Nós, da Resistência em São Paulo, apoiamos a pré-candidatura de Boulos-Erundina à prefeitura de São Paulo na eleição deste ano, por entendermos que a melhor escolha pra cidade é o projeto de Boulos e Erundina para unificar e engajar a maioria dos movimentos sociais e populares da cidade, incluindo os coletivos e as lideranças de luta contra as opressões.
Este apoio não é nenhum obstáculo ao posicionamento firme de repúdio aos ataques transfóbicos e de preconceito religioso que a pré-candidata Alexya Salvador vem sofrendo nas redes sociais (inclusive por militantes de esquerda) desde o dia 06/07, quando do anúncio de seu nome como vice-prefeita da chapa de Sâmia Bomfim às prévias do PSOL. Entendemos que o PSOL deve ser construído com uma moral diferente e que combata a moral que nos é imposta todos os dias por esta sociedade podre.
O combate ao fundamentalismo religioso, que muitas vezes justifica os ataques às LGBTQI+, é uma das marcas da trajetória política de Alexya Salvador. Atacar sua fé é atuar em conjunto com fundamentalistas, como Malafaia, Edir Macedo, Feliciano e Bolsonaro, que já se pronunciaram em diversas ocasiões sobre a barreira que as religiões cristãs devem impor às LGBTQI+.
Mais ainda, o ataque à fé de Alexya revela a incompreensão de parte da esquerda em separar o discurso de ódio movido por fundamentalistas de diferentes religiões, alguns líderes e políticos, do respeito à fé de cerca de 86,8% da população brasileira. Além de preconceituosa (o que por si só é motivo para seu combate), esta prática nos impede de ser uma opção para mais que três quartos da população brasileira.
O Brasil tem histórico de perseguições religiosas, sobretudo às de matrizes africanas. Nesse contexto, o papel do PSOL (e da esquerda em geral) é justamente o de lutar pela garantia da liberdade de escolha religiosa (inclusive a escolha de não ter religião) para todas as pessoas.
Com o avanço da extrema direita, o ódio contra as LGBTQI+ se traduz pelo aumento da violência e pelos ataques aos poucos direitos que conquistamos. O próprio ministério dos Direitos Humanos, propaga a ideia de que pessoas trans são uma aberração da natureza e que LGBTQI+ não podem constituir famílias. Ressaltamos ainda que, entre as LGBTI+, as vítimas mais frequentes dos crimes de ódio são as travestis e mulheres trans negras, como a própria Alexya.
Nesse contexto, devemos repudiar com total veemência qualquer preconceito. Alexya tem o direito de ser cristã (reverenda), trans e socialista, nosso papel é enfrentar os fundamentalistas que querem proibir que a população trans tenha o direito de ter qualquer religiosidade, inclusive cristã.
Alexya Salvador foi a primeira mulher trans na América Latina (e até agora a única) a ser nomeada reverenda. Nós, da RESISTÊNCIA/PSOL, temos muito orgulho tê-la nas fileiras do partido. É muito bom vê-la na disputa interna para a prefeitura, é uma prova de que podemos construir na prática um novo modelo de política, que luta contra a transfobia e contra o racismo (Alexya é uma mulher negra) e pela plena liberdade religiosa.
A única forma de defender a liberdade de crença é combater, sem “passar o pano”, o fundamentalismo, ainda mais quando ele parte de nós mesmos. Não podemos nos omitir, calar-se é escolher o lado do opressor! A RESISTÊNCIA/PSOL repudia com veemência os ataques sofridos por Alexya!
Todas nós somos atacadas quando Alexya é atacada! Solidariedade plena à Alexya Salvador!
São Paulo, 08/07/2020 – RESISTÊNCIA PSOL/SP
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