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MUNDO

Paquistão: assassinato de Arif Wazir. A luta continua!

Sher Wazir, Paquistão. Tradução: José Carlos Miranda

Na sexta-feira,  01 de maio, Arif Wazir, líder do Movimento Pashtun Tahafuz (PTM), foi baleado três vezes por assaltantes desconhecidos perto de sua casa em Wanna, Waziristão. Ele ficou gravemente ferido e foi socorrido para um hospital local. Ele foi transferido para Dera Ismail Khan e depois para o hospital PIMS de Islamabad para tratamento. Infelizmente, não resistiu aos ferimentos e faleceu no dia seguinte.

Arif Wazir é da tribo Ahmadzai Wazir, de Wana Waziristan. Ele era primo em primeiro grau do camarada Ali Wazir , principal líder do Movimento Pashtun Tahafuz e membro marxista do parlamento paquistanês .

Segundo fontes, Arif foi o 18º membro de sua família assassinado por terroristas que são conhecidos localmente como “bom Taliban” (as facções do Taliban apoiadas pelo Estado paquistanês são geralmente chamados de “bom” Taliban por pessoas comuns). Em 2007, sete membros de sua família, incluindo seu pai Saadullah Jan e seu tio Mirza Alam (pai de MNA Ali Wazir) foram mortos em um confronto com os terroristas do Taliban. Em abril de 2017, ele foi preso após um protesto, liderado por ele, contra a indisponibilidade de serviços de internet no Wanna Waziristan.

Quando o PTM surgiu em janeiro de 2018, para lutar contra anos de operações militares e as subsequentes violações dos direitos humanos em áreas tribais, Arif deu total apoio ao PTM. Em uma manifestação em Wanna, em março de 2018, ele disse: “Os pashtuns tribais abandonaram casas para permitir que o exército agisse contra terroristas, mas agora os tribais são tratados apenas como estranhos nos postos de controle militares e nem sequer têm permissão para possuir casas e propriedades”. Ele foi posteriormente preso acusado pela Lei de Crimes e Regulamentos da Fronteira (FCR), por organizar de um comício. Em 3 de Junho de 2018 grupos talibãs pró-governo atacaram Ali Wazir, Arif Wazir e apoiadores do PTM em Wanna. Arif Wazir e dezenas de outros apoiadores do PTM foram feridos.

Após a fusão da FATA (Áreas Tribais Administradas Federadas) com a província vizinha de Khyber Pakhtunkhwa, foram anunciadas eleições para a Assembleia provincial. Arif Wazir também contestou a eleição do distrito eleitoral KP-114. No entanto, um mês antes da votação, ele foi preso, e, devido a essa prisão ele não pôde fazer sua campanha eleitoral. Mais tarde, ele foi libertado por ordem da Comissão Eleitoral do Paquistão. Apesar de tais obstáculos, ele ainda obteve 10.272 votos contra os 11.114 do candidato do PTI, Naseerullah Wazir.

Desde o surgimento do PTM, Arif Wazir era preso regularmente, tanto que nos últimos dois anos ele passou 15 meses de sua vida em diferentes prisões. Ele se tornou um dos líderes mais importantes do movimento ao lado de Ali Wazir, Mohsin Dawar e Manzoor Pashteen. O movimento expôs a dura realidade das chamadas operações militares realizadas na região da FATA. Foi revelado que o verdadeiro objetivo por trás de anos de operações militares não era eliminar os terroristas e o Taleban, mas remover as facções do Taliban e rebeldes, e instalar ‘bons’ Talibans em seu lugar, já que no Paquistão as elites dominantes têm uma longa história de criação de grupos militantes sectários para seus objetivos estratégicos.

Milhares de pessoas inocentes foram mortas, deslocadas e suas propriedades saqueadas e destruídas. As pessoas eram constantemente assediadas e humilhadas nos postos de controle das forças de segurança. As áreas “limpas” (áreas limpas de “terroristas”) foram entregues aos militantes do Taleban pró-governo que atacaram implacavelmente Ali Wazir e seus camaradas e qualquer um que desafiasse suas atividades terroristas na área.

O crescimento do PTM é fruto das privações e exploração nacional e étnica, predominante no Paquistão. Embora as demandas iniciais desse movimento estejam limitadas à libertação e comparecimento perante os tribunais de pessoas ‘desaparecidas à força’, exigência de compensação pelas propriedades destruídas e interrupção do assédio e humilhação nos postos de controle, o alcance do movimento foi muito além. O PTM causou um abalo em grandes seções da sociedade pashtun, ganhando especialmente a juventude pashtun.

O movimento realizou comícios massivos em todo o país, atraindo milhares de jovens. A luta ecoou para muito além dos enclaves tradicionais Pashtun e atraíram outras nacionalidades oprimidas, classes trabalhadoras e jovens revolucionários de outras etnias e nacionalidades. Os altos escalões do poder estatal estavam aterrorizados com a imensidão do movimento. Eles recorreram a todo tipo de calúnia contra ela, desde rotulá-los como agentes contratados de potências estrangeiras até tentar caracteriza-los como simpatizantes de terroristas. Apesar de todas essas manobras, o movimento organizou um número considerável de jovens em todo o país.

Mas nem todos os movimentos podem continuar por tempo indeterminado. Sem um programa claro e viável, os apoiadores e trabalhadores do movimento ficam desorientados. O movimento começa a diminuir. As classes dominantes recuam do choque inicial e revidam. No ano passado, um proeminente líder do PTM Arman Luni foi morto em Loralai, Baluchistão, durante uma briga com a polícia local. Ambos os parlamentares do movimento Ali Wazir e Mohsin Dawar foram presos por falsas acusações de terrorismo e presos por três meses. Em janeiro deste ano, o líder do movimento Manzoor Pashteen também foi preso. E agora a mais recente provocação, a morte de Arif Wazir!

O assassinato de Arif Wazir é um claro ato de provocação da elite dominante. Eles querem instigar a juventude pashtun a atos aventureiros, o que daria aos governantes uma desculpa útil para esmagar o movimento física e politicamente. Mas a liderança do movimento não deve perder a calma. Eles precisam diferenciar seus amigos e inimigos. Eles devem saber que seus verdadeiros amigos são as classes oprimidas desta terra e não os governantes de nenhum país. Eles têm que confiar no potencial revolucionário das massas trabalhadoras oprimidas. Somente um movimento coletivo de todas as massas oprimidas pode acabar com essa carnificina sangrenta.

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