No passado domingo, 12 de Julho de 2020, decorreram eleições regionais na Galiza e País Basco. Estes sufrágios estavam inicialmente marcados para 5 de abril, mas foram adiados devido à pandemia. Em termos de governalidade as duas eleições não mostraram surpresas, na Galiza ganhou Alberto Núñez Feijóo, candidato da direita conservadora, do Partido Popular (PP), atingindo assim o seu quarto mandato seguido. No País Basco venceu o Partido Nacionalista Vasco (EAJ/PNV), partido nacionalista de tendência democrata-cristã, alcançando desta forma o seu 3º mandato consecutivo, mesmo que em coligação com os socialistas bascos.
Galiza: Partido Popular (PP) se mantem, uma grande subida do Bloco Nacionalista Galego (BNG) e uma subida ligeira do Partido Socialista Galego (PSG)
Se utilizarmos as eleições de 2016 como ponto de comparação verificamos que o Partido Popular (PP) manteve praticamente o seu resultado. Nas eleições de 2020 obteve 48,0%1 dos votos, elegendo 41 deputados, e em 2016 tinha conseguido 47,5% dos sufrágios e o mesmo número de deputados.
Em segundo lugar, ficou o Bloco Nacionalista Galego (BNG), liderado por Ana Pontón. O BNG obteve 23,8% dos votos que correspondem a 19 mandatos. Esta foi a surpresa da noite, sobretudo se tivermos em conta o resultado que tinham obtido há quatro anos quando apenas conseguiram 6 mandatos e 8,4% dos votos.
Na terceira posição, surge o Partido Socialista Galego (PSG), organização regional do PSOE, com 19,4% elegendo assim 15 deputados. Uma subida que apesar de ligeira lhe deveu mais um deputado do que em 2016 quando atingiu os 17,9%.
Galiza: A coligação Galicia en Común-Anova Mareas (que integra as Unidas Podemos), os neofascistas do Vox e o Ciudadanos ficaram de fora do parlamento galego.
Na quarta posição surge a “Galicia en Común-Anova Mareas” que é a coligação entre as Unidas Podemos (UP) de Pablo Iglesias e a ANOVA, uma cisão em 2012 do BNG. Esta coligação foi a grande derrotada da noite dado que deixou de ter representação parlamentar, ficando-se por 3,9% dos votos. Importa lembrar que em 2016 a UP se apresentou juntamente com outros sectores da esquerda galega num projecto chamado “En Marea” tendo alcançado 19,1% dos votos e 14 eleitos tornando-se a segunda força política na Galiza.
Os Ciudadanos (C´s) confirmaram o seu desgaste político, sobretudo depois do surgimento do Vox, partido de extrema direita. Ciudadanos passaram de 3,4% dos votos em 2016 para 0,8% e o Vox, que não tinha concorrido em 2016, obteve 2% dos votos.
País Basco: PNV e PSE-EE sobem ligeiramente e EH Bildu sobe significantemente
O Partido Nacionalista Vasco (EAJ/PNV) obteve 39,1% dos votos e 31 lugares no Parlamento, um ligeiro aumento em face de 2016, quando atingiu 37,7% e 29 mandatos.
Na segunda posição surge a surpresa da noite, a Unidade Basca (EH Bildu), a principal força política da esquerda radical nacionalista, ao conseguir 27,8% e conquistando 22 lugares. Uma subida relevante, pois, há quatro anos, conseguira 21,2% e 17 parlamentares.
O Partido Socialista de Euskadi-Esquerda Basca (PSE-EE), a organização basca do PSOE, parceiro de coligação do PNV no governo basco ficou em terceiro lugar, obtendo uma pequena subida. Nas eleições de 2016, ficaram com 11,9% e nove eleitos e desta vez alcançaram 13,6% e elegeram 10 deputados.
País Basco: As UP e coligação de direita (PP e C´s) descem muito e o Vox elege
Também no País Basco a perfomance eleitoral das Unidas Podemos (UP) foi desastrosa e surge como uma das grandes derrotadas da noite. Obteve 8,0% dos votos e seis mandatos, enquanto que há quatro anos, conseguira de 14,8% e a eleição de 11 parlamentares.
Na quinta posição surge a coligação representativa da direita espanholista entre o PP e os Cidadãos (C’s) que foi a outra grande derrotada da noite ficando-se pelos 6,8% e elegendo 5 deputados. Há quatro anos estes dois partidos apresentaram-se separadamente, e o PP tinha obtido 10,2% e elegido 9 deputados e o C´s tinha ficado nos 2% sem alcançar representação parlamentar. É de facto um duro golpe na direita espanholista.
Por último, o VOX elegeu um deputado e obteve 2%. Apesar do resultado pouco expressivo do partido neofascista a verdade é que passa a ter representação parlamentar no parlamento basco.
Perspectivas
Os resultados nas duas regiões autônomas do estado espanhol demonstram por um lado a manutenção ou reforço das forças (PP e PNV) que tem estado a governar.
Apesar da vitória do PP na Galiza, que já é uma tradição, a direita parece não ter conseguido capitalizar o desgaste da governação do PSOE e UP durante a pandemia. No caso dos C´s tudo indica que caminha para a insignificância política em contraposto com o Vox, que mesmo aumentando pouco a sua influência política, o certo é que alargou mais uma vez a sua força e presença territorial.
No entanto, o que marca estas eleições é o reforço extraordinário da esquerda independentista (BNG e Bildu) em deterimento das UP, ou seja, a transferência de voto praticamente automática da UP para a esquerda independentista, exceptuando na Galiza em que uma parte minoritária foi para o PSG.
Sendo estas umas eleições autônomas é natural que se expresse um sentimento independentista de forma mais evidente. No entanto, em 2016 o sentido foi o oposto, de reforço das coligações onde estava a UP e descida dos partidos independentistas. Desta forma podem-se retirar leituras nacionais dado que o Governo do Estado Espanhol é composto pelo PSOE e UP, e o que verificamos nestes resultados é uma ligeira subida do PSOE e uma hecatombe da UP. E isso poderá ter consequências na relação de forças internas ao Governo de Madrid. Por outro lado as relações de forças entre PSOE e partidos independentistas (PNV, Bildu e BNG) altera-se em termos qualitativos2 e poderemos assistir já nas próximas semanas e meses à influência das eleições galegas e bascas na negociação e consequente aprovação do orçamento de estado para 2021, dado que a estabilidade do Governo de Pedro Sanchez (PSOE) e Pabo Iglesias (UP) também depende dos 3 partidos independentistas ou nacionalistas referidos.
1 https://especiales.publico.es/resultados-elecciones/autonomicas/2020/autonomias
2 https://www.publico.es/politica/empuje-del-12-j-convierte.html
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