Você gosta de Kraftwerk e não sabe – homenagem a Florian Schneider


Publicado em: 6 de maio de 2020

Cultura

Ademar Lourenço, de Brasília, DF

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

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Se alguém voltasse no tempo e impedisse a formação do grupo Kraftwerk, a música em 2020 seria totalmente diferente. E isto não é um exagero. Na sua lista de músicas preferidas com certeza você vai se deparar com algo que sofreu influência da banda fundada por Florian Schneider, que teve a morte tornada pública nesta quarta (06). Uma influência comparada a dos Beatles. 

Hoje qualquer pessoa pode comprar um programa de edição de som em uma “feira do Paraguai” e brincar de DJ no seu computador. Mas no início da década de 70, fazer música eletrônica era bem difícil. O acesso a sintetizadores e a aparelhagem era complicado. Além disso, o som eletrônico ainda não chamava atenção do público e parte da crítica não considerava este estilo como música. 

Mas foi nessa época Que Florian Schneider e Ralf Hütter montaram em Düsseldorf, Alemanha, um grupo onde os efeitos eletrônicos não seriam apenas assessórios, mas a parte principal da música. Isto não era novidade. Desde o início do século XX que novas sonoridades eram experimentadas por artistas ligados aos movimentos de vanguarda. Instrumentos com sonoridade eletrônica, como o Teremin, datam dos anos 20. Artistas como Karlheinz Stockhausen já tinham notoriedade. 

Mas foi com disco Autoban, de 1974, que o grupo alemão transformou o que era arte de vanguarda em música popular. A sonoridade simples e estranha para a época chamava a atenção. Não demorou muito para que eles começassem a ter sucesso comercial. Em 1978, o disco Die Mensh-Maschine lança clássico como “The Robots” e “Das Model”. 

As letras tinham temas como a alienação do homem perante um mundo tecnológico e questões ecológicas, combinando em muito com a linguagem musical. O grupo também deu popularidade a um novo tipo de show, em que as luzes e os efeitos ganhavam muita importância e não haviam instrumentos musicais tradicionais no palco. Tal como os DJs de hoje. 

Com a banda aprendemos que ruídos sintéticos também são músicas. Que a remixagem também é arte. Que o sampler não é cópia e sim homeganem. O que seria do rap e do funk, por exemplo, sem estes conceitos? 

Sem a popularização feita pelo grupo de Florian Schneider, a música eletrônica talvez ficasse restrita a um nicho de vanguarda. A partir dos anos 90, ela não só se torna apenas popular, mas passa a ser hegemônica nas rádios e no gosto da juventude. Claro, não com a mesma qualidade de antes. 

Daft Punk, Lady Gaga, New Order, David Guetta, os rappers atuais, nenhum deles existiria se não fosse a ousadia do Kraftwerk. Você já deve ter ouvido alguma música com sampler de Kraftwerk. Você possivelmente ouve artistas que tem o grupo como referência. Sim, você gosta de Kraftwerk e não sabe. 

Hoje o mundo passa por um conflito entre o estilo de vida urbano globalizado que a humanidade criou e as forças da natureza. Daria um bom filme de ficção científica, daria uma boa música do Kraftwerk. Mas, infelizmente, é a realidade. As pessoas ouvindo músicas de um famoso DJ como Alok por meio de uma live em seus computadores é um dos legados da obra de Florian Schneider. A arte não resolve os problemas causados pela pandemia. Mas torna a vida um pouco mais suportável. 


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