O tema do presente texto é uma análise crítica do artigo “Barrar o fascismo antes que seja tarde”. Para isso, vou fixar-me nas conclusões políticas dos apontamentos levantados. Penso que tal postura é importante no convívio democrático entre militantes e correntes que têm a perspectiva de superação do capitalismo.
Começando pelo final, o referido artigo propõe uma aliança contra Bolsonaro com forças políticas que o ajudaram na sua eleição. Essa é a essência da tese da frente ampla defendida.
No parlamento, é importante que os partidos de esquerda apoiem a formação de uma ampla frente antifascista em defesa da democracia, com partidos de amplo espectro político-ideológico, porque essa é a principal ameaça que paira sobre o país neste momento. É claro que os partidos de esquerda, especialmente o nosso PSOL, não devem abandonar sua pauta socioeconômica de combate às reformas ultraneoliberais e de defesa dos direitos da classe trabalhadora, dos povos indígenas e quilombolas, mas, é preciso estar com quem defende o regime democrático para impedir o golpe fascista.
Eis o núcleo da questão: unir-se aos que defendem o conteúdo social e econômico do bolsonarismo contra Bolsonaro. Noutras palavras, uma aliança com os apoiadores do golpe de 2016, com forças políticas que sustentaram o governo Temer, levaram Bolsonaro à Presidência da República e continuam votando suas pautas “ultraneoliberais” no parlamento. Diante da “principal ameaça que paira sobre o país” é correto uma frente com o PSL, PSDB, DEM, MDB, PDT, REDE ou PSB? E mais, com Dória, Witzel, Caiado, Janaína Paschoal, Alexandre Frota e MBL, por exemplo? Isso é progressivo para os interesses de milhões de brasileiros e brasileiras assalariados, precarizados, desempregados, negros, velhos, jovens, LGBTs, do campo e das cidades?
Na lógica de uma aliança com os inimigos da vida da maioria do povo brasileiro o texto afirma que: “Devemos saudar ainda os diversos manifestos e iniciativas da sociedade civil que clamam pela unidade antifascista em defesa da Democracia”. Isso induz o apoio à movimentos como o Estamos #Juntos e Juntos pela Democracia e pela Vida (Pacto pela Democracia), apoiados por setores empresariais, políticos neoliberais e golpistas de primeira hora, que diante da crise arrebanham representantes de camadas médias com ilusões democráticas para implementar um projeto antinacional e antipopular.
De fato, uma aliança com golpistas sempre levará a renegar reivindicações da maioria da população e priorizar articulações institucionais frente às mobilizações de massas. Militantes ecossocialistas e feministas não devem procurar frentes com cúmplices da destruição do meio ambiente nem com fiadores de políticas que aprofundam a opressão de mulheres e demais oprimidos. Esse não é o caminho para derrotar Bolsonaro, as mobilizações fascistas e a escalada golpista. Apostar na frente ampla é uma política de desmobilização de um embrião de independência de classe.
O EOL e a corrente Resistência acertam ao defender a construção de uma Frente Única (FU) da esquerda, dos movimentos sociais e sindicais, com um programa anticapitalista. O centro na atual conjuntura é a ação de massas pelo fim do governo Bolsonaro com um protagonismo plebeu, proletário, com diversidade de gênero, etnia e faixa etária. A unidade de ação com outros setores sociais, camadas médias ou frações burguesas não deve significar subordinação política ou castração programática, mas precisa contribuir para a vitória das massas oprimidas e exploradas. Isso é o oposto de uma unidade de pontos programáticos comuns para derrotar o fascismo com partidos da esquerda e centro esquerda, onde os interesses da maioria seriam anulados, mesmo com toda liberdade de crítica.
*Professor da Universidade Estadual do Ceará – UECE. Diretor da SINDUECE. Coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário – IMO.
**Este artigo reflete as opiniões do autor e não necessariamente as do Esquerda Online. Somos um portal aberto às polêmicas da esquerda socialista.
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