No início da década de 1940, o ditador Vargas negociava com alemães e norte-americanos que estavam em guerra. Em fevereiro de 1942, navios brasileiros foram bombardeados na costa dos Estados Unidos por submarinos alemães. No mês seguinte, novos bombardeios e até junho, cerca de dez embarcações do país haviam sido afundadas. A partir de agosto, contudo, a situação fiou explosiva, quando o navios foram torpedeados por submarinos nazistas na costa do Nordeste. Naquele mês, milhares de pessoas, que choravam a morte dos seus compatriotas, saíram às ruas de diversas cidades do país. Com imensa fúria contra os nazifascistas, os brasileiros exigiam do governo a declaração de guerra ao Eixo, o que efetivamente aconteceu naquele mês. Das ruas também se ouvia a reivindicação pela a abertura de uma segunda frente na guerra, pois os brasileiros queriam lutar.
Em janeiro de 1943, o governo brasileiro começou a chamar reservistas. Um ano depois, admitiu voluntários. Entre os milhares de brasileiros que se alistaram, diversos comunistas. Os baianos Jacob Gorender e Ariston Andrade, membros do PCB que estava na clandestinidade, integraram a FEB. Mário Alves, que depois seria morto pela Ditadura Militar, e João Falcão, também comunistas, apresentaram-se como voluntários, mas foram dispensados. Comunistas pelo país seguiram o mesmo caminho. Anos depois, Falcão escreveria nos seus livros da frustração de não poder combater na guerra. Em conversas que tivemos quando eu pesquisava para escrever a minha tese de doutorado, depois publicada como livro Os impasses da estratégia, o ex-comunista me confirmou a história e também de que a orientação para que se alistassem tinha sido do PCB.
Em passagem pela Bahia em março de 1943, o presidente da Sociedade Amigos da América, o general Manuel Rabelo, concedeu entrevista ao repórter Jacob Gorender, da revista Seiva. Abordando assuntos relacionados à guerra e à luta antifascista que se travava nas ruas, Rabelo defendeu a segunda frente para “sustentar o prestígio internacional” do país e “aliviar a pressão sofrida pela URSS”. O general também reclamou da demora do governo em enviar tropas para o combate: “O povo brasileiro anseia por participar da luta. Sua honra não pode ser posta em dúvida. O que é preciso é ação. Ação intensiva na preparação militar do Brasil e não ficarmos até aqui marcando passo no mesmo terreno (…)”.
Como historiador, sinto a frustração de não ter podido ensinar que o nosso Exército já foi antifascista. Também sinto vergonha da ignorância da gente que flerta com o fascismo contra a memória dos que tombaram na última guerra em que estivemos envolvidos. O general Manuel Rabelo estava do lado certo da história, assim como o nosso Exército. A FEB foi gloriosa, como gloriosos são os brasileiros que sabem de que lado lutam.
*Carlos Zacarias é doutor em História e professor da UFBA.
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