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BRASIL

Não somos um grupinho! Somos educadoras e educadores pela vida e contra a política de morte aplicada por Felício Ramuth (PSDB) em São José dos Campos

Jéssica Marques*, de São José dos Campos, SP
Lucas Cabral/PMSJC

O prefeito de São José dos Campos, Felicio Ramuth

Na última quinta-feira (04), em uma entrevista de rádio, ao se deparar com questionamentos de professoras sobre o retorno presencial, com os relatos de falta de EPIs e de acesso à internet nas escolas, Felício Ramuth (PSDB), em tom bélico, afirmou que os questionamentos partiam de uma minoria, de “um grupinho de sindicalizados”, de professores que não queriam retornar ao trabalho. O prefeito chegou a sugerir que estes professores deveriam pedir licença não remunerada da prefeitura caso não queiram voltar ao trabalho presencial. 

Como se já não bastasse a obrigatoriedade do retorno presencial de mais de 5 mil educadores e educadoras às escolas municipais de São José dos Campos em plena pandemia, Felício Ramuth ataca de forma truculenta e caluniadora todos e todas as profissionais da Educação e o Sindicato dos Servidores Municipais (SindServ).

Os ataques do prefeito correspondem à sua visão e à sua política antissindical e autoritária, que não respeita a organização da categoria e a atuação política da entidade que representa os servidores municipais. A mobilização e a sindicalização são direitos constitucionais e as críticas sobre o retorno presencial às escolas não partem apenas de uma minoria, mas de grande parte dos educadores e educadoras, de suas famílias e também de apoiadores que compreendem a gravidade do retorno presencial neste momento.

Além dos absurdos comentários que desqualificam os educadores e a organização sindical, discurso semelhante ao de Bolsonaro e da extrema direita, Felicio agrediu diretamente uma professora que, ao questionar sobre a falta de internet na escola onde trabalha, teve de ouvir do prefeito que se ela não estava contente com a rede municipal, deveria pedir demissão e ir para outra rede de educação. Discurso que relembra o bordão nacionalista e autoritário do período da ditadura civil-militar, “Brasil: ame-o ou deixe-o”.  As agressões de Felicio Ramuth não devem ser toleradas e normalizadas, elas refletem o projeto político que o prefeito implementa na cidade. É necessário seguir denunciando seu discurso de ódio e sua política de morte, hoje e sempre.

Além do discurso, está cada vez mais nítido que em São José dos Campos, Felicio Ramuth aplica a mesma política negacionista e genocida de Bolsonaro. O decreto de flexibilização do isolamento social, com a reabertura do comércio, bem como a negligência com os servidores e servidoras da saúde, que cotidianamente relatam a falta de EPI’s adequados, evidenciam que a prioridade da prefeitura é a manutenção dos lucros dos grandes empresários da cidade, passando por cima da saúde e da vida dos que estão na linha de frente, ampliando a disseminação da contaminação do vírus que se espalha para os bairros periféricos. 

A situação das servidoras e servidores da Educação é um caso emblemático. Felicio Ramuth, desde o início da pandemia, tem direcionado seus ataques a esse setor com uma política perversa, mantendo parte das profissionais nas escolas trabalhando normalmente, como as cozinheiras e faxineiras, depois exigindo o retorno das estagiárias e das professoras contratadas, que estão há mais de um mês nas escolas, e, por fim, obrigando o retorno dos demais servidores e servidoras da Educação, como as professores efetivas, agentes educadoras, auxiliares de desenvolvimento infantil e trabalhadoras de secretaria. Cabe ressaltar que as professoras e professores eventuais estão desde o início da pandemia sem salários por recebem por aulas dadas e, mesmo diante desse cenário, Felicio se recusa a criar um plano emergencial para esses profissionais. Além disso, há uma outra problemática no retorno presencial, pois sendo as mulheres desigualmente e historicamente responsáveis pelos cuidados das crianças e dos idosos, muitas educadoras, que são a maior parte da categoria, não terão com quem deixar seus filhos neste momento, uma vez que as escolas e creches estão paralisadas, e terão de ficar em contato recorrente com pessoas do grupo de risco, expondo-as ao contágio.

As inúmeras desigualdades sociais vivenciadas pelos alunos e alunas, como a falta de acesso à internet estável, locais adequados de estudo, acompanhamento das atividades, bem como as dificuldades enfrentadas pelos docentes, como a falta de interação real com os estudantes e a impossibilidade do acompanhamento da aprendizagem já seriam motivos concretos para o questionamento das atividades e aulas online, mas tudo fica ainda mais problemático quando as atividades online são utilizadas como justificativa para o retorno presencial dos educadores e educadoras às escolas. Todo o trabalho que tem sido realizado pelos docentes presencialmente nas escolas poderia ser desenvolvido de forma remota e segura. Mas se houvesse de fato preocupação com a aprendizagem dos estudantes e com a saúde dos educadores, o ano letivo só retornaria quando todos e todas pudessem estar na escola com segurança. 

Para Felicio Ramuth, assim como para o ministro ultraliberal Paulo Guedes, os servidores públicos são parasitas que não podem “ganhar sem trabalhar”, sem “servir” à população, como se o direito à quarentena dos servidores ou o trabalho retomo representasse um assalto aos cofres públicos.  O retorno dos docentes também corresponde à ideia de que o isolamento social é um privilégio, não uma necessidade de saúde. Obviamente que no Brasil o direito à quarentena remunerada torna-se um “privilégio” uma vez que a maioria da população não possui condições de ficar em casa pela falta de renda e condições básicas. Os governos deveriam garantir as condições para que todas e todos pudessem cumprir com o isolamento, não utilizar esse argumento fajuto para defender a flexibilização dessa medida.  O prefeito, que no princípio da pandemia defendia o isolamento social, agora aplica uma política para dialogar com o empresariado local e, principalmente, com os setores bolsonaristas da cidade. O número de contaminações e mortes vem crescendo em todo o Brasil, atingindo em cheio o Vale do Paraíba e São José dos Campos, que atualmente é a 2º cidade do interior de São Paulo com o maior número de contaminações. A flexibilização da quarentena na cidade e o retorno dos mais de 5 mil profissionais da Educação aprofundarão esse cenário cruel. Felicio Ramuth deve ser responsabilizado. 

*Jéssica Marques é professora de História da Rede Municipal de São José dos Campos e Diretora Licenciada do Sindserv

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