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BRASIL

Relato sobre Renato Feder: mais um retrato do governo antidemocrático

Coagir estagiários era uma prática comum de Renato Feder, atual indicado de Bolsonaro para o Ministério da Educação, quando ele atuava no setor privado, impondo, assim, a sua ideologia aos candidatos

Da Redação
Reprodução RIC Record TV

Publicamos, abaixo, um relato recebido pelo Esquerda Online sobre a atuação do novo ministro da Educação, Renato Feder, enquanto estava na iniciativa privada. Manteremos o anonimato de nossa fonte, um professor de sociologia que pediu para ser preservado de quaisquer ataques do bando neofascista que hoje ocupa o Governo Federal.

O relato tem uma força emocional por si só. Um rapaz de apenas dezoito anos submetido à pressão ideológica neoliberal para que, caso se submetesse à ideologia de seus pretendentes patrões, pudesse conquistar seu primeiro estágio universitário. Claramente, o atual ministro e seus sócios coagiam seus estagiários ao pensamento único, liberal, sem diálogo democrático algum. Dessa forma, o ministro é a cara do governo Bolsonaro: ultraliberal e completamente antidemocrático.

 

Meu relato pessoal sobre Renato Feder, indicado para o ministério da Educação

Em 2013, eu estava no primeiro ano do curso de Ciências Sociais e fui entrevistado pessoalmente pelo Renato Feder, para uma vaga de estágio na Multilaser, empresa da qual ele era CEO e atualmente é sócio.

Na verdade, apesar de ter sido convidado pela Multilaser para essa entrevista, a vaga era para um estágio em uma ONG (administrada por ele e seu sócio, Alexandre Ostrowiecki). Tratava-se do “Ranking dos Políticos”. Obviamente os critérios para a seleção e classificação desses deputados e senadores obedecem, rigorosamente, os critérios ideológicos adotados e defendidos por esses indivíduos.

“Troque de curso. Eu, se tivesse um filho, preferiria que fizesse ‘corte e costura’ a Ciências Sociais, vocês não produzem nada útil para a sociedade, estudam para ser vagabundos, deveria usar a inteligência para algo produtivo”.

O processo seletivo foi composto por três etapas: uma com o RH, outra com o responsável pela ONG e a última com o seu idealizador, o próprio Renato Feder. A entrevista foi basicamente uma “sabatina” política, com o objetivo principal de conhecer as minhas convicções políticas e confirmar um desejado alinhamento ideológico. Apesar da clara coação a qual me submeteu ao longo de toda a nossa conversa, eu fui tentando desviar de respostas mais diretas, pois, claro, estava tentando passar na entrevista (hoje provavelmente agiria diferente). Eu queria saber até onde ele seria capaz de ir. E soube.

Ao final da entrevista, o Renato Feder me disse que havia gostado de mim. Eu parecia ser um “garoto esperto” (vindo dele, tenho isso mais como ofensa, do que um elogio). O nosso futuro ministro da Educação disparou: “Posso te dar um conselho?”. Fiz que sim. “Troque de curso. Eu, se tivesse um filho, preferiria que fizesse ‘corte e costura’ a Ciências Sociais, vocês não produzem nada útil para a sociedade, estudam para ser vagabundos, deveria usar a inteligência para algo produtivo”.

Meu objetivo claramente não é o de fazer nenhum tipo de comparação ou diminuir o valor de nenhum conhecimento produzido. Mas, sim o de explicitar o nível desse sujeito e o que ele pensa sobre as Ciências Humanas.

Eu tinha 18 anos, havia acabado a pouco o Ensino Médio, lembro de me sentir humilhado, lembro de ter ligado para o meu pai para contar que desistiria do processo.

“conheço por experiência própria a atmosfera intelectual e ideológica da sua faculdade. Ela vai na contramão do que pensamos. É melhor enxugar o estado e dar mais responsabilidade aos cidadãos ou ampliar o estado e aumentar os instrumentos de distribuição de renda? No que você acredita, afinal?”

Ainda assim, como estágios no meu curso naquele momento eram poucos, eu continuei nas etapas sugeridas da entrevista. Eles “gostaram de mim”, mas ainda não estavam convencidos da minha posição política. Então, foi a vez do Alexandre Ostrowiecki. Guardo até hoje alguns dos e-mails trocados com esses sujeitos, em um dos últimos recebi o seguinte: “conheço por experiência própria a atmosfera intelectual e ideológica da sua faculdade. Ela vai na contramão do que pensamos. É melhor enxugar o estado e dar mais responsabilidade aos cidadãos ou ampliar o estado e aumentar os instrumentos de distribuição de renda? No que você acredita, afinal?”

Não é preciso dizer que decidi não entrar nessa companhia, nem que de fato os valores desses sujeitos são antagônicos aos meus. Não é por acaso também que hoje temos mais um ministro na Educação que nada fará além de ferir ainda mais o já sofrido sistema público de educação desse país.