Hoje a militância da Resistência, do PSOL, de Ribeirão Preto, do interior do estado de São Paulo e todos os lutadores socialistas espalhados pelo país estão de luto. Nos deixou a companheira Fátima Fernandes, militante histórica, professora, dirigente sindical e uma mulher de estatura moral inquestionável. Sua ausência será muito sentida nas lutas que virão, nos momentos bons e também nos difíceis.
Fátima era uma referência para muitas pessoas. Bastava ver aquela senhora em pé, em todas as lutas, manifestações, greves e plenárias, com a voz altiva para se admirar. Era uma força viva, uma potência, que contagiava a todos que conviviam com ela.
Como um jovem militante, Fátima sempre me inspirou muito. A vida tem dessas coisas e nunca tive a oportunidade de falar isso para ela. Quando eu nasci, Fátima já estava há não sei quantos anos na militância política. Quando eu cheguei à vida adulta, sua autoridade era lendária, dessas que se conquistam não por preciosismo ou arrogância, mas pela dedicação inabalável a um projeto coletivo, por ter estado do lado certo da História em todos os momentos sem vacilar, nem mesmo nos momentos difíceis.
Mas não só por isso. Mesmo sem ela saber, eu sempre a tive muito perto de mim como uma referência. Fátima podia parecer dura, mas o recado que ela nos passava é que a militância pela transformação social não é uma brincadeira. É para ser uma experiência prazerosa, engrandecedora, mas também exige uma grande entrega. Lutar pelo destino de milhões é uma enorme responsabilidade. Não por heroísmo ou honrarias, mas porque nossos erros e omissões podem nos distanciar ainda mais dos nossos objetivos.
Os amigos e simpatizantes da revolução são bem-vindos e fundamentais. Mas a atividade política transformadora exige que existam aqueles que entreguem o seu máximo, o melhor de suas energias nesses esforços – o que é muito desafiador, mas dá sentido para nossas vidas, preenche nossos dias com a certeza de estar fazendo a coisa certa.
Em tempos de descrença com a organização e mobilização coletivas, com a dedicação individual à transformação da nossa sociedade e das estruturas que nos cercam, Fátima era um exemplo na contramão de tudo isso. Lutar vale a pena, faz sentido, é importante. Exige disciplina, aprendizado, crescimento pessoal. Não é indolor. Mas é importante.
Fátima, com não sei quantas décadas de vida a mais do que eu, foi uma grande inspiração para a minha juventude, para meus primeiros anos de militância. Nos momentos de desesperança, pensava: se ela estava na luta há tanto tempo sem desistir, que direito tinha eu de abandonar tudo? No fim, acho que queria ser igual ela (embora fosse impossível): sério como ela, corajoso como ela, dedicado como ela, inteligente como ela, abnegado como ela. Fátima foi, e continuará sendo, um grande farol da minha militância e de muitos outros jovens Brasil afora.
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