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MOVIMENTO

Estudantes da PUC-RS contra o sucateamento da educação

Muna El Kadri, de Porto Alegre, RS
PUCRS/Divulgação

A COVID-19 nos apresentou um agravamento da crise capitalista, medos e ansiedades, descasos com a vida, priorização dos lucros e sucateamento das instituições essenciais da classe como as escolas e hospitais. Não há dúvidas que existem tentativas de desmobilizar as pautas comuns para o interesse dos grandes empresários, o corte nas bolsas de mestrado e doutorado através da portaria 34 com a justificativa de direcionar os recursos para o setor da saúde é um exemplo das medidas de contradição geradas pelo governo de Bolsonaro e Mourão. 

Na lógica micro que atua no interior das instituições, as medidas de contradição ocorrem de forma ainda mais intensa. São nas universidades onde encontramos os maiores polos de demandas, por ser um setor dinâmico e com uma variedade de estudantes as representações estudantis têm encontrado uma série de problemáticas para a atender em tão pouco tempo. Já sabíamos que os estudantes eram um dos maiores inimigos do governo Bolsonaro, vimos de perto os tsunamis da educação contra o sucateamento da pesquisa e do ensino nas universidades públicas, mas e as universidades privadas? Como caracterizar um setor que por anos se mostrou elitizado e que desde 2005 mudou radicalmente a composição dos estudantes?

Para elaborar essa reflexão primeiro precisamos caracterizar a realidade atual das universidades privadas, pelo menos na PUC-RS onde estamos localizados presenciamos que algumas colocações do discurso comum não permeiam a nossa realidade. O cenário das universidades privadas apresentou uma grande modificação a partir de 2005 durante o governo Lula, com a implementação da Lei nº 11.096 o programa “Universidade Para todos” (ProUni) possibilitou o ingresso de 1,2 milhões de jovens de baixa renda nos sistemas de graduação das universidades privadas. Por mais que ingressem setores da classe trabalhadora a PUC-RS não se preocupou em criar políticas de assistência e permanência na universidade, tendo muitos casos de desistência durante esse período. Somente com a articulação e o pressionamento de setores estudantis essa logica se altera, tendo uma política de solidariedade e consciência de classe capaz de concretizar as pautas de assistência estudantil. 

Os estudantes, professores e funcionários são capazes de alterar a realidade da universidade privada. Estes apresentam lógicas e demandas muito particulares que precisam ser debatidas constantemente, sem nunca esquecer que a dialética público-privada é fundamental para compreender períodos como os de pandemia. Enquanto sociedade, nós dependemos do sistema único de saúde (SUS), nossas pesquisas no São Lucas são direcionadas para o tratamento realizado nos pacientes do SUS. É nossa a tarefa de defender e cuidar de um sistema de saúde que além de público atenda as demandas da sociedade como um todo, tanto nos serviços quanto nas pesquisas. Seguindo essa lógica, também é nossa tarefa defender as instituições federais de ensino, sejam escolas ou universidades, sabemos o quão duro é a elitização da educação. A implementação imediata do sistema de ensino a distancia é um dos fatores que contribuem para um avanço do sucateamento das universidades e escolas públicas, ao sobrecarregar professores e alunos com demandas que não cabem para as estruturas reais da universidade, as diretrizes do MEC ainda ignoram a realidade de muitos estudantes que não possuem acesso a internet e aos materiais necessários para a possibilidade de uma aula online. 

As universidades privadas, por outro lado, tem condições e estrutura suficiente para fornecer recursos que possibilitem a elaboração das aulas EAD, porém, precisamos estar atentos a qual forma de sistema de ensino será elaborada, se é uma alternativa privada para a situação da quarentena ou uma tática para aumentar a mercantilização do ensino? Com essa preocupação o DCE PUCRS elaborou uma série de medidas para o debate sobre as aulas a distância, incluindo uma padronização do sistema EAD que não acumule conteúdo para os professores nem para os alunos. Como dissemos anteriormente, muitos bolsistas ingressaram na universidade e muitos trabalhadores também, que precisam das condições necessárias para estudar, precisam de materiais e internet, a PUC-SP ofereceu um cadastro para a retirada de roteadores de internet e tablets para o estudo dos estudantes. É de máxima importância que essa possibilidade seja implementada por todas as PUC’s do Brasil, como uma das alternativas de assistência. Esses estudantes têm prazos a cumprir e aqueles que pagam as altas mensalidades da PUC não podem ter seus semestres adiados, a realidade privada nunca nos possibilitou brechas no calendário e é muito perversa as necessidades dos estudantes. 

Para contra-atacar essa realidade perversa precisamos pensar em alternativas, a primeira já falamos: a garantia de uma assistência estudantil viável através dos recursos privados da universidade. Outra alternativa efetiva e que auxilia muito os estudantes é o debate sobre a redução das mensalidades, elaborar abaixo-assinados, notas políticas e reuniões são formas de pressionar a reitoria das universidades e que precisam ser incorporadas nos calendários políticos das universidades privadas! A COVID-19 impossibilita muitos trabalhadores de exercer suas funções e agravada com a PEC 936 que permite a demissão de trabalhadores durante a quarentena, o medo do desemprego é cada vez mais constante. Com isso muitos estudantes não possuirão recursos para arcar com os custos totais das mensalidades, acumulando dívidas ou até mesmo o cancelamento dos cursos. 

Também existe o cálculo comum das mensalidades, todas as PUC’s possuem uma taxa na mensalidade que envolve a parcela do ensino a distância, (como exemplo as tarefas do moodle) para a maioria dos cursos, com exceção de algumas cadeiras práticas. Infelizmente não sabemos o número de gastos ao certo, levando em consideração o sigilo das contas da PUC, pauta central no movimento estudantil das privadas. Mas é preciso pensar em um cálculo básico da movimentação e manutenção dos campos, não estamos inseridos na lógica presencia de custeio de recursos, logo é ilógico que seja cobrado o valor total das mensalidades. Se teremos as aulas online através do zoom ou da plataforma moodle, que seja cobrada somente a taxa EAD das mensalidades ou que no mínimo se tenha uma redução de 30% do valor total.  

Paro o momento precisamos de compreensão e solidariedade, é preciso ter zelo por todas as categorias que constituem a universidade sejam eles estudantes, professores, funcionários, coordenadores e terceirizados. Não é o intuito cortar dos setores que compõem a classe trabalhadora com a redução das mensalidades, mas sim reduzir os lucros em prol da educação. Nós que militamos na universidade privada precisamos estar atentos e articulados com os centros acadêmicos e diretórios, ouvindo as demandas e prezando o canal comunicativo entre os estudantes e os órgãos burocráticos da universidade. Formar uma corrente de solidariedade e uma luta unificada é o nosso caminho para atravessar esse período, garantir a assistência e a permanência de todos os estudantes bem como o cuidado com sua saúde mental é fundamental para a superação da crise. Somos a parte mais ativa da universidade privada, as mobilizações e tendências dependem de nós, por isso estamos em defesa da vida e da educação acima dos lucros.