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BRASIL

A cegueira da classe média e seu apoio (in) condicional ao bolsonarismo

André Damasceno* e Dermeval Marins de Freitas**
Marcelo Casal Jr / Agencia Brasil

A burguesia ficou desnuda desde quando começou a pandemia. Porque isso ocorre? Bem a pequena burguesia [1] sempre dependeu da mão-de-obra dos oprimidos e também da sua força de trabalho, porém esta pequena burguesia nunca teve acesso ao grande capital, e com isso ela depende da exploração das trabalhadoras e dos trabalhadores para obter o seu pequeno lucro, sem a qual não conseguem sobreviver. E é a partir desse ponto que se apresenta a característica da pequena burguesia: ela tem mais medo de perder o pouco que tem, do que perder a vida, e ao contrário do que se possa imaginar essa pequena burguesia não tem nenhum respeito pela vida dos desfavorecidos.

A pequena burguesia não tem acesso ao grande capital e possui uma carga tributária bastante alta em comparação com os seus ganhos

Essa pequena burguesia não tem acesso ao grande capital e também não goza de uma grande reserva de dinheiro. Parte dessa classe não se sente protegida com o fechamento do comércio, pois diferente da grande burguesia que possui grande capital e tem acesso ao crédito fácil, isenção de impostos e até perdão da dívida, a pequena burguesia nada disso dispõe, pois ela não tem acesso ao grande capital e possui uma carga tributária bastante alta em comparação com os seus ganhos.

Mas por que falar desta pequena burguesia se o nosso grande inimigo é o grande capital e o governo Bolsonaro? Na medida em que parte significativa dela apoiou a eleição do Bolsonaro e continua firme em seu apoio muitas vezes incondicional a política de morte deste governo. Mas não só isso, essa mesma pequena burguesia consegue levar junto com ela parte significativa da classe trabalhadora que depende dos seus empregos para sobreviver. Nesse sentido, pensar numa política para esta classe se torna fundamental para o combate do bolsonarismo, sem a qual ela se vê mesmo que as vezes a contragosto, a apoia-lo.

Cada vez mais percebemos as características fascistas do governo Bolsonaro e como ele tem conseguido empurrar a pequena burguesia a apoiar o seu projeto. Sem conseguir vislumbrar qualquer saída para os seus negócios essa fração da burguesia tende a ver o fim do isolamento social a única saída para a sua sobrevivência, por isso as grandes carreatas da morte pedindo o fim da quarentena.

Veremos a ampliação de uma mentalidade fascista nesta fração de classe

Na medida em que a quarentena tende a se prolongar devido à falta de políticas públicas para a contenção da pandemia e na falta de uma vacina, as condições de vida dessa pequena burguesia tende a empurrá-los para o segmento dos desprovidos dos meios de produção, isto é, a classe trabalhadora. Porém, antes disso, veremos a ampliação de uma mentalidade fascista nesta fração de classe e o consequente aumento de apoio ao discurso negacionista do presidente Bolsonaro. Neste sentido, sem que a esquerda produza uma proposta para atrair o micro e o pequeno empresário não conseguiremos avançar na disputa ideológica.

Em pequenas cidades sabemos que para além dos empregos públicos, uma parcela significativa do emprego formal se encontra nas pequenas empresas e prestadoras de serviços. Isso significa que sem uma política para essas pequenas empresas uma parte da classe trabalhadora vai ficar sem condições de sobrevivência devido as demissões. É necessário que o Estado impeça a demissão destes trabalhadores a partir de políticas que garantam a manutenção de seus empregos.

Sem uma política de sobrevivência para estas pequenas empresas o bolsonarismo tenderá a crescer na pequena burguesia e com ela parte significativa da classe trabalhadora.

 

*André Damasceno é Professor da Educação Básica de Nova Iguaçu.

**Dermeval Marins de Freitas  é Doutorando em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Diretor Sindical do núcleo do SEPE – Itaboraí, membro da executiva do diretório do PSOL – Itaboraí.

 

Nota:

[1] A despeito das controvérsias teóricas quanto o conceito de classe média de matriz weberiana e pequena burguesia de tradição marxista, tratamos os dois conceitos como intercambiáveis. Sobre o tema ver a arguta análise de Alvaro Bianchi em: https://blog.esquerdaonline.com/?p=2766