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MOVIMENTO

Afronte: Nenhum Estudante Fica Para Trás!

Na tarde do dia 25 de maio, militantes do Afronte! que constroem diversas entidades estudantis (Diretórios Centrais dos Estudantes, Centros Acadêmicos e Diretórios Acadêmicos) participaram de uma reunião virtual ampla que teve como pauta o ensino remoto durante a quarentena.

Foi destacado que existe uma pressão pela volta das atividades em dois níveis: a pressão política dos governos (federal, estaduais e municipais) e outra das próprias reitorias. No cenário atual, existem três tipos de universidades: as que logo no início da pandemia já substituíram o ensino presencial pelo remoto, as que estão se sentindo pressionadas para voltar às atividades com o ensino remoto e as que se mantém na vanguarda contra as pressões pela volta das atividades por acreditarem que isso prejudicaria a comunidade acadêmica e a sociedade de forma geral. Em todas as situações, acreditamos que o principal debate passa pelas desigualdades econômicas, sociais, regionais, de gênero e de raça a que estão submetidas o corpo discente.

Desde o início do isolamento social, já vínhamos alertando a falta de estrutura (internet, computador, local adequado), a situação das estudantes mães que precisam cuidar quase que todo o tempo dos filhos pequenos, entre outros fatores entre parte importante dos estudantes. Essas desigualdades não desapareceram, pelo contrário, as consequências da pandemia as aprofundaram.

Outras situações levadas em considerações são as condições psicológicas dos estudantes. A angústia, a incerteza e a sensação de desamparo são agravantes inquestionáveis. E, se há anos denunciamos a ostensiva lógica produtivista na universidade e seus efeitos na saúde mental dos estudantes, não será hoje que cederemos a tal pressão, onerando aqueles que mais precisam de suporte no momento.

Qualquer saída pensada sem levar todos esses fatores em consideração não é válida para nós e batalharemos nas universidades para que nenhum estudante fique para trás!

Embora a visão produtivista do ensino nos faça enxergar de forma limitada, o objetivo da graduação não se reduz a um diploma. A nossa maior contribuição à humanidade, com certeza, não se dá pelo cumprimento rigoroso de calendário letivo. No entanto, o governo federal genocida, junto aos grandes empresários da educação se aproveitam dessas motivações individualistas, reforçando o alheamento da população às produções científicas do ensino superior. Não podemos aceitar que a universidade se torne ainda mais elitizada, propagando a falácia meritocrática do “se esforce”.

A saída é o diálogo e elaborações coletivas entre a comunidade universitária

 

Para enfrentar esse período, houve um consenso de que o diálogo democrático entre estudantes, professores, servidores, diretorias/reitorias é fundamental. Não só porque o momento atual exige renovadas reflexões, mas porque canetadas, vindas de quem desconhece as aflições dos estudantes, são inaceitáveis. Os prejuízos podem ser muito graves se não houver a devida ponderação sobre o que está em jogo no momento. E reforçamos: o que está em jogo é preservar ao máximo a permanência estudantil daqueles mais prejudicados com a pandemia e o caráter público e de qualidade da universidade.

O momento exige diálogo, mas não de qualquer jeito. Não queremos o “diálogo” somente nos conselhos universitários, onde são irrisoriamente cedidos 3 a 4 minutos de fala aos representantes discentes, muitas vezes ignorados em seus posicionamentos. Ou diálogos por meio de “formulários” sem a participação estudantil.

Nossa necessidade é simples: queremos decidir, junto ao conjunto da comunidade universitária, quais são as melhores estratégias para enfrentar o cenário tão dramático em que vivemos. Para isso, exigimos a criação de comissões paritárias, com a igual representação das categorias, por onde sejam elaboradas medidas concretas em benefício da comunidade, tanto acadêmica quanto civil.

Aqui, não custa lembrar por quem estudamos. Se a população inteira financia nosso estudo nas universidades públicas, a população inteira deve se beneficiar do conhecimento produzido por nós. Os problemas que devemos solucionar são coletivos, não individuais ou restritos aos muros da universidade. E sejamos sinceros: quem está para “além dos muros” não está preocupado com a interrupção ou não do semestre letivo, mas sim com as contribuições da universidade para o enfrentamento da pandemia.

Precisamos salvar vidas e combater a maior pandemia antes vista.

 

Diante disso, a pesquisa e a extensão não podem ser vistas como meros acessórios. Enquanto o ensino fica em retaguarda, os outros setores devem ser fortalecidos para manter erguida a relevância da universidade pública. Grupos de pesquisa, congressos online e lives com especialistas são alguns exemplos de atividades que podem ser feitas sem prejudicar os estudantes. Através dos quais, evidentemente, não cabe discutir sobre como aumentar o lucro das empresas, mas sim, como conter a pandemia e minimizar os prejuízos sociais por ela causados. Embora pareça raro, muitas universidades públicas, como a UFBA e a UFPA, têm investido de maneira ostensiva e acertada nessas discussões, sem onerar os estudantes que não têm acesso digital, uma vez que o calendário letivo foi suspenso nessas instituições. Estes são exemplos de iniciativas consequentes, elaboradas de maneira democrática pela comunidade acadêmica.

Seguindo estes modelos, é fundamental que os CAs, DAs e DCEs defendam políticas consequentes, que acolham e considerem as diversas dificuldades dos estudantes. Ainda que sejam criadas comissões paritárias, cabe a essas entidades também recolher opiniões, incitar debates e impulsionar demandas diante ao ensino remoto. Lembrando que pouco adianta discutir sobre acessibilidade digital, se a disponibilidade de tempo, a situação psicológica, as tarefas da maternidade e as condições ambientais de estudo não forem também consideradas. Há de se defender os nossos direitos e a permanência na universidade pública é um dos principais. Não aceitaremos que as pessoas negras, pobres, periféricas, indígenas, quilombolas e as mães sejam marginalizadas, mais uma vez na história. Se queremos sair melhores dessa pandemia, o presente há de ser diferente. E, por isso, exigimos:

 

Nenhum estudante fica para trás!

Contra o ensino remoto excludente e precário!

 

Afronte nas Entidades Estudantis