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BRASIL

A volta do futebol alemão

Diogo Xavier, de Recife, PE

Jogar sem torcida é como dançar sem música
(Eduardo Galeano)

Após mais de dois meses onde o futebol parou quase por completo, exceção feita à Nicarágua e Bielorrússia, esse final de semana marcou a volta do futebol na Alemanha. Uma volta apressada que viu na escassez do futebol pelo mundo uma forma de se tornar relevante, no entanto é preciso discutir que jogo aconteceu nesse retorno do campeonato.

É importante frisar que a Alemanha, na Europa Ocidental, foi um dos países que melhor lidou com a pandemia do novo Coronavírus. O pico aconteceu no começo de abril e a situação dos hospitais está controlada segundo as autoridades locais. A quarentena já foi afrouxada e com isso a prática esportiva liberada em boa parte do país.

No entanto a volta do campeonato alemão foi nitidamente apressada pela Bundesliga (Entidade que organiza o campeonato nacional) e a Federação Alemã. A última rodada do campeonato acabou no dia 11 de março, logo os jogadores passaram mais de dois meses sem uma partida oficial, mais do que o período da intertemporada normal, e isso causou distorções nos jogos.

Os protocolos para a volta do futebol foram extremamente rígidos, desde treinamentos com números limitados de pessoas, testes diários nos jogadores, proibição de alimentação nos Centros de treinamento e nos estádios, acabar com a concentração e outras medidas para evitar qualquer contágio. Esse gasto de testes gerou uma leva de críticas pela comunidade internacional já que boa parte dos países vizinhos sofreu e ainda sofre com a falta de testes pra pessoas em estado crítico e também para profissionais de saúde.

Na pressa de recomeçar a competição não foram feitos períodos suficientes de treinos e nenhum jogo de pré-temporada. Ao assistir as partidas foi perceptível a falta de ritmo de muitos jogadores e os erros bobos de equipes que não treinam juntas.

A grande diferença veio mesmo da arquibancada, jogos sem público escancaram que o futebol é feito pelo torcedor. A partida que abriu a rodada foi logo Borussia Dortmund x Schalke 04, conhecido como Clássico do Vale do Ruhr, dava pra ver o Signal Iduna Park, que ficou conhecido no mundo inteiro pelo show que a torcida do Dortmund dá na Muralha Amarela, vazio. Um estádio com as arquibancadas vazias mostrou estar sem alma.

O futebol existe por causa da torcida, todo dinheiro que essa indústria movimenta é por causa dos seus torcedores, por isso ver um estádio sem aqueles que motivam o espetáculo mostra quão indiferente aos seus torcedores os dirigentes estão. Pensar no lucro e na fortuna vinda da televisão moveu essas pessoas a colocar jogadores em risco e acelerar a volta de um campeonato que não poderia muito bem esperar mais algumas semanas.

A volta do público no futebol muito provavelmente só poderá ocorrer quando houver uma vacina, pois mesmo os países que estão reabrindo as atividades não são permitidas aglomerações. Portanto um debate sobre o futebol sem torcida deve ser discutido sobre esses parâmetros já que muito dificilmente uma vacina será produzida e distribuída em massa num prazo menor que um ano e meio.

Pensar o retorno do futebol e dos demais esportes deve ser colocando em primeiro lugar a vida e não os lucros. Para uma partida funcionar mais de 300 pessoas são envolvidas. Para jogadores e dirigentes o tratamento é garantido, mas e para aqueles que pouco recebem e tem trabalhos invisíveis nessa engrenagem não se pode dizer o mesmo.

A Alemanha que fez questão de mostrar ser exemplo no combate a pandemia se mostrou no retorno do futebol um mau exemplo pro que deve ser o esporte daqui em diante.