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MOVIMENTO

1º de Maio: Qual o caráter do ato?

Sirlene Maciel e Mauro Puerro

O Primeiro de Maio é um dia de luta da classe trabalhadora e sempre foi marcado pela defesa dos direitos trabalhistas. Nesse momento de pandemia do Covid-19 em que se intensifica a crise econômica, política e social e que os governos atacam o conjunto das trabalhadoras e trabalhadores implementando seus planos de austeridade, incluindo os  ataques do bolsonarismo às liberdades democráticas, o 1º de Maio deveria ser um marco da unidade e resistência da classe e apontar uma saída para a defesa da vida e dos direitos trabalhistas.

Em meio ao isolamento social, as centrais sindicai vão organizar um Ato-Live, com a participação de dirigentes sindicais e artistas, que deveria ser unitário com o seguinte eixo: “Saúde, emprego, renda: um novo mundo é possível com solidariedade”. No entanto, no último dia 23 a imprensa noticiou que seis centrais (CUT, Força Sindical, CTB, UGT, CSB, Nova Central) haviam convidado figuras que representam o interesse do capital e da burguesia, como Fernando Henrique Cardoso, Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre, Wilson Witzel e João Doria para participar. Essa proposta de ampliar o ato inicialmente não foi acordada no Fórum das Centrais. Infelizmente, numa reunião no dia 27 foi definida por maioria. Tal atitude acaba com a unidade tão necessária e atenta contra a proposta de trazer para a cena central o protagonismo da classe trabalhadora, representada pelas centrais sindicais, entidades sindicais, movimentos populares, organizações juvenis e partidos comprometidos com a causa dos trabalhadores. 

Unidade de ação: é correto fazê-la e a conjuntura exige

A unidade de ação com setores da burguesia é parte do arsenal político da esquerda marxista. Diversas vezes, corretamente, foi utilizada na história da classe trabalhadora. Esta unidade não se faz em torno a um programa, pois não há acordo programático entre quem produz e quem controla os meios de produção. Ela se faz com um ou dois pontos de acordo em dado momento da realidade. 

Nesta conjuntura, diante da política fascista de Bolsonaro cuja finalidade é fechar o regime e acabar com as poucas liberdades democráticas, somos a favor de unidade de ação com setores da burguesia. Mais: achamos que ela é necessária e urgente. Mas isso se faz em base a um ponto de acordo: a defesa das liberdades democráticas e contra qualquer tentativa de golpe de Bolsonaro. Portanto, com este ponto de acordo, somos a favor da unidade com FHC, Maia, Alcolumbre, governadores, enfim todos e todas que se posicionem contra Bolsonaro e seu governo fascista. Inclusive é correto fazer atos, além de outras ações unitárias com esses setores.

Entretanto não é possível um bloco programático da classe trabalhadora com eles, pois não há acordo de programa. Maia, Alcolumbre, Dória, Witzel estiveram na linha de frente do desmonte da Previdência, da retirada de direitos trabalhistas, privatizações, corte de gastos na saúde, educação. O governador do Rio é mestre em defender e aplicar o extermínio da juventude negra da periferia. Mesmo no combate à pandemia, os acordos com eles são pontuais.

Frente única da classe trabalhadora: tarefa necessária

Unir as centrais, os sindicatos, os movimentos populares da cidade e do campo, as entidades da juventude, dos artistas, dos bairros, os partidos políticos do povo oprimido é fundamental na situação brasileira. Essa união, que chamamos de frente única, é um instrumento decisivo para apresentar uma saída de classe para a crise pela qual passamos. E é também instrumento importante para construir uma unidade de ação pontual com setores da burguesia.

Em um ato de 1º de Maio, cujo programa é a defesa de direitos, empregos, saúde pública, não existe acordo com FHC, Maia, Alcolumbre, Dória, Witzel. Eles defendem outro programa. O 1º de maio com um programa da classe, mesmo que seja “curto”, é um ato de frente única. Por isso essencialmente deve ser unitário com os mais variados e diferentes organismos da classe trabalhadora.

 Isso não significa secundarizar a unidade de ação ampla contra Bolsonaro. É correto as centrais, partidos e outras entidades da população oprimida fazer com urgência ato com FHC, Maia, Alcolumbre,  governadores e quem mais estiver a favor das liberdades democráticas. Mas que ocorra em momento separado do ato programático do 1º de Maio.  

Portanto é urgente uma batalha para alterar a decisão da reunião das centrais do dia 27 como vem fazendo a Frente Povo Sem Medo, o Fórum por Direitos e Liberdades Democráticas, além de outras entidades. A CUT, maior central do país, tem que estar na linha de frente desta luta. Há várias possibilidades para que se realize um ato de 1º de Maio da classe trabalhadora e outro amplo pelas liberdades democráticas.

Caso esta batalha não tenha sucesso, será necessário que todas as entidades e setores políticos que travaram essa posição se unam e realizem um ato-live da nossa classe em defesa da vida, do emprego, do salário, da saúde pública e levante a bandeira do Fora Bolsonaro e Mourão.

“O diabo mora nos detalhes”

“O diabo mora nos detalhes”, diz um ditado alemão. O detalhe neste caso é o que está implícito na convocação de um ato programático de 1º de Maio da classe trabalhadora com todos esses setores da burguesia brasileira. A linguagem implícita é uma característica do português brasileiro. Na verdade, o que está por trás de bloco programático com este leque tão amplo é a defesa de uma frente ampla eleitoral com estes setores ou parte deles. Algumas centrais defendem esta política, e ceder a isso é um erro. Achar que a saída para a povo trabalhador e oprimido é uma frente eleitoral com setores da classe dominante brasileira é acreditar em duendes, fadas e…diabos.

 

VÍDEO

Sobre a frente única e táticas unitárias, com Henrique Canary

 

 

  • Artigo alterado às 23h50 de 28/04.