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O nosso ódio e o deles

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Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

Quando o terrorista Osama Bin Laden foi morto em 2011, milhares de pessoas comemoraram dançando e cantando pelas ruas dos Estados Unidos. Era compreensível que elas celebrassem o fim de um sujeito responsável pelo atentado às Torres Gêmeas de Nova York em 2001. Praticamente todo mundo entendeu isso, ninguém pediu para “ter empatia” por Bin Laden. Porque agora os brasileiros são obrigados a ter empatia por Bolsonaro quando ele é contaminado pela Covid-19? 

Bin Laden foi responsável pela morte de cerca de 3 mil pessoas nos Estados Unidos. Já o atual Presidente do Brasil tem uma parcela de culpa pelas mais de 70 mil mortes por Covid-19 no país que governa. Quantas vidas seriam salvas se ele não sabotasse o isolamento social? Quantas vidas seriam salvas se ele cumprisse sua obrigação de coordenar a prevenção ao vírus junto aos governos estaduais? O Brasil é o sexto país mais populoso do mundo e o segundo em número de mortes. A nova doença só chegou no Brasil em março, dois meses depois de ter atingido a Europa de surpresa. Se atribuirmos 5% das mortes por Corona Vírus à incompetência de Bolsonaro, seriam 3,5 mil, mais que o número de norte-americanos mortos por Osama Bin Laden. 

Por isto é compreensível que muitas pessoas subam a hashtag #forcacovid e façam piadas torcendo pelo sucesso do vírus. Afinal, seria um alívio se Bolsonaro deixasse de ser presidente do dia para a noite. Milhares de vidas poderiam ser salvas com uma gestão menos incompetente na questão do coronavírus. E qualquer um seria menos incompetente que Bolsonaro. 

No entanto, desejar a morte de Bolsonaro por Covid-19 é uma atitude equivocada. Se ele simplesmente desaparecesse, seu grupo político de fascistas e fanáticos iria continuar existindo, apoiando o general Mourão na Presidência. 

Não podemos esperar que um capricho da natureza ou uma intervenção divina resolva nossos problemas. Apenas a classe trabalhadora mobilizada pode derrubar Bolsonaro e seu projeto político. Seu desaparecimento físico não resolveria o problema. Ele deve sair da Presidência e ser varrido da política, mesmo vivo.  

Eles devem lavar a boca antes de falar de empatia 

Os mesmos que comemoraram a morte do neto de Lula, de 7 anos de idade, agora cobram empatia por Bolsonaro quando o presidente é contaminado pela Covid-19. São os mesmos que espalharam Fake News quando Marielle Franco foi assassinada e consideram como herói nacional o torturador Brilhante Ustra

Eles não parar com suas atrocidades. Mesmo que a gente fosse até a o Palácio do Alvorada servir canja de galinha na boca de Bolsonaro, os bolsonaristas iriam continuar desejando nossa morte. 

Não se pode ter empatia por fascistas. O fascista é alguém que já morreu por dentro e só consegue sentir desejo por violência e opressão. Se demonstramos empatia, eles vão achar que estamos com medo e vão aumentar seus ataques. Não se trata aqui de “desumanizar” estas pessoas. Na verdade, se trata apenas de constatar o fato de que eles mesmo se desumanizaram. 

Ninguém está pregando a violência ou planejando um assassinato. Algumas pessoas apenas desejam que Bolsonaro morra de causas naturais. Como falado anteriormente, este sentimento é equivocado. Mas desejar melhoras e boa saúde a quem nos quer mortos, presos, torturados ou expulsos do país é pedir demais. 

Mas é correto que a gente sinta ódio?

“Siga o coração, mas leve seu cérebro junto”. Esta é uma frase bastante popular na internet. De fato é bom que nossos sentimentos passem pelo filtro da razão. Não se pode amar alguém de maneira ingênua, sem avaliar racionalmente as consequências da entrega amorosa. O mesmo vale para o ódio. 

É natural que a gente sinta ódio. Afinal, somos seres humanos. Sentimos raiva daqueles que exploram, oprimem e assassinam a classe trabalhadora. É uma fúria que surge após a compreensão de como a realidade funciona. É um sentimento baseado no estudo racional sobre a sociedade. É o ódio aos poderosos.

Isto não tem nada a ver com quem preenche o vazio de uma vida fútil com ódio irracional. Pessoas assim não odeiam por algum motivo em especial. Apenas alimentam este sentimento de forma gratuita para se excitar. E, covardes que são, procuram como alvo os mais vulneráveis: mulheres, LGBTs, negros e negras e pessoas marginalizadas em geral. 

Nosso ódio jamais pode se transformar em programa político. Não nos movemos baseados em nossas antipatias. Elas são efeitos colaterais de nosso amor pelos trabalhadores e pelos oprimidos. E jamais podemos justificar qualquer ação política unicamente pelo nosso desprezo pessoal por certos grupos. A violência é válida em ocasiões especiais da história, quando não há outra alternativa. Precisamos conter nossa cólera.

Esse ódio que sentimos por Bolsonaro e seu grupo político não é um fim em si mesmo, nem é justificativa para ações violentas. Para nós, acima de tudo, está um projeto político coletivo, não nossas paixões individuais. 

Nosso ódio vem do desejo por mudanças, vem de nossa empatia por aqueles que sofrem. O ódio deles é um fim em si mesmo, serve apenas para justificar ações violentas. São duas coisas completamente diferentes.

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