O jornalista australiano Julian Assange, fundador do Portal Wikileaks (em 2006), segue preso no Reino Unido, há mais de um ano, aguardando uma audiência de extradição para os EUA, agora marcada para o dia 7 de setembro. Esta audiência estava prevista para acontecer agora em maio, mas foi adiada devido aos grandes impactos da pandemia de Covid-19 neste país.
Em novembro deste ano, vai completar 10 anos que o Wikileaks e seus parceiros na mídia comercial (El País, Le Monde, Der Spiegel, The Guardian e The New York Times), começaram a publicar telegramas secretos da diplomacia estadunidense, que demonstraram para todo o mundo os crimes de militares dos EUA na invasão de caráter imperialista no Afeganistão.
Estes vazamentos foram uma bomba, não só dentro dos EUA como em todo mundo. Afinal, deixaram nítida toda a hipocrisia das forças armadas estadunidense e de seus métodos criminosos, bárbaros e ilegais. A verdade veio à tona, graças às informações publicadas pelo Wikileaks e seus parceiros, demonstrando a importância de uma mídia realmente independente, para ajudar a demonstrar toda a farsa do discurso antiterrorista dos EUA.
Nestes 10 anos, Assange vem sofrendo uma brutal perseguição e uma campanha sórdida com todo o tipo de calúnias e difamações, realizada por um conluio formado principalmente pelos governos dos EUA e seus aliados mais próximos, como o Reino Unido. O objetivo desta campanha mentirosa nunca foi a verdade, mas sim desmoralizar as denúncias publicadas pelo Wikileaks e desencorajar outros vazamentos sobre os crimes militares estadunidenses.
Ao invés de respeitar o direito à liberdade de imprensa e de preservação do segredo das fontes dos jornalistas, os governos imperialistas inventam que Assange estaria a serviço do governo Russo contra as Nações ocidentais e, mais recentemente, chegaram a dizer que ele poderia estar ligado ao governo chinês. Mais uma farsa delirante, que visa, na verdade, manter em sigilo, longe da opinião pública, as ações de espionagem e a interferência nas soberanias nacionais de vários países, realizadas principalmente pelo imperialismo ianque.
Os absurdos cometidos contra Assange são tão grandes, que levaram Nils Melzer, Relator Especial da ONU, a afirmar o seguinte: “que em 20 anos de trabalho com vítimas de guerra, violência e perseguição política eu nunca vi um grupo de Estados democráticos (Reino Unido, EUA, Equador e Suécia) se unindo para isolar deliberadamente, demonizar e abusar de um único indivíduo por tanto tempo e com tão pouca consideração pela dignidade humana e pelo Estado de Direito … o tratamento ou castigo desumano e degradante (de Assange), cujos efeitos cumulativos só podem ser descritos como tortura psicológica”.
A caçada a Assange o obrigou a pedir asilo na Embaixada do Equador em Londres, em 2012. O asilo político foi concedido rapidamente pelo governo equatoriano à época, do presidente Rafael Correa. Mas, o governo do Reino Unido, de forma totalmente ilegal e ferindo tratados internacionais, impediu que Assange pudesse viajar para o Equador. Caso ele tentasse sair da referida Embaixada, ele seria imediatamente preso. Por 7 anos, Assange foi obrigado a residir na Embaixada do Equador em Londres, sobre forte vigilância da polícia do Reino Unido. Mas, o pior ainda estria por vir.
No dia 11 de abril do ano passado, o governo do Equador, já na gestão do atual presidente Lenín Moreno – que iniciou um processo de novamente subordinar a política externa deste país latino-americano aos interesses do imperialismo estadunidense – concordou em acabar com o asilo político e entregar Assange para a polícia do Reino Unido, que imediatamente entrou na Embaixada e efetuou a prisão absurda.
Assange corre risco de vida
Caso Assange seja extraditado para os EUA, existe uma grande possibilidade de que ele enfrente um logo período de detenção, em condições ainda mais precárias.
Para se ter uma ideia dos riscos envolvidos, Chelsea Manning, atualmente uma ativista Trans e pelos direitos humanos nos EUA, que na época dos vazamentos era um analista de sistemas das forças armadas estadunidense, identificado como Bradley Manning (sua identidade anterior), foi processado e preso de forma relâmpago.
Chelsea chegou a ser condenada a 35 anos de prisão, mas ficou presa por 7 anos, até 2017, depois chegou a ser libertada. Mas, voltou a prisão no ano passado, pasmem, simplesmente por ter se recusado a depor contra Assange no processo de sua extradição. A brutalidade destas condenações e prisões sucessivas é tão grande que Chelsea tentou o suicídio no mês de março deste ano. Um completo escândalo.
O processo de extradição de Assange para os EUA é montado em outra mentira, que ele teria auxiliado tecnicamente Manning a obter os vazamentos dos documentos secretos, que escondiam os crimes militares dos EUA. Numa evidente inversão de valores, onde se passa a discutir como se conseguiu estes documentos, ao invés de se focar na gravidade das informações contidas neles.
Mas, Assange corre ainda um risco de vida mais imediato. Existe uma grande onda de contágio pelo novo coronavírus nos presídios do Reino Unido, que está gerando até uma discussão no interior do governo conservador inglês sobre a necessidade de libertar presos que não sejam de grande periculosidade.
Portanto, chama ainda mais atenção, a falta de sensibilidade do governo do Reino Unido que mantém Assange preso, mesmo sabendo que ele pode se contaminar e morrer na prisão. Assange não é uma ameaça segurança do país, e como todos sabem disso, o governo do Reino Unido o mantém preso apenas com a alegação genérica que ele poderia fugir do país, caso tivesse a liberdade provisória concedida.
Intensificar a campanha pela liberdade de Assange
A prisão injusta e ilegal de Assange é antes de tudo um atentado contra o direito inalienável à liberdade de imprensa e, de forma mais geral, um ataque às mínimas liberdades democráticas. Não é preciso concordar com tudo que Assange disse ou fez para entender a importância desta luta democrática.
Devemos entendê-la também como uma ação de caráter anti-imperialista, contra principalmente os EUA, que quer impor e consolidar cada vez mais seus domínios sobre mundo.
Portanto, o adiamento do julgamento da extradição de Assange, para setembro deste ano, deve ser entendido como uma oportunidade para que os movimentos sociais, associações de defesa dos direitos humanos, organizações democráticas e partidos de esquerda intensifiquem a campanha por sua imediata libertação. E, exigindo também, que sua extradição para aos EUA seja definitivamente negada.
Precisamos retomar e fortalecer esta campanha também no Brasil. A esquerda brasileira deve assumir um papel de destaque também nesta esfera de nossa luta.
Assange livre, já!
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