Pular para o conteúdo
BRASIL

Fátima Fernandes: o exemplo da militância socialista por toda a vida

Gloria Trogo

A última vez que passei muito tempo com a Fátima Fernandes foi no Encontro Nacional de Mulheres do Psol. Era um sítio afastado no interior do Estado de São Paulo e eu tinha a tarefa de levá-la de carro do local onde aconteciam os trabalhos para o local onde fazíamos as refeições. Ela personificava a ideia da militância revolucionária por toda a vida. Andava com um pequeno respirador, já enfrentava uma doença grave, mas estava presente e firme, mantendo o que, para ela, era o mesmo que qualquer outra função vital: a militância política.

Num tempo em que a militância coletiva é tão questionada pelo individualismo, Fátima nos deixou a maior herança, o exemplo de uma pessoa que deu o melhor de si para a causa socialista.

Naquelas idas e vindas falávamos sobre tudo, conversas triviais de análise política das votações, até reflexões mais profundas sobre a vida. Ela falava da morte com tranquilidade, brigava quando queríamos “cuidar demais” dela. Na ficha de inscrição do Encontro de Mulheres ela colocou que não precisava de nenhuma necessidade especial, num momento me disse algo assim: ainda vou fazer muita coisa antes de morrer e vou participar de tudo. Estou aqui neste encontro, em novembro temos o Congresso da Apeoesp, ano que vem Congresso da Resistência, vou participar de tudo como sempre fiz. E assim foi. Nosso Congresso foi nos últimos dias antes do isolamento social e ela esteve presente, brava como sempre, não aceitou qualquer recomendação no sentido de que poupasse a saúde e faltasse ao evento. Ela transpirava resiliência.

Tinha plena consciência que a luta pelo socialismo era uma batalha de vida inteira. E ela estava sempre pronta pras batalhas. Fátima, você é nossa guerreira imprescindível, hoje nós te perdemos, mas você deixa para todos nós uma força imensa para seguir em frente.