Não é só no Brasil que governantes namoram com regimes de exceção. No Chile, o presidente Sebastián Piñera nomeou Macarena Santelices para o cargo de ministra da Mulher, no dia 05 de maio. O cargo estava vago há 54 dias e o governo escolheu uma insuspeita defensora da ditadura militar chilena para comandar a pasta, mostrando suas intenções autoritárias e ao mesmo tempo o descaso com a luta pela igualdade de gênero.
Macarena Santelices é sobrinha-neta do ditador Augusto Pinochet que comandou uma cruel ditadura militar no Chile por quase 20 anos (entre 1973 e 1990). Mas se é verdade que parente não se escolhe, o mesmo não acontece com ideologias: Santelices possui inúmeras entrevistas e manifestações em apoio ao regime militar chileno e pautas de extrema direita, tendo dito, por exemplo, que não se pode desconhecer o que “teve de bom” no regime militar, que é contra o direito das mulheres abortarem, e apoiando fortemente a repressão policial e militar contra os protestos no Chile.
A indicação de Santelices serve como um gesto de Piñera à extrema direita chilena e uma provocação aos movimentos sociais e feministas que vêm protagonizando enormes lutas nos últimos anos. Assim como no Brasil, vários governos latino-americanos apoiados pela nova política externa de Donald Trump vêm namorando com regimes ditatoriais.
Não podendo vencer nas regras do jogo, querem virar a mesa e impor regimes de exceção que ataquem brutalmente as condições de vida da população trabalhadora. E assim, facilitam a rendição à dominação norte-americana, que por sua vez fortalece posições no seu “quintal”, na luta contra o avanço da China, que está ganhando posições comerciais estratégicas no continente, nas disputas geopolíticas com os EUA.
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