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BRASIL

Nova política? Mais uma mentira bolsonarista

Tomás Cardoso, de Niterói, RJ
Reprodução/Youtube

Bolsonaro acompanha live de Roberto Jefferson (PTB)

A quantidade de mentiras propagadas pelo presidente Jair Bolsonaro aumenta a cada dia que passa. Isto não gera nenhuma surpresa para o observador atento, uma vez que Bolsonaro venceu a disputa eleitoral de 2018 com base em uma campanha repleta de mentiras estapafúrdias. Coisas absurdas como o famigerado “kit gay” ter sido distribuído para crianças de seis anos, Adélio Bispo ser filiado ao PT, Haddad ter a intenção de incentivar a pedofilia caso chegasse à presidência, dentre várias outras, são algumas das mentiras que foram propagadas durante a corrida presidencial. Bolsonaro inclusive foi beneficiário direto de disparadas em massa ilegais de fake news feitas por empresas bolsonaristas, o que se configura como crime eleitoral. Enfim, não há dúvidas de que a mentira faz parte do modus operandi da atuação política de Bolsonaro e de sua família.

É indiscutível que um importante fator que influenciou diversas pessoas a aderirem ao projeto bolsonarista é o desencanto com o que o senso comum chama de “velha política”. De modo geral, a “velha política” envolve a prática de oferecer cargos e favores em troca de apoio político, na tentativa de manter uma coalizão no parlamento para aprovar eventuais projetos e garantir certa estabilidade política. Esta prática está bastante associada ao famigerado “centrão” (políticos da tradicional direita neoliberal), este bloco de políticos burgueses que atuam orientados pelo mais vil fisiologismo, que foram base de apoio do golpe parlamentar contra Dilma Rousseff em 2016 e agora se apresentam como a “direita responsável” frente ao bolsonarismo.

Olhemos para a atual conjuntura. É inegável que a nova crise do coronavirus é o fato político que se apresenta como mais urgente na ordem do dia, estando o Brasil em uma situação calamitosa, apesar do incessante e valoroso trabalho dos nossos profissionais de saúde. Indo na contramão das orientações da Organização Mundial da Saúde, Bolsonaro aposta em uma política genocida de afrouxamento da quarentena para atender a interesses empresariais. Além desta crise sanitária de grandes proporções, uma crise política está claramente posta. Até o dia 24/04, havia um total de 29 pedidos de impeachment protocolados na Câmara dos Deputados contra Jair Bolsonaro, incluindo aí desde pedidos protocolados por partidos da oposição, como o PSOL, PDT, PSB e Rede, e passando por bolsonaristas arrependidos como MBL e Alexandre Frota. Naturalmente, a motivação por trás dos pedidos de impeachment são mais ou menos nobres a depender do campo político dos seus autores. Fato é que, com as recentes demissões do ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) e do ex-juiz (ladrão) e ex-(super)ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro, aliadas ao completo desastre que é atuação de Bolsonaro frente à crise do novo coronavirus, ele vem perdendo significativo apoio na sociedade, incluindo aí setores da pequena burguesia e das classes médias que ajudaram a elegê-lo. Estudos recentes apontam que 44,8% da população já apoia o seu impeachment e que os aproximadamente 30% que apoiavam seu governo que, de forma geral, constituem o “núcleo duro” do bolsonarismo, já caíram para 25,6%. Não podemos nos enganar: Bolsonaro ainda é capaz de manter uma expressiva base social mobilizada, porém não se pode ignorar estes dados recentes.

Diante desta situação, Bolsonaro aposta naquilo que ele sempre (hipocritamente) criticou: ele se aproxima do centrão. Na tentativa de barrar um processo de impeachment e compor uma base parlamentar estável, Bolsonaro move as peças do tabuleiro político e ensaia conversas com Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara e grande representante do centrão. Maia recentemente afirmou que partidos do centrão podem vir a construir uma base do governo na Câmara. A cadeira de Marcos Pontes no ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, o comando do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dncos) e a presidência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o controle do Banco do Nordeste e da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, uma secretaria no Ministério do Desenvolvimento Regional, dentre outros, já estariam sendo negociados . Bolsonaro não só não acabou com a “velha política”, como também a elevou a outro patamar. Pode-se dizer que ele comete um verdadeiro estelionato eleitoral ao ir frontalmente contra o que disse em campanha, ao negociar cargos estratégicos em troca de apoio político. Fica claro como água que de “nova política” Bolsonaro não tem nada. Afinal como poderia, tendo sido deputado federal por 28 anos e tendo passado por nove partidos diferentes (incluindo aí partidos do próprio centrão)?

Pois bem, é notório que Bolsonaro denunciou as práticas da “velha política” e do “toma lá, dá cá” durante sua campanha presidencial. Enchia o peito para falar iria selecionar seu corpo ministerial sem quaisquer indicações políticas, apenas por critérios técnicos. Que não cederia às chantagens dos partidos do centrão. Enfim, se colocava como o suprassumo da honestidade na política brasileira. Acontece que, por bem ou por mal, a realidade insiste em se impor e, inevitavelmente, a máscara de Bolsonaro começa a cair (nos sentidos figurado e literal). Ele certamente terá que fazer um malabarismo sem precedentes para se explicar frente aos seus apoiadores.

É dever da esquerda brasileira explorar e denunciar essas movimentações. A cada dia que passa, Bolsonaro revela que fará de tudo para não ser derrubado e para continuar com seu projeto ultraliberal e autoritário. É dever dos partidos de esquerda, movimentos sociais, sindicatos, entidades estudantis e todos aqueles comprometidos com a classe trabalhadora se reunirem em uma potente Frente Única para barrar a escalada golpista e derrubar Bolsonaro e Mourão.