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BRASIL

Por uma campanha em defesa da segurança dos profissionais de saúde 

Jorge Alves, do Rio de Janeiro, RJ
Fotos: Andréa Rêgo Barros/PCR/Fotos Públicas

Temos acompanhado a dramática evolução da pandemia da Covid-19, que, no Brasil, concorre com a escalada da crise política. Enquanto os fatores sanitários e políticos se retroalimentam, os óbitos escalam e aumenta vertiginosamente a procura por hospitais. No Rio de Janeiro, em particular, vamos cruzando a fronteira do colapso do sistema de saúde

Essa situação coloca uma questão urgente. Há uma fração da classe trabalhadora que está na linha de frente do combate à pandemia e tem recebido dos governos um trato hipócrita e criminoso. Os relatos de profissionais de saúde dão conta da falta de condições mínimas de higiene e segurança para o trabalho mediante a exposição ao coronavírus. A escassez de EPI’s e testes para o pessoal das unidades de saúde corresponde a uma das demandas mais urgentes para o conjunto da tarefa de salvar vidas.

É certo que a precarização do Sistema Único de Saúde é um processo que vem de décadas, fruto da hegemonia do neoliberalismo. Pagamos todos nós, agora, o preço pelo gradual sucateamento dos serviços públicos, pela tendência à privatização (aberta ou mascarada) e pela terceirização e fragilização das relações de trabalho. No caso particular dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde, não é de agora que desempenham suas funções com muitas dificuldades e pouquíssima valorização profissional.

Mas a pandemia está elevando o que era penoso ao nível do insuportável. A falta de EPI’s de qualidade e em quantidade adequada para as trocas durantes os plantões e a ausência de testagem sistemática colocam os profissionais de saúde na dificílima condição em que trabalhar é nitidamente arriscar a própria vida. Quando isso se soma ao assédio moral, à ausência de adequado apoio psicológico e à insuficiência de leitos, cada unidade de saúde vai se transformando em uma panela de pressão.   

Todos nós poderemos precisar, cedo ou tarde, de atendimento hospitalar. Por isso, precisamos cercar de solidariedade os trabalhadores da saúde e unir forças para denunciar a negligência dos governos e gestores, exigindo solução emergencial para a falta de EPI’s e testes. Precisamos confrontar a hipocrisia desses senhores que, no melhor dos casos, fazem elogios e chamam aplausos ao pessoal da saúde, enquanto, na prática, os submetem irresponsavelmente a condições desesperadoras de trabalho.

São milhares de profissionais, em sua maioria mulheres e negras, que têm nomes, histórias e famílias, e que precisam estar vivas e saudáveis, porque é direito delas e porque delas dependemos para defender a vida de todo o povo. Estão crescendo de forma muito preocupante os registros de óbitos e de profissionais infectados, consequência evidente do descaso dos governos. 

No Rio de Janeiro, responsabilizamos Bolsonaro, Witzel e Crivella por cada profissional de saúde que adoeça ou venha a falecer em virtude das péssimas condições de segurança no trabalho. Embora haja um conflito político entre esses governos e, portanto, adotem discursos diferentes quanto à gravidade da situação envolvendo o Covid-19, nenhum desses governos se diferencia no que diz respeito a disponibilizar EPI’s, testes, condições de trabalho e valorização salarial emergencial dos profissionais de saúde.  

Por isso, é preciso organizar agora uma grande campanha que dê visibilidade às demandas dos profissionais de saúde, colocando suas necessidades no centro da polêmica em geral com os governos sobre a necessária resposta à pandemia, sob a lógica de que a vida deve ser protegida antes dos lucros. É simplesmente impossível salvar vidas sem contar com os e as profissionais de saúde. 

Os sindicatos e movimentos organizados de todas as categorias de trabalhadores, os partidos de esquerda e seus parlamentares, os coletivos de combate à opressão, intelectuais e todos aqueles e aquelas que estão conscientes da gravidade da situação devem unir forças para dar visibilidade às dificuldades enfrentadas pelo pessoal de saúde, a fim de denunciar os descaso dos governos e exigir deles a aquisição urgente de EPI’s, testes e leitos para todos e todas que estão na linha de frente. 

A demanda emergencial de EPI’s e testes, por sua vez, deve estar enquadrada em um programa para a crise, que aponte para interromper o desmonte do SUS, com a revogação da EC 95/teto de gastos e com investimentos maciços na saúde pública ao longo dos próximos anos e controle público dos leitos privados durante a pandemia. Igualmente, deve-se rechaçar a pressão de empresários gananciosos pela flexibilização da quarentena, cuja efetividade depende da ampliação dos mecanismos de renda básica. São medidas no sentido de conter o colapso do sistema de saúde, que, acompanhadas pela devida valorização salarial e de carreira, poderiam, a uma só vez, promover o respeito e a dignidade dos profissionais da saúde e atender o interesse geral da população.

Nas próximas semanas, há uma tendência incontornável de haver um salto na quantidade de casos e óbitos, o que consequentemente aumentará ainda mais a procura por hospitais, no Rio de Janeiro e em todo o país. Nesse período, precisaremos dar passos adiante na polêmica com os governos, trazendo a um plano superior a defesa da segurança dos profissionais de saúde. Toda iniciativa nesse sentido precisa ser estimulada e organizada, seja as de natureza informativa, jurídica, parlamentar , midiática, etc, para que cada profissional de saúde ouça em alto e bom som a voz uníssona dos movimentos sociais: vocês não estão sós!