Pular para o conteúdo
BRASIL

Alguns comentários sobre o video e seu impacto

Juary Chagas, professor da UFPE
Reprodução vídeo reunião ministerial

1. Nao é uma bala de prata, uma prova cabal. Mas, o vídeo é muito ruim para Bolsonaro. Expôs nitidamente a vontade de Bolsonaro em interferir na PF do Rio de Janeiro. O vídeo vai aprofundar o desgaste, demarcou a ruptura completa de Bolsonaro com um dos poderes instituídos (o judiciário) e fortaleceu a tese que o que Moro falava era verdade (embora também demonstre sua prevaricação por nunca ter denunciado antes). Vai ensejar mais investigações e devassa na familícia. Mostrou que ele quer mesmo proteger os familiares.

2. Como se trata de uma reunião onde ele expõe as escaramuças do governo, faz agitação  ideológica e ataca com palavrões e xingamentos inimigos públicos, isso vai fustigar a base social do bolsonarismo. Os fanáticos não vão ficar abatidos, vão  ficar mais odiosos. Inclusive os bandos fascistas. As declarações de que tem que meter bala em todo mundo, armar a “população” (seus defensores), leva o gado fascista ao orgasmo. Isso não deve ser encarado por nós como um atestado de que o vídeo foi positivo para Bolsonaro.

3. O vídeo revelou algumas coisas que não tínhamos noção (ou subestimamos). Que Salles (turismo) era bandido, todos sabiam. O vídeo só foi uma prova. Mas, por exemplo, Damares, esta não é uma mera personagem, para fazer cortina de fumaça. Embora totalmente desqualificada, ela defende todos aqueles absurdos mesmo, acredita neles e mostrou isso na reunião. Já Weintraub não é um bobalhão fanático de direita. Weintraub é um agitador nazi-fascista e muito perigoso.

4. Obviamente é ingenuidade achar que o vídeo, mesmo aprofundando o desgaste de Bolsonaro, não será alvo de disputa, em especial nas redes sociais. Em todos os grupos de WhatsApp, vocês devem ter recebido algo que mostra defensores de Bolsonaro “convictos” de que “não deu em nada”. Lembrem-se, esse povo tem as fake news como modus operandi. É assim que disputam nas redes. Não expressa necessariamente o que ocorre no mundo real.

5. Apesar das instituições terem declarado o repúdio ao conteúdo da reunião,  seguem todas perplexas, claudicantes. Foram as duas principais instituições que hoje se enfrentam publicamente com Bolsonaro (imprensa e judiciário) que se construíram como ponta de lança para pavimentar todo esse caminho que colocou Bolsonaro no poder, com a cobertura das manifestações reacionárias em 2015, a Lava Jato e etc. Criaram um monstro que achavam que poderiam disciplinar e agora estão em parafuso. Imaginem se Lula ou Dilma (mesmo com todo seu apreço em governar de mãos dadas com a classe dominante) aparecem em rede nacional clamando pelo “povo” em armas, pela prisão dos ministros do STF e por dar tiro em prefeito. Mas agora o problema não é mais o PT. Estamos diante de uma situação em que os que fizeram a merda agora precisam limpar, mas não sabem como, porque também precisam de certas garantias que um processo de enfrentamento até as últimas consequências (que é até onde Bolsonaro vai) não lhes dá.

6. Tivemos mais uma prova de que, após o COVID-19 e as últimas denúncias, quem ainda faz defesa cega de Bolsonaro, não tem salvação. Os bolsonaristas que restaram são piores que Bolsonaro. Percebam que estão agitando que “Bolsonaro está eleito em 2022”. Eles não agitam “Bolsonaro é  inocente”. Pra eles pouco importa se é um criminoso. A representação de um gado sendo tangido na base do berrante tem um sentido, mas é até  insuficiente para o que eles são. Porque Bolsonaro, para eles, é um líder com vocação divina. Esse é  o fundamento da devoção fascista. A nossa vitória passará não por convencê-los, mas esmagá-los.