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BRASIL

Sermos antirracistas

Adson Correia* e Leonardo Pedro**, de Maceió, AL
Pam Santos / @soupamsantos

Manifestação antirracista e antifascista marcou o domingo (7), em São Paulo.

O Estado é o grande engenho, comandado pelo senhor branco que dita as regras e leis; o aparato policial são os capatazes e feitores, eles vigiam e punem; nós somos os escravos, nossas casas são as senzalas e os arranha-céus a nova casa grande. Essa é a base que estrutura nossa sociedade.

Devemos entender que o racismo existe e é fator social estruturante que se materializou na cultura, nos costumes e das organizações sociais, perpetuando uma estrutura desigual de oportunidades sociais para negras e negros.

Djamila Ribeiro pontua muito bem quando diz que a branquitude brasileira é tão racista que é apenas frente a protestos nos Estados Unidos, pela morte de George Floyd, que se inaugura o debate racial no nosso país. Há então uma diminuição do movimento negro brasileiro, um esquecimento de Miguel Otávio, Cláudia Ferreira, Bianca Regina, Marielle Franco, Pedro Gonzaga, Ana Carolina, Kauê dos Santos, João Pedro, Ágatha Félix, Amarildo e todas as outras vidas negras interrompidas. Há uma fetichização da imagem de corpos negros sempre em combate e um deboche quando os mesmos saem dos lugares que lhe são impostos.

Vemos a população negra brasileira no atual cenário de crise sanitária, morrendo massivamente por COVID-19 (a taxa de morte é 62% maior que as de brancos), e quando este se faz ineficiente, morrem à bala, à ausência destes dois algozes, morrem por negligência. Lutar pela vida do povo negro no Brasil perpassa por uma luta de superação total desse sistema que aprisiona e mata.

Precisamos falar sobre NOSSAS histórias de luta, resgatar nossos símbolos e mártires. Precisamos falar sobre o Quilombo dos Palmares, a Balaiada e as estratégias de resistências dos povos de terreiro após a quebra de Xangô.

Precisamos entender que o enfrentamento ao racismo vai além de posts com a cor preta ou hashtags na tentativa de alívio da consciência da branquitude brasileira. É preciso ser de fato antirracista e ser antirracista é mais que falar sobre racismo, é propor novas práticas de superação deste mal, como propõe Angela Davis, é dar espaço, ceder e ter compromisso de verdade.

 

*Adson Correia é estudante de Psicologia da UFAL, diretor de comunicação do DCE Quilombo dos Palmares;
**Leonardo Pedro é estudante de Direito da UFAL, diretor de assistência jurídica do DCE Quilombo dos Palmares.