O quadro reúne os dados dos 15 países com maior número de mortes registradas e registra o número de novos casos dos últimos 14 dias, comparando com os 14 dias anteriores, de forma a identificar se a tendência é de crescimento ou redução da pandemia. Esta comparação envolvendo o número de novos casos em dois períodos de duas semanas é um indicador mais preciso para avaliar se há avanço ou recuo da pandemia, tendo em vista que diversos países (como Brasil e Chile) manipulam os dados de pacientes recuperados, apresentando números subestimados de casos ativos, enquanto diversos outros países só consideram recuperados os pacientes com testagem PCR negativa, conforme orientação da OMS. Por esta razão, os Estados Unidos aparecem com quase três vezes mais casos ativos que o Brasil, embora ambos os países venham se alternando no topo da tabela no número de novos casos nos últimos dias. O número de novos casos nas últimas duas semanas foi 28% superior ao período anterior, o que indica uma aceleração da pandemia, impulsionada pelo crescimento dos casos no Brasil, México, Índia, Chile, África do Sul, Paquistão, Bangladesh e Colômbia, e na impressionante retomada do crescimento dos casos nos Estados Unidos, que teve 11 estados com mais de 50% de crescimento em uma semana, e outros 25 com crescimento entre 10 e 50%.
Nos últimos sete dias, o Brasil teve 6.839 mortes, o que representa 21,8% das 31.379 registradas em todo o mundo (o Brasil tem 2.75% da população mundial), mantendo-se na semana a média de quase 1.000 mortes diárias. No dia de ontem, o Brasil muito registrou mais mortes (1.057) que todos os 141 países da Europa, África, Oceania, América Central e Caribe (875), e também que os 49 países da Ásia (1.030), que têm uma população mais de 20 vezes maio (4.5 bilhões).
O Ministério da Saúde omite informações e ataca diretamente o direito à informação, ocultando dados fundamentais e séries históricas sobre Síndrome Respiratória Aguda Grave que permitiam dimensionar o patamar da ocultamento dos óbitos. Além disto, propaga o número de recuperados como se fosse a informação mais relevante. No entanto, este número, além de ser artificialmente inflacionado pelos critérios arbitrários utilizados, só tem significado se for maior que o de novos casos, o que absolutamente não é o caso.
A subnotificação segue como problema grave. O resultado preliminar da terceira etapa da pesquisa nacional Epicovid-19BR, divulgado no dia 26 de junho, indica que tínhamos então 5.1 vezes mais contaminados do que indicam os dados oficiais (o que indicava naquela data 2.9% da população). Mantendo-se esta proporção, estaríamos hoje com 7.4 milhões, ou 3.5% da população do país. Considerando a intenção repetida 31vezes por Bolsonaro de atingir 70% da população para garantir a alegada “imunidade de rebanho” (segundo levantamento da agência Aos Fatos), este número teria que crescer ainda mais 20 vezes, com o que se chegaria mantendo a mesma relação, a um mais de 1.200.000 mortes, sem considerar o acréscimo decorrente do colapso do sistema de saúde nem a atual subnoficação de óbitos não testados. Estamos também entre os países com maior ritmo de expansão das mortes (30% em 14 dias), mas tivemos um ritmo de aumento do número de casos ainda maios, de 51% em 14 dias, muito à frente da média mundial de 28%, tendo por vários dias seguidos ultrapassado 30.000 novos casos e chegado no dia de ontem a absurdos 44.884 novos casos. Ao longo do período, o ritmo de crescimento de casos tem sido superior ao dos óbitos, o que levanta suspeitas em relação à possibilidade de que o ocultamento dos óbitos esteja se dando em escala crescente. Em maio, os óbitos cresceram 4.97 vezes e o número de casos cresceu mais de 6 vezes. Em junho, número de óbitos cresceu 104% e o de casos cresceu 174%. O Brasil já detém 11,7% das mortes mundiais, com 286 mortes por milhão de habitantes, mais de quatro vezes superior à média mundial (66.5).
Em números absolutos, apesar da baixíssima testagem, o Brasil é o segundo país com maior número absoluto de novos casos registrados nos últimos 14 dias, ultrapassado pelos Estados Unidos. Dos 2.347.531 novos casos registrados no período, 21% ocorreram no Brasil (493.067) e 23% nos Estados Unidos (540.832). Portanto, dois países que juntos não chegam a 7% da população mundial, tiveram 44% dos novos casos. Seguem Índia, Rússia, México, Peru e Irã, todos com expressivo número de novos casos. Na comparação com o período anterior, observa-se tendências distintas: enquanto Brasil (31%), Estados Unidos (70%), Índia (58%) e México (24%) continuam apresentando crescimento do ritmo número de novos casos por período, Rússia (-16%), Peru (-23%) e Reino Unido (-27%) tiveram diminuição no número de novos casos, o que indica que estão conseguindo reduzir o número de casos ativos. Entre os sete países que já encontram-se com menos de 10.000 novos casos por período, três apresentam sinais de retomada do crescimento: Alemanha (+34%), França (+15%) e Espanha (+14%), no caso da Alemanha um crescimento decorrente de um surto em frigorífico. Já o Canadá (-35%), Itália (-26%), Bélgica (-19%) e Holanda (-53%) vem tendo expressivo decréscimo. Estes avanços são resultados das medidas de contenção, já que nenhum destes países atingiu índices de contaminação suficientemente elevados para levar ao decréscimo por “imunidade coletiva”.
A China, que deixou de constar no quadro dos quinze países com mais mortes, foi ultrapassada também por Chile, Turquia e Suécia (que tem uma população 140 vezes menor), e hoje é 19º país em número absoluto de mortes. O país registra apenas uma morte nos últimos 30 dias, mas nos últimos dias enfrenta novos focos na região de Pequim, estando com 421 casos ativos.
A maior parte dos países vem elevando expressivamente a testagem e atingindo ou passando a relação de 20 testes realizados por resultado positivo indicada pela OMS como indicadora de um bom controle. Brasil, México e Índia são disparadamente os três países com menor número de testes. O número de testes por milhão de habitantes que Brasil (15.184), México (4.622) e Índia (6.562) é absolutamente inexpressivo e várias vezes inferior aos demais países com números análogos de mortes e casos. É um patamar de testagem inviabiliza qualquer controle sobre a pandemia e mostra o quanto é absurdo falar em reabertura da economia. Na relação entre testes realizados e resultados positivos, indicador mais preciso para dimensionar o efetivo controle da pandemia, o Brasil tem índice (2.2) ainda pior que México (2.6) e Índia (14.9). No caso do Brasil, a situação real é ainda pior, dado que grande parte deles são testes rápidos, inadequados para diagnóstico.
O elevado ritmo de crescimento das mortes no Brasil, associado a um ritmo de crescimento do número de casos ainda maior, indica um rápido e intenso agravamento do quadro nacional. Já tendo passado de 60.700 mortes oficializadas, o país deveria ter já há muito tempo um ritmo de crescimento diário de novos casos bem abaixo de 1% para ao menos ter a expectativa de começar a reduzir o ritmo de crescimento das mortes em duas a três semanas. Só é possível prever quando chegaremos ao pico da pandemia quando tivermos uma redução clara dos novos casos, que ao contrário seguem crescendo em ritmo elevadíssimo. As medidas pontuais e regionalizadas de fechamento temporário quando se aproxima o colapso do sistema de saúde têm se mostrado fragmentadas e insuficientes. Torna-se imprescindível um lockdown nacionalmente unificado, com medidas de garantia de renda emergencial e que dure o tempo necessário para a efetiva contenção. Ainda que pareça custoso, é menos dispendioso do que manter a situação de instabilidade e sucessivas aberturas e fechamentos. Infelizmente, desde o início da pandemia nosso isolamento social vem sendo relaxado e sabotado pelas autoridades federais, com cumplicidade explícita do grande empresariado, produzindo a conjunção trágica entre altas taxas de crescimento das mortes e dos novos casos, em um cenário de baixa testagem e subnotificação generalizada, que se expressa também no enorme crescimento de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave não testadas para Covid, especialmente alto em alguns estados que registram número relativamente mais baixo de mortes por Covid, em especial Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul, e que na média nacional representam 8 mortes adicionais para cada 10 mortes oficializadas por Covid (com o que provavelmente o número real de mortes já deva passar de 100.000).
No Brasil, o número de mortes está duplicando a cada 30 dias e o número de casos a cada 23 dias, enquanto no mundo o tempo de duplicação das mortes é de 57 dias e o dos casos é de 39 dias. Além de sermos o país com mais mortes diárias, dividimos com os EUA a condição de país com mais novos casos diários (mas os EUA realizam mais de sete vezes mais testes por milhão de habitantes) e o país com maior ritmo de novos casos diários. Certamente também somos o país com mais pacientes em estado grave, mas este dado está indisponível.
O crescimento da pandemia é especialmente grande na América Latina (em especial Brasil, México, Peru, Chile e Equador), no Sul da Ásia (Índia, Paquistão, Bangladesh) e Oriente Médio (Arábia Saudita, Irã, Iraque, Qatar, , Omã) e parte da África (especialmente África do Sul e Egito)
De outro lado, há um crescente número de países com a situação estabilizada e que se encontram com menos de mil casos ativos, dentre os quais: Albânia, Malawi, Coréia do Sul, Hungria, Benin, Congo, Austrália, Suíça, Áustria, Moçambique, Líbia, Cabo Verde, Mali, Croácia, Ruanda, Líbano, Dinamarca, Noruega, São Tomé e Príncipe, Serra Leoa, Libéria, Zimbábue, Maldivas, Eswatini, Iêmen, Sri Lanka, Irlanda, Tanzânia, Suriname, Mayotte, Naníbia, Zâmbia, Montenegro, Jordânia, Togo, Luxemburgo, Finlândia, Botswana, Eslováquia, Lituânia, Malásia, Angola, Chipre, Síria, Eritréia, Malásia, Jamaica, Georgia, Guiana, Martinica, Eslovênia, Letônia, Hong Kong, Djibouti, Estônia, Comoros, Tunísia, Myamar, Uruguai, Burkina Faso, Níger, Uganda, Seichelles, Botswana, Cuba, Tailândia, Burundi, Mongólia, Butão, Lesotho, Malta, Vietnã, Chad, Gâmbia, Islândia e Nova Zelândia. São países de diferentes continentes e distintas situações econômicas e sociais, mas que vêm tendo êxito na contenção da pandemia. Incluem-se entre eles países de expressiva população: 27 entre os 90 países com mais de dez milhões de habitantes tem menos de 1.000 casos ativos, incluindo-se o país mais populoso do mundo.
Em todos os continentes existem países que já não tem nenhum caso ativo: dentre 213 países e territórios considerados no wordometers, 26 estão nesta situação (sendo os mais populosos Laos, Timor Leste, Fiji e Brunei) e outros 20 tem menos de 10 casos (incluindo Taiwan, Camboja, Chad, Trinidad e Tobago e Papua Nova Guiné). O Vietnã, com 97 milhões de habitantes e uma política de contenção exemplar, não tem nenhum óbito e registra apenas 19 casos ativos.
É imprescindível e urgente reduzir o ritmo de crescimento do número de novos casos, para em consequência reduzir o número de mortes, pois a manutenção dos índices atuais projeta um cenário que é pior a cada dia e só vai piorar se o processo de reabertura tiver continuidade na situação atual. Se por hipótese considerarmos que este ritmo se mantenha o mesmo (crescimento de 30% a cada 14 dias), o número de mortes no Brasil atingiria 78.963 em 15/7, 102.605 em 29/7 e 133.386 em 12/8. Não se trata de uma previsão, mas de projeção do que pode ocorrer caso não sejamos capazes de diminuir o atual ritmo de forma muito mais vigorosa. Para isto, são inadiáveis medidas para ampliação do nível de isolamento individual, associadas à garantia de efetivas condições de sobrevivência ao conjunto dos trabalhadores, em especial aos mais precarizados. Um pequeno aumento ou uma pequena diminuição no percentual produz um grande efeito em cascata nos números em dois ou três ciclos, o que reforça a urgência do reforço das medidas de contenção.
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