Nesta semana, a grande imprensa divulgou um estudo que comprova que nosso país já estava em crise econômica antes da pandemia da Covid-19. Um dado importante para demonstrar que o fracasso da política econômica de Guedes e Bolsonaro não deve ser explicado apenas como consequência da pandemia.
Segundo um estudo do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos, órgão ligado ao Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), o Brasil já estava em recessão no primeiro trimestre de 2020. Segundo o relatório, que trabalha com critérios mais amplos para avaliar a abertura de uma recessão, a queda no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro foi de 1,5%, entre janeiro e março deste ano, em comparação ao último trimestre do ano passado.
De acordo com vários analistas econômicos, o resultado negativo da economia brasileira será recorde no segundo trimestre de 2020, com uma queda entre 8% a 10%. É evidente que este resultado é diretamente influenciado pelos efeitos da pandemia, que gerou uma paralisação importante em nossa economia.
Mas, se uma queda na economia era inevitável, sua dimensão recorde – e suas terríveis consequências sociais – não podem ser entendidas sem levar em consideração os gravíssimos erros do governo Bolsonaro diante da Covid-19.
A postura de Bolsonaro de atuar constantemente contra as medidas de distanciamento social não só é a responsável direta pelo fracasso do Brasil na pandemia, afinal no início de julho já ultrapassamos as 60 mil mortes e mais de 1,4 milhão de infectados, como também os graves erros e os verdadeiros crimes de Bolsonaro contra a vida estão longe de evitar também um recorde negativo no desempenho de nossa economia.
Bolsonaro colocou os lucros das grandes empresas acima da preservação das vidas, sua pressão e a rendição da maioria esmagadora de prefeitos e governadores levou um retorno de atividades econômicas não essenciais ainda num período de expansão da doença em nosso país.
Este verdadeiro crime contra a vida, vem gerando a cada dia a necessidade urgente de voltar a aplicação de medidas mais rígidas de distanciamento social, o que vem sendo negado ainda pela maioria dos governos. No início deste mês, 13 capitais brasileiras estão com 80% dos leitos de UTI´s ocupados.
Esse zigue-zague irresponsável e criminoso diante da gravidade da pandemia, é qualitativo principalmente para ampliação do contágio e do aumento significativo no número de mortes em nosso país, e vem também sendo caótico para as atividades econômicas. Assistimos a cada dia a ampliação de uma profunda recessão econômica, com suas brutais consequenciais sociais.
O “vírus” da desigualdade social
Uma das consequências sociais mais sentidas atualmente é a queda abrupta no nível dos empregos. Segundo dados do próprio IBGE, até maio a pandemia já destruiu 7,8 milhões de postos de trabalho, uma queda de 8,3%. Este cenário terrível, levou a existência de um resultado absurdo e inédito, onde pela primeira vez existe uma maioria da população em idade de trabalhar sem empregos, frente a uma minoria que segue empregada.
Entre os postos de trabalho perdidos neste período (7,8 milhões), a maioria foi de trabalhos informais (5,8 milhões). Demonstrando que da mesma forma do que acontece na pandemia, onde 55% dos negros internados pela Covid-19 vão a óbito (enquanto este índice é de 38% entre os brancos), também serão os trabalhadores mais explorados e oprimidos que mais sofrerão as consequências diretas desta grave crise econômica e social. Afinal, os negros e negras e as mulheres são maioria também entre os desempregados (as) e no trabalho informal.
De fato, existe uma realidade perversa que não pode ser negada: a combinação entre a crise sanitária gerada pela pandemia com a enorme crise econômica que já estamos vivendo vai aprofundar ainda mais a profunda desigualdade social.
Portanto, existe uma grande probabilidade de que numa possível recuperação econômica assistamos um cenário de aprofundamento das brutais desigualdades sociais já existentes hoje. O que fez muitos analistas usarem a imagem da letra “K” para ilustrar esta situação, ou seja: num futuro próximo, os mais ricos poderão controlar uma parcela ainda maior da riqueza produzida, ampliando ainda mais a miséria em grande parte da população mundial.
Este cenário terrível será ainda pior em países como Brasil, que já batia recorde de injustiça social mesmo antes da pandemia.
As tarefas da esquerda e dos movimentos sociais
Os movimentos sociais e os partidos de esquerda devem cada vez associar a luta em defesa da vida, pela preservação dos direitos sociais e das mínimas liberdades democráticas ao fim deste governo neofascista. Portanto, devemos ser vanguarda na proposta de uma unidade democrática para derrubar o governo Bolsonaro.
Se for para defender o #ForaBolsonaro, ou no mínimo, a abertura imediata de um processo de Impeachment, devemos estar dispostos a estar juntos mesmo com aqueles que temos grandes diferenças em relação a agenda econômica e social. Entretanto, para que seja positiva essa unidade democrática deve ter este ponto mínimo em comum: a defesa do fim deste governo. Afinal, é impossível a existência de uma “normalidade democrática” com a manutenção deste governo hegemonizado por um projeto de extrema direita neofascista.
Nossa luta deve ser pela saída imediata de Bolsonaro e a antecipação das eleições presidenciais, realmente livres e democráticas, para que seja o povo que decida os rumos do país. Para nós, a luta pelo #ForaBolsonaro deve ser travada em conjunto com a defesa de um programa dos explorados e oprimidos frente a crise e de um governo dos trabalhadores e da maioria do povo.
Portanto, ao lado do chamado pela unidade democrática pelo fim do governo Bolsonaro, é necessário a construção e o fortalecimento de frente única dos movimentos sociais e da esquerda para defender os direitos dos trabalhadores (inclusive, lutando para restabelecer os que já foram retirados); o combate permanente ao racismo, o machismo e a lgbtfobia; a defesa do meio ambiente, da Amazônia e dos Povos Indígenas; a ampliação dos recursos para os serviços públicos; entre outras bandeiras fundamentais da nossa luta.
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