De um Hamilton a outro: tragédia e farsa do federalismo burguês
Publicado em: 14 de maio de 2020
Felipe Demier
Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É autor, entre outros livros, de “O Longo Bonapartismo Brasileiro: um ensaio de interpretação histórica (1930-1964)” (Mauad, 2013) e “Depois do Golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil” (Mauad, 2017).
Felipe Demier
Felipe Demier
Hegel disse, “em algum lugar”, que alguns fatos históricos costumam ocorrer por duas vezes, no que foi por Marx complementado com a célebre sentença: “na primeira como tragédia, na segunda, como farsa”. Eis que numa pandêmica e cinzenta manhã de quinta-feira, nosso vice-presidente Hamilton, hoje declarado federalista, e que suponho não ter lido Hegel nem gostar muito de Marx, resolve publicar um artigo para o qual parece ter ido buscar inspiração no seu homônimo norte-americano de outrora, o major-general Hamilton.
Com seus colegas do “The Federalist”, o Hamilton de lá – o primeiro, o original, o trágico – enxergava na exacerbação do poder do Executivo federal a solução ideal para dar conta da insatisfação social que parecia se espalhar pelos estados da federação em meio ao empobrecimento e endividamento dos setores populares. Com a Convenção da Filadélfia em 1787 – pouco mais de uma década antes de Bonaparte (o primeiro, o original, o trágico) assestar, no 18 de Brumário, o golpe que poria fim à crise do Diretório – Hamilton e os seus lograram reformar a constituição original (os Artigos da Confederação, de 1777) e, sob pretexto de “conter a anarquia”, concederam mais força à Presidência da República, que então teria como primeiro ocupante um militar, o general George Washington. Normativo e com fortes inclinações bonapartistas, o segundo Hamilton, embora cite Madison, esposa na verdade o ideário do seu homônimo, o qual, como se sabe, em sua marcha centralizadora enfrentou o próprio Madison, seu antigo aliado no “The Federalist”, mas que, pouco após promulgada a “nova” constituição, passou a posições mais favoráveis à autonomia dos estados.
Sim, é verdade que enquanto o primeiro Hamilton, subordinado a um vitorioso general, teve como adversários homens do porte de Thomas Jefferson e de Madison, o segundo, subordinado a um covarde capitão, bate-se com gente como Witzel e Dória, mas cada tempo e cada burguesia parecem ter os representantes politicos que merecem. Para além das diferenças e semelhanças entre as perucas e tintas capilares dos personagens, a questão hoje é saber se o Hamilton de cá – o segundo, o falso, o farsante -, também muito amigo de Washington, terá êxito em suas investidas centralizadoras e autoritárias, tal qual teve o Hamilton de lá, autor das palavras abaixo:

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