolsonarista. O referido pastor ascendeu como uma figura relativamente relevante da política local a partir da ascensão do conservadorismo a um nível nacional. Esse é, talvez, a expressão mais bem acabada da extrema direita em Juazeiro do Norte.
Já Gledson Bezerra, atualmente no PMN, é um policial civil que passou por três mandatos de vereador. Gledson tem uma base política posta entre os servidores públicos municipais e um perfil de um político moderado, mas nesse momento tem procurado tecer acordos com o PSL e as forças mais reacionárias do cenário estadual, demonstrou por várias vezes como presidente da câmara o intuito de abrir espaços no debate público para as forças da extrema direita caririense.
As pautas defendidas nacionalmente pela extrema direita e especificamente por seu espectro fascista são mais difíceis de serem levadas mais seriamente como bandeiras essenciais das campanhas municipais já que muito pouco em relação a segurança pública tocaria ao município e as relações políticas locais, pautadas em favorecimentos pessoais e corrupção escancarada já por si demonstram a discrepância entre esse discurso e prática política da nova ou da velha direita. Para esses adeptos da extrema direita tem se demonstrado quase impossível se apresentar no município como baluarte da honestidade, da luta contra a corrupção ao mesmo tempo em que mantém as práticas e relações políticas intrínsecas com as forças tradicionais de Juazeiro do Norte.
As forças sociais que elegeram Bolsonaro, no entanto, não são inexpressivas na cidade. A mesma frustração que levou a uma grande onda que alimentou o fascismo nacionalmente, na cidade nutriu setores até então adormecidos e que passaram a se expressar com maior liberdade e se organizar no sentido de confrontar os setores organizados dos movimentos de trabalhadores e trabalhadoras. Tanto nas disputas eleitorais como nos espaços de disputa e luta social, a serviço de um projeto que visa a ampla destruição dos direitos e potencial de organização e mobilização que os trabalhadores e trabalhadoras levaram anos de luta para construir e conquistar.
O fascismo em Juazeiro do Norte é um perigo a ser combatido duramente e está ligado a um projeto mais amplo e ainda mais destrutivo. Temos que manter um olho nas eleições municipais e outro na conjuntura nacional. Por essa razão devemos construir candidaturas de esquerda e em especial do PSOL com uma posição firme de enfrentamento com o fascismo e a extrema direita, como medida para a defesa da vida diante da pandemia. Candidaturas que devem estar a serviço do fortalecimento das lutas feministas, do movimento negro(a), movimento LGBT, dos trabalhadores organizados do campo e da cidade e dos setores mais precarizados. Portanto, conclamamos a todos a se juntarem a luta contra o fascismo, a fortalecer a esquerda que não se rende na luta por direitos, na luta pela vida e por derrotar o fascismo e o bolsonarismo nas ruas e nas urnas.
- Edson Xavier é professor e pré-candidato a vereador pelo PSOL em Juazeiro do Norte.
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