O quadro reúne os dados dos 15 países com maior número de mortes registradas e registra o número de novos casos dos últimos 14 dias, comparando com os 14 dias anteriores, de forma a identificar se a tendência é de crescimento ou redução da pandemia. Esta comparação envolvendo o número de novos casos em dois períodos de duas semanas é um indicador mais preciso para avaliar se há avanço ou recuo da pandemia, tendo em vista que diversos países (em especial Brasil e Chile) manipulam os dados de pacientes recuperados, apresentando números subestimados de casos ativos, enquanto diversos outros países só consideram recuperados os pacientes com testagem PCR negativa, conforme orientação da OMS. Por esta razão, os Estados Unidos aparecem nos quadros de acompanhamento como o wordometers com mais de três vezes mais casos ativos que o Brasil, o que está muito longe de expressar a realidade. O número de novos casos nas últimas duas semanas foi 26% superior ao período anterior, o que indica a continuidade do crescimento da dimensão da pandemia no país. Os Estados Unidos tem o maior ritmo de crescimento, um resultado claro da reabertura econômica, em especial em estados que tinha sido menos atingidos até então (Florida, Texas). Seguem-se Brasil, Índia e México, todos eles igualmente sofrendo os efeitos do relaxamento das medidas de contenção. Fora da relação dos países com mais mortes, outros países também vêm tendo enfrentando situação de piora, como África do Sul, Paquistão, Bangladesh, Arábia Saudita e Colômbia.
Nos últimos sete dias, o Brasil teve 7.342 mortes (o maior número em sete dias até então), o que representa 22,2% das 33.072 registradas em todo o mundo (o Brasil tem 2.75% da população mundial), mantendo-se na semana uma média superior a 1.048 mortes diárias, a maior do mundo (os Estados Unidos, em segundo lugar, tiveram, 4.121). Ontem, o Brasil muito registrou mais mortes (1.223) que todos os 141 países da Europa, África, Oceania, América Central e Caribe (847), e também mais do que todos os 49 países e territórios da Ásia (1074), que tem uma população total de 4.6 bilhões (22 vezes maior que o Brasil).
O Ministério da Saúde omite informações e ataca diretamente o direito à informação, ocultando dados fundamentais e séries históricas sobre Síndrome Respiratória Aguda Grave que permitiam dimensionar o patamar da ocultamento dos óbitos. Além disto, propaga o número de recuperados como se fosse um dado positivo, ignorando as diversas pesquisas que indicam que mesmo entre os sobreviventes há diversas sequelas, que só poderão ser adequadamente avaliadas com o tempo. O número de “recuperados”, além de ser artificialmente inflacionado pelos critérios arbitrários utilizados, só indicaria avanço na contenção da pandemia se fosse superior ao de novos casos, o que absolutamente não é o caso.
A subnotificação segue como problema grave. O resultado preliminar da terceira etapa da pesquisa nacional Epicovid-19BR, divulgado no dia 26 de junho, indica que tínhamos então 5.1 vezes mais contaminados do que indicam os dados oficiais (o que indicava naquela data 2.9% da população). Mantendo-se esta proporção, estaríamos hoje com 8.750 milhões, ou 4.13% da população do país. Considerando a intenção repetida 32vezes por Bolsonaro de atingir 70% da população para garantir a alegada “imunidade de rebanho” (segundo levantamento da agência Aos Fatos), este número teria que crescer ainda mais 17 vezes, com o que se chegaria mantendo a mesma relação, a mais de 1.150.000 mortes, sem considerar o acréscimo decorrente do colapso do sistema de saúde nem a atual subnoficação de óbitos não testados. Mantendo uma média superior a 1.000 mortes diárias, seguimos com elevado ritmo de expansão das mortes (26% em 14 dias), mas tivemos um ritmo de aumento do número de casos ainda maior, de 44% em 14 dias, muito à frente da média mundial de 25%. Na semana epidemiológica encerrada no último sábado, tivemos 263.337 novos casos, o maior número desde o início da pandemia, tendo aumentado pela 18ª semana consecutiva. Ao longo do período, o ritmo de crescimento de casos tem sido superior ao dos óbitos, o que levanta suspeitas em relação à possibilidade de que o ocultamento dos óbitos esteja se dando em escala crescente. Em maio, os óbitos cresceram 4.97 vezes e o número de casos cresceu mais de 6 vezes. Em junho, número de óbitos cresceu 104% e o de casos cresceu 174%. O Brasil já passa de 12,3% das mortes mundiais, com 320 mortes por milhão de habitantes, 4.5 vezes superior à média mundial (70.7).
Em números absolutos, apesar da baixíssima testagem, o Brasil é o segundo país com maior número absoluto de novos casos registrados nos últimos 14 dias, ultrapassado pelos Estados Unidos (que testam 7.5 vezes mais). Dos 2.646.625 novos casos registrados no período, 19.8% ocorreram no Brasil (523.722) e 26.2% nos Estados Unidos (694.789). Portanto, dois países que juntos não chegam a 7% da população mundial, tiveram 46% dos novos casos. Seguem Índia, Rússia, México, Chile, Peru e Irã, todos com expressivo número de novos casos. Na comparação com o período anterior, observa-se tendências distintas: enquanto Brasil (26%), Estados Unidos (94%), Índia (59%) e México (14%) continuam apresentando crescimento número de novos casos por período, Rússia (-17%), Chile (-40%), Peru (-17%) e Reino Unido (-35%) tiveram diminuição no número de novos casos, o que indica que estão conseguindo reduzir o número de casos ativos. Entre os seis países que já se encontram com menos de 10.000 novos casos por período, em dois há tendência momentânea de retomada do crescimento: França (+31%), Espanha (+13%), enquanto nos demais há tendência à redução Alemanha (-18%) e Canadá (-18%) Itália (-23%), Bélgica (-8%). Estes avanços são resultados das medidas de contenção, já que nenhum destes países atingiu índices de contaminação suficientemente elevados para levar ao decréscimo por “imunidade coletiva”.
A China, que há tempos deixou de constar no quadro dos quinze países com mais mortes, foi ultrapassada também por Chile, Turquia e Suécia (que tem uma população 140 vezes menor), Equador e Paquistão e hoje é 21º país em número absoluto de mortes e o 143º em mortes por milhão de habitantes. O país não registra morte há 50 dias e vem conseguindo conter os focos recentes na região de Pequim, já tendo reduzido a 357 casos ativos.
A maior parte dos países vem elevando expressivamente a testagem e atingindo ou passando a relação de 20 testes realizados por resultado positivo indicada pela OMS como indicadora de um bom controle. Brasil, México e Índia são os três países com menor número de testes. O número de testes por milhão de habitantes que Brasil (21.021), México (5.310) e Índia (7.782) é absolutamente inexpressivo e várias vezes inferior aos demais países com números análogos de mortes e casos. É um patamar de testagem inviabiliza qualquer controle sobre a pandemia e mostra o quanto é absurdo falar em reabertura da economia. Na relação entre testes realizados e resultados positivos, indicador mais preciso para dimensionar o efetivo controle da pandemia, o Brasil tem índice (2.6) próximo ao do México (2.5) e bem pior que o da Índia (13.9). No caso do Brasil, a situação real é ainda bem pior tendo em vista que grande parte deles são testes rápidos, inteiramente inadequados para diagnóstico e que não deveriam ser incluídos na conta.
O elevado ritmo de crescimento das mortes no Brasil, associado a um ritmo de crescimento do número de casos ainda maior, indica um rápido e intenso agravamento do quadro nacional. Já tendo passado de 68.000 mortes oficializadas, o país deveria ter já há muito tempo um ritmo de crescimento diário de novos casos bem abaixo de 1% para ao menos ter a expectativa de começar a reduzir o ritmo de crescimento das mortes em duas a três semanas. Só é possível prever quando chegaremos ao pico da pandemia quando tivermos uma redução clara e continuada dos novos casos, que ao contrário seguem crescendo em ritmo elevado. As medidas pontuais e regionalizadas de fechamento temporário quando se aproxima o colapso do sistema de saúde têm se mostrado fragmentadas e insuficientes. Torna-se imprescindível um lockdown nacionalmente unificado, com medidas de garantia de renda emergencial e que dure o tempo necessário para a efetiva contenção. Ainda que pareça custoso, é menos dispendioso do que manter a situação de instabilidade e sucessivas aberturas e fechamentos. Infelizmente, desde o início da pandemia nosso isolamento social vem sendo relaxado e sabotado pelas autoridades federais, com cumplicidade explícita do grande empresariado, produzindo a conjunção trágica entre altas taxas de crescimento das mortes e dos novos casos, em um cenário de baixa testagem e subnotificação generalizada, que se expressa também no enorme crescimento de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave não testadas para Covid, especialmente alto em alguns estados que registram número relativamente mais baixo de mortes por Covid, em especial Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul, e que na média nacional representam 8 mortes adicionais para cada 10 mortes oficializadas por Covid (com o que provavelmente o número real de mortes já deva passar de 100.000).
No Brasil, o número de mortes está duplicando a cada 34 dias e o número de casos a cada 24,5 dias, enquanto no mundo o tempo de duplicação das mortes é de 61,5 dias e o dos casos é de 40 dias. Além de sermos o país com mais mortes diárias, somos o segundo em número de mais novos casos diários (mas com um nível de testagem muito mais baixo que os EUA). Certamente também somos o país com mais pacientes em estado grave, mas este dado está indisponível.
Atualmente os Estados Unidos e a América Latina (em especial Brasil, México, Peru, Chile e Equador) são os principais centros mundiais da pandemia, seguidos pelo Sul da Ásia (Índia, Paquistão, Bangladesh) e Oriente Médio (Arábia Saudita, Irã, Iraque, Qatar e Emirados Árabes) e parte da África (especialmente África do Sul, Egito e Nigéria).
De outro lado, há um crescente número de países com a situação estabilizada e que se encontram com menos de mil casos ativos, dentre os quais: Coréia do Sul, Benin, Croácia, Líbia, Cabo Verde, Hungria, Moçambique, Mali, Noruega, Ruanda, Zimbábue, Líbano, Naníbia, Libéria, Montenegro, São Tomé e Príncipe, Eswatini, Irlanda, Serra Leoa, Dinamarca, Maldivas, China, Luxemburgo, Iêmen, Tanzânia, Suriname, Eslováquia, Zâmbia, Mayotte, Botswana, Síria, Finlândia, Eslovênia, Angola, Togo, Lituânia, Jordânia, Eritréia, Sri Lanka, Chipre, Djibouti, Jamaica, Guiana, Martinica, Georgia, Letônia, Hong Kong, Burkina Faso, Tunísia, Uruguai, Reunião, Burundi, Malásia, Seichelles, Lesotho, Myamar, Tailândia, Uganda, Cuba, Níger, Estônia, Antigua e Barbua, Comoros, Turks e Caicos, Mongólia, Vietnã, Gâmbia, Butão, Nova Zelândia, Islândia Guadalupe, Ilhas do Canal e Chad. São países de diferentes continentes e distintas situações econômicas e sociais, mas que vêm tendo êxito na contenção da pandemia. Incluem-se entre eles países de expressiva população: 27 entre os 90 países com mais de dez milhões de habitantes tem menos de 1.000 casos ativos, incluindo-se o país mais populoso do mundo.
Alguns países tem situação ainda melhor, com menos de dez casos ativos: Camboja (17 milhões de habitantes), Malta, Trinidad e Tobago, Mônaco, Belize, Ilha Cayman, Taiwan (24 milhões de habitantes), Aruba, Bahamas, Andorra, Gibraltar, Bermuda,, Saint Martin, Curaçao, Santa Lúcia, Papua Nova Guiné (9 milhões de habitantes), Lieschtenstein, Fiji, Mauritius, Barbados, Macao, St. Kittis e Nevis e Saara Ocidental.
Em quase todos os continentes (exceto África) existem países que já não tem nenhum caso ativo: dentre 213 países e territórios considerados no wordometers, 20 estão nesta situação (sendo os mais populosos Laos, e Timor Leste). Inclui-se neste grupo também o país que ainda tem hoje o maior número de mortes por milhão de habitantes (San Marino). O Vietnã, com 97 milhões de habitantes e uma política de contenção exemplar, não tem nenhum óbito e registra apenas 22 casos ativos.
É imprescindível e urgente reduzir o ritmo de crescimento do número de novos casos, para em consequência reduzir o número de mortes, pois a manutenção dos índices atuais projeta um cenário que é pior a cada dia e só vai piorar se o processo de reabertura tiver continuidade na situação atual. Se por hipótese considerarmos que este ritmo se mantenha o mesmo (crescimento de 26.3% a cada 14 dias), o número de mortes no Brasil atingiria 85.996 em 23/7, 108.613 em 6/8 e 137.178 em 20/8. Não se trata de uma previsão, mas de projeção do que pode ocorrer caso não sejamos capazes de diminuir o atual ritmo de forma muito mais vigorosa. Para isto, são inadiáveis medidas para ampliação do nível de isolamento individual, associadas à garantia de efetivas condições de sobrevivência ao conjunto dos trabalhadores, em especial aos mais precarizados. Um pequeno aumento ou uma pequena diminuição no percentual produz um grande efeito em cascata nos números em dois ou três ciclos, o que reforça a urgência do reforço das medidas de contenção.
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