A revolta venceu o medo: O ato em São Paulo contra Bolsonaro

Silvia Ferraro
Guilherme Balza / Globonews

A maioria era jovens. Mas existiam alguns mais experientes no meio da multidão. Uma grande parte era jovens negros e das periferias que se organizaram em grupos que entoavam palavras de ordem contra o racismo e pela memória de George Floyd, João Pedro, Miguel e Marielle Franco. Também existiam as torcidas antifascistas, com destaque para uma bandeira gigante da Democracia Corinthiana. Segurando o bandeirão, um homem negro de 63 anos, Senhor Gerson, que disse que foi na manifestação pelos seus netos: “Vivi a ditadura militar e não quero isso para os meus netos. Sou da Democracia Corinthiana desde o tempo do Sócrates e ele ensinou a gente a lutar!”.

Junto com os vários coletivos do movimento negro e as organizações de torcidas antifascistas, se destacava também o MTST, que com as mulheres das ocupações fez uma performam-se inspirada nas feministas chilenas. A Frente Povo Sem Medo com suas várias organizações, tendo como principal liderança Guilherme Boulos, estava presente e foi uma das organizadoras do ato.


Foto: Guilherme Gandolfi / @guifrodu

Todos que entravam no Largo da Batata se deparavam com uma brigada de médicos e enfermeiros que distribuíam máscaras e álcool em gel. A praça foi toda marcada com os lugares para as pessoas ficarem, com o objetivo de garantir o distanciamento social.

Janelas durante o percurso. Foto mostra um prédio com 3 janelas. De uma duas pesoas batem panelas. A outra esta fechada, com um aviso de vende-se. A outra, vários homens exibem uma camisa preta, escrito FCK NZS

Foi uma contradição defender o isolamento e ao mesmo tempo participar de um ato desses? Foi, mas uma contradição necessária! A vida nas periferias já tem pouco isolamento, a maioria está sendo obrigada a trabalhar, a quarentena não é um direito de todos e a população negra ainda sofre com a violência policial. Junto com isso, a ameaça constante de um governo que quer esconder os números das vítimas da Covid-19 e anda conspirando contra a democracia, com atos e falas que defendem fechar o Congresso e o STF e querem a volta da ditadura militar e o AI-5.

Não queríamos ir para as ruas, não queríamos correr o risco de nos expor ao contágio da Covid-19. Temos medo sim, por nós e por nossas famílias, mas dessa vez a revolta venceu o medo. O grito preso na garganta tinha que sair!

Um dos momentos mais emocionantes do ato foi quando um jovem negro disse no microfone: “Agora vocês que são brancos se abaixem, que é pra nós negros aparecermos”. Todos os brancos se ajoelharam. Nossa mobilização de hoje, inspirada nos atos que estão ocorrendo nos EUA e em vários países, teve um forte componente antirracista. 90% dos oradores do ato eram negros. O antirracismo se fundiu com o antifascismo. E, parafraseando uma jovem negra, quem é antirracista é antifascista!

O ato também contou com a presença de alguns ícones do Rap nacional, como Thaíde, Mano Brown e Dexter. Também ocorreram atos em outras cidades paulistas, como Campinas e Sorocaba.

 

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