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EDITORIAL

Weintraub foi tarde. A defesa da educação continua!

Editorial 19 de julho de 2020

Na tarde de ontem (18), depois de muitas especulações sobre o destino do até então ministro da educação Abraham Weintraub, finalmente foi anunciada a saída daquele que ficaria conhecido como um dos piores ministros da história do país. Weintraub e Bolsonaro tentaram passar a imagem de uma mudança normal de cargo — o ex-ministro vai assumir um cargo no Banco Mundial representando o Brasil. Mas a verdade é que a queda de Weintraub é a concretização de uma importante vitória do movimento da educação  (estudantes, professores e funcionários), que em maio do ano passado colocou centenas de milhares de pessoas nas ruas durante o “Tsunami da Educação”, na maior mobilização de rua, até aqui, durante o governo Bolsonaro.

Desde então, Weintraub se tornou um dos ministros mais impopulares do Planalto. O MEC, sob o seu comando, acumulou uma série de derrotas. Fruto da mobilização do movimento estudantil, junto ao movimento docente e dos técnicos administrativos das Universidades e Institutos Federais, os cortes de 2019 foram revogados e o “Future-se” (projeto privatizante das universidades públicas) foi amplamente rejeitado pela maioria dos Conselhos universitários. A Medida Provisória (MP) das carteirinhas, que representava um ataque ao movimento estudantil e à UNE, nem chegou a ser discutida pelos parlamentares e caducou, a mesma coisa aconteceu com a primeira MP do interventor (914/19). Mais recentemente, já durante a pandemia, um “tsunami virtual” de secundaristas obrigou o MEC a adiar o ENEM. E logo após veio outra derrota: a MP 979, a segunda MP do interventor, ainda pior que a primeira, foi devolvida ao governo pelo presidente do Senado, David Alcolumbre, sem sequer ser discutida no Congresso.

O movimento da educação está em luta há muito tempo, mas sob o governo Bolsonaro, a “balbúrdia” se colocou em guerra contra os piores inimigos da educação pública. Cada derrota que impusemos a eles se tornou vitórias contra um projeto de destruição da educação pública, em especial das universidades — colocadas desde a campanha eleitoral por Bolsonaro como as “grandes responsáveis pela ideologia de esquerda”. A queda de Weintraub deve ser comemorada como uma importante batalha vencida dentro da guerra que travamos em defesa da educação pública, gratuita, de qualidade, laica, democrática, socialmente referenciada e que deve ter por objetivo a diminuição das desigualdades.

Há que se destacar que Weintraub não era apenas um inimigo da educação, mas também como um inimigo da democracia. Dono da frase “por mim colocava todos esses vagabundos na cadeia, começando pelo STF”, fazia parte do núcleo fascista do governo. E, entre os ministros, era um dos mais próximos ao presidente — o que inclusive é um dos motivos para ele ter se mantido por tanto tempo à frente do MEC. Diferente das saídas de Mandetta e Moro, os quais entraram diretamente em conflito com Bolsonaro, a queda de Weintraub foi fruto da pressão externa ao governo e representa uma derrota para o governo de extrema direita.

A luta em defesa da educação pública continua! #ForaBolsonaro

Embora a queda do ex-ministro seja uma importante vitória, ela não é o final de nossa luta. Weintraub, no mesmo dia em que caiu, revogou a Portaria que incentivava a adoção das cotas para negros, indígenas e pessoas com deficiência nos programas de pós-graduação. Ao mesmo tempo, Bolsonaro sinalizou que irá colocar no comando do MEC algum nome que siga a mesma “linha ideológica” de Weintraub e ventilou a possibilidade de fundir o Ministério da Educação ao da Ciência e Tecnologia. A luta em defesa da educação pública deve prosseguir ainda mais forte. Nesse momento, passa pela anulação da revogação da Portaria das cotas na pós-graduação, e que a mesma seja amplamente repudiada pelas Universidades, as quais devem manter a política de ações afirmativas em seus programas; e também por mobilizarmos contra o fim do MEC.

Mas a luta em defesa da educação também deve ser pelo #ForaBolsonaro. Weintraub não era apenas um indivíduo isolado com um projeto de destruição da educação — esse é o projeto de um governo neofascista, que pode mudar de ministro, mas não irá interromper os ataques. O movimento estudantil, os professores e os trabalhadores da educação devem colocar suas mobilizações a serviço da luta unificada entre todos os movimentos sociais, os movimentos de combate às opressões racistas, machistas, lgbtfóbicas, os sindicatos e os partidos da oposição, pelo #ForaBolsonaro. Que a queda de Weintraub seja o começo da queda desse governo!