Por: Karine Afonseca, de Brasília, DF
RELATOS DA LINHA DE FRENTE | Desde o início da pandemia, o presidente Bolsonaro e seus aliados tem minimizado as graves consequências da Covid19. Todo final de semana, os apoiadores do presidente fazem as “carreatas da morte” e compartilham diferentes Fake News sobre a doença. Nós, trabalhadoras da enfermagem, linha de frente no combate à pandemia, vendo tamanho descaso e irresponsabilidade daqueles que deveriam ter o papel de proteger e defender vidas, decidimos dizer um BASTA! PROTEJAM NOSSAS VIDAS!
Nesse 1 de maio, a partir da ideia de uma enfermeira intensivista, que trabalha em um dos maiores hospitais de Brasília, o sindicato dos enfermeiros- DF, COREN-DF e ABEN-DF apoiaram a iniciativa das trabalhadoras que se dispuseram a barrar o vírus do negacionismo, da ignorância, da violência e da Fake News, que se espalha com muita velocidade em nosso país.
Em um ato silencioso, vestimos nossos jalecos e máscaras, respeitamos as orientações de distanciamento social e levantamos cruzes pretas em homenagem às vítimas do coronavírus. As organizadoras colaram frases em nossas costas de defesa do SUS, defesa do isolamento social e lembrando os nomes dos profissionais de que morreram em combate. O sindicato levou faixas pedindo para que a população #fiqueemcasa e mantenha o isolamento social.
O nosso objetivo era exigir que o presidente Bolsonaro garanta as condições para o isolamento social, com o pagamento dos 600 reais aos brasileiros, com o fornecimento de EPIS em nossas unidades e com a valorização do nosso trabalho para além das palmas. Nós queremos o máximo de vidas salvas.
FOTOS DO ATO
Chegando à Praça dos Três Poderes, logo vimos meia dúzia de defensores do presidente, e conforme nos organizamos em colunas, estes se dirigiram ao nosso ato em tom provocativo, falando que “Nós éramos responsáveis pela pandemia, pois não ficamos em casa no carnaval”, “Fora Esquerda”, “Quem está pagando por esse ato?”, “Burros”, “Ignorantes” e outras agressões verbais. Escutamos todas em silêncio.
Encarávamos os agressores, não baixamos a cabeça, tínhamos o direito de ocupar aquele espaço, estamos tombando e não vamos nos calar diante de tamanha ignorância crescente nesse país, que faz a contaminação pelo vírus crescer, ajudando aumentar o número de mortes. Temos o dever de combater o coronavírus, o negacionismo e toda violência que ronda sua existência.
Do meio para o final do ato dois apoiadores de Bolsonaro acusaram uma das enfermeiras de dar o dedo para ele, foi o pretexto para começar a ameaçá-la de agressão física, chegando bem próximo dela, na tentativa de intimidá-la, acuando em gestos e palavras. Não ao acaso escolheram agredir uma mulher, figura conhecida como frágil ou indefesa em uma sociedade machista e patriarcal. A resposta veio novamente no silêncio, na firmeza do olhar contra o agressor e na ação corajosa de outra mulher, mostrando que quando lutamos, nunca andamos só!
Uma das diretoras do sindicato entrou na frente da enfermeira agredida e enfrentou o agressor. Depois desse momento, pensamos em nos dispersar, mas ainda faltava um momento do ato: a imprensa oficial divulgar nossa ação, então decidimos ficar. Mas ficar em segurança só foi possível após a chegada dos policiais.
Enquanto saímos em fila, os apoiadores filmavam e falavam que todos que estavam ali tinham chegado sem jaleco e que os mesmo foram distribuídos na hora, que uma moradora de rua recebeu um jaleco e dinheiro para fingir que era profissional de saúde, gritavam: “Cadê o CRM de vocês?”- Pensei: A ignorância é tamanha, que cobram o registro de médicos para enfermeiros -. Saímos conforme entramos: em silencio, defendendo vidas, pedindo as condições para o isolamento social.
Nesse 1º de maio conhecemos a força da enfermagem brasileira, vamos continuar nosso trabalho na linha de frente, nas unidades de terapia intensiva, nos asilos, na gestão e em todos os outros locais de trabalho que estamos localizadas para continuar garantindo a vida dos brasileiros. Concluo meu relato convicta na afirmação: “Lute como uma Enfermeira.”
*Karine é enfermeira em Brasília e faz parte da Resistência Feminista.
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